“Tenho US$ 9.876,32 em hipotecas e títulos do tesouro”. “Ótimo. Você venceu.” Mas, seja como for, duvidamos disso.
Outro erro cometido na busca por conciliação com os secos (3) foi a resolução que proíbe servir bebidas alcoólicas para menores de idade. Ao contrário, a disposição deveria impedir que se servisse bebidas a indivíduos com mais de 30 anos. A função do álcool nunca foi ser uma boa companhia. São as más companhias que levam os jovens a praticar saudáveis loucuras. Trabalho e responsabilidade são coisas de adulto. O rum foi mesmo criado para a juventude, fase da vida em que a avidez por experiências é tamanha, que a realidade precisa ser borrada um pouco para não nos cegar.
Por acaso, caiu em nossas mãos recentemente um exemplar do jornal feito pelos estudantes de Harvard, no qual se lia: “O primeiro Encontro de Primeiranistas Fumantes será realizado hoje, às 19h45min, na sala da Associação. P. H. Theopold, 25 anos, Presidente do Comitê de Fumantes, atuará como Presidente, apresentando Clark Hodder, 25 anos, e J. H. Child, também 25 anos, respectivamente Presidente e Secretário da categoria. Após os discursos, exibir-se-á um filme e dar-se-á a apresentação de um excelente mágico. Serão servidos tônicos refrigerantes, biscoitos e cigarros. Todos os primeiranistas estão convidados a participar”.
Antes, esses encontros eram chamados de Noite da Cerveja e, neles, a possibilidade de se fazer amizade à primeira vista não era irreal. Mas temos certeza de que, com tônico refrigerante, ninguém faz amizade com ninguém. A ânsia por democracia não emerge de um refresco de limão. Os discursos têm tudo para serem péssimos, pois não haverá interrupções agradáveis do tipo “Ei, senta aí!”, do camarada da última fileira. Se alguém começar a cantar “P. H. Theopold é um bom companheiro…”, é provável que o faça sem muita convicção. Nenhuma vez, durante a noite, algum participante se limitará a dizer “Vá para o inferno, Yale!” e se retirará da mesa. Possivelmente, o mágico não conseguirá tirar nada da cartola a não ser um coelho simpático.
Embora não tenha nos chegado nenhum relato de fonte confiável a respeito desse Encontro de Primeiranistas Fumantes, estamos certos de que foi apenas uma reunião lotada e constrangedora de jovenzinhos que falaram pouco e logo foram para casa.
Mesmo no espírito dos abstêmios mais rígidos deve existir algum remorso pela morte do rum. Ou um sujeito que tenha vivido aqueles velhos e bons tempos não se lembrará da sensação de retidão moral que lhe foi conferida pela primeira vez em que ele disse “Para mim, só um cigarro”?
Apesar de terem nos deixado completamente sem rum, ainda temos as nossas memórias. Nem todos os dias de nossas vidas foram tristonhos. Lá nas primeiras páginas do nosso diário, está o registro da viagem que fizemos a Boston, com William F., no inverno rigoroso de 1907. Foi acertado que nenhum de nós poderia tomar o mesmo tipo de bebida duas vezes. William, determinado, chegou a 19 variedades, mas nós o superamos com 24. Um exame minucioso nos revelou que a entrada no diário foi escrita muitos dias depois. A letra também está um pouco tremida. Mas, se não fosse essa aventura, poderíamos ter vivido e morrido sem ter a mínima ideia do que seja um Angel Float4.
Naquela época, havia mais concórdia entre as pessoas. F. M. W. parece, em vários aspectos, um homem pouco sensível, mas foi ele que, um dia, calhou de estar na rotatória entre a rua 59 e a Broadway antes do amanhecer e parou para chamar a atenção dos passantes para a estátua de Colombo. “Olhem p’ra ele”, disse. “Cristóvão Colombo! Ele descobriu a América e depois o prenderam e mandaram de volta para a Espanha.”
Ele chorou, e então percebemos, pela primeira vez, que dentro daquele corpo tosco batia um coração de ouro.