Il dio-caprone - O deus-bode

Il dio-caprone

La campagna è un paese di verdi misteri
al ragazzo, che viene d’estate. La capra, che morde
certi fiori, le gonfia la pancia e bisogna che corra.
Quando l’uomo ha goduto con qualche ragazza
hanno peli là sotto il bambino le gonfia la pancia.
Pascolando le capre, si fanno bravate e sogghigni,
ma al crepuscolo ognuno comincia a guardarsi alle spalle.
I ragazzi conoscono quando è passata la biscia
dalla striscia sinuosa che resta per terra.
Ma nessuno conosce se passa la biscia
dentro l’erba. Ci sono le capre che vanno a fermarsi
sulla biscia, nell’erba, e che godono a farsi succhiare.
Le ragazze anche godono, a farsi toccare.

Al levar della luna le capre non stanno più chete,
ma bisogna raccoglierle e spingerle a casa,
altrimenti si drizza il caprone. Saltando nel prato
sventra tutte le capre e scompare. Ragazze in calore
dentro i boschi ci vengono sole, di notte,
e il caprone, se belano stese nell’erba, le corre a trovare.
Ma, che spunti la luna: si drizza e le sventra.
E le cagne, che abbaiano sotto la luna,
è perché hanno sentito il caprone che salta
sulle cime dei colli e annusato l’odore del sangue.
E le bestie si scuotano dentro le stalle.
Solamente i cagnacci più forti dàn morsi alla corda
e qualcuno si libera e corre a seguire il caprone,
che li spruzza e ubriaca di un sangue più rosso del fuoco,
e poi ballano tutti, tenendosi ritti e ululando alla luna.

Quando, a giorno, il cagnaccio ritorna spelato e ringhioso,
i villani gli dànno la cagna a pedate di dietro.
E alla figlia, che gira di sera, e ai figli, che tornano
quand’è buio, smarrita una capra, gli fiaccano il collo.
Riempion donne, i villani, e faticano senza rispetto.
Vanno in giro di giorno e di notte e non hanno paura
di zappare anche sotto la luna o di accendere un fuoco
di gramigne nel buio. Per questo, la terra
è cosi bella verde e, zappata, ha il colore,
sotto l’alba, dei volti bruciati. Si va alla vendemmia
e si mangia e si canta; si va a spannocchiare
e si balla e si beve. Si sente ragazze che ridono,
ché qualcuno ricorda il caprone. Su, in cima, nei boschi,
tra le ripe sassose, i villani l’han visto
che cercava la capra e picchiava zuccate nei tronchi.
Perché, quando una bestia non sa lavorare
e si tiene soltanto da monta, gli piace distruggere.

O deus-bode

O campo é uma terra de verdes mistérios
para o moço que veio veranear. A cabra, que morde
certas flores, fica com a barriga inchada e precisa correr.
Quando o homem goza com uma moça qualquer
que tem pelos lá em baixo, incha-lhe logo a barriga com um menino.
Pastoreando as cabras, fazem brincadeiras e zombarias,
mas ao crepúsculo cada um que se cuide.
Os moços sabem quando a cobra passou
pelo rasto sinuoso que deixa no chão.
Mas se a cobra passa dentro da relva,
ninguém se dá conta. Algumas cabras deixam-se repousar
sobre a cobra escondida na relva, e gozam ao serem chupadas.
As moças também gozam ao serem tocadas.

Ao nascer da lua as cabras já não ficam quietas,
mas é necessário reuni-las e tangê-las para casa,
caso contrário levanta-se o bode. Saltando no prado
ele esventra todas as cabras e desaparece. Moças no cio
vêm sozinhas dentro da mata, à noite,
e se balem deitadas na relva, o bode se avexa em encontrá-las.
Mas, assim que a lua aparece: levanta-se e as esventra.
E as cadelas, que latem sob a lua,
é porque ouviram o bode que salta
nas cimeiras das colinas e sentiram o cheiro de sangue.
As bestas se agitam dentro dos estábulos.
Somente os cães mais fortes mordem a corda
e alguns se soltam e correm perseguindo o bode,
que os borrifa e os embriaga com um sangue mais vermelho que o fogo,
e então todos dançam, eretos, em pé uivando à lua.

Quando, pela manhã, retorna o danado do cão, esfolado e grunhindo,
os camponeses o maltratam com chutes na culatra.
À filha, que sai à noite, e aos filhos, que voltam
quando escureceu, se uma cabra se perde, quebram-lhes o pescoço.
Emprenham as mulheres, os camponeses, e se afadigam sem respeito.
Saem de dia e de noite e não temem nem mesmo
pegar na enxada sob a lua ou acender uma fogueira
de ervas daninhas no escuro. Por esta razão, a terra
é assim tão bela verde e, lavorada, tem a cor,
sob a aurora, dos rostos queimados. Vai-se à vindima,
e se come e se canta; vai-se a debulhar o milho
e se dança e se bebe. Ouvem-se moças que riem,
porque alguém se recorda do bode. Lá em cima, na cumeeira, nas matas,
entre penhascos pedregosos, os camponeses o viram
procurando a cabra e dando marradas nos troncos.
Porque, quando uma besta não sabe trabalhar
e é mantido apenas como garanhão, apraz-lhe destruir.

Cesare Pavese

Cesare Pavese tinha 41 anos quando se suicidou em Turim (Itália), em 1950. A despeito disso, sua obra literária é vitalista. Por excesso de existência ou de consciência disto (a dor existencial), talvez se explique profundamente que tenha desistido da vida. Dois dos seus livros mais conhecidos glosam, respectiva e dialeticamente, a vida e a morte – Il Mestiere di Vivere (A arte - ou O ofício - de viver) e Verrà la morte e avrà i tuoi occhi (A morte virá e terá teus olhos).

Nascido em 1908, num lugarejo do Piemonte, escreveu uma poesia que é universal, humana, como uma das suas referências, a do estadunidense Walt Whitman (tema de sua tese de licenciatura). Sua luta contra os fascistas, que o leva a perseguição e prisão, é também uma afirmação desse vitalismo.

A morte, porém, esteve, pode-se dizer, onipresente na sua vida. Desde a infância, quando perdeu muito cedo o pai. Alguns intérpretes dão como certa que a sucessão de traumas e perdas e a intensa solidão interior explicariam o seu suicídio.

Além de poeta e romancista, da maior relevância foi o seu trabalho como tradutor (especialmente de autores norte-americanos) e editor (nomeadamente, na Editora Einaudi).

Alípio de Carvalho Neto

Alípio Carvalho Neto é pernambucano e vive em Grado, Província de Gorizia, Itália. Leciona no Master in Sonic Arts da Universidade de Roma 2 Tor Vergata. Nesta mesma universidade, concluiu em 2014 o doutorado em “História, Ciências e Técnicas da Música”. É poeta, tradutor e pesquisador. Seus poemas foram publicados pelas Edições Jean-Fabien G. Phinera (Paris), e em diversos jornais de poesia e revistas literárias.

Autor: Césare Pavese. Tradução: Alípio de Carvalho Neto