O Prêmio Nobel ganho por Orhan Pamuk em 2006 despertou tardiamente o interesse pela literatura turca no Brasil. Até então, sequer havia traduções diretas do idioma para o português – mesmo as edições do autor nascido em Istambul publicadas pela Companhia das Letras eram vertidas do inglês.
Uma pena, levando em conta a presença da comunidade turca e sua cultura no país, mas nada de se estranhar, levando em conta o pequeno intercâmbio comercial que havia até então entre os dois países e o fato de que, até 2009, nenhum presidente brasileiro havia visitado a Turquia – antes de Lula, só o imperador Pedro II o fizera, em 1875.
Algo de se lamentar, no entanto, se olharmos para a relevância de sua literatura, uma das mais tradicionais do mundo. O primeiro registro escrito em língua turca aconteceu ainda no século VIII. Do século XI remontam os primeiros poemas épicos na língua.
Os primeiros textos de que se tem notícia surgiram na Anatólia, península banhada pelo Mar Negro ao norte e pelo Mar Mediterrâneo ao sul, ainda sob domínio mongol. São os famosos “escritos de Orcom” (grafados em pedra ainda no alfabeto turco antigo, chamado de goturco), descobertos no vale homônimo na Mongólia.
Entre o final do século XIII e o início do século XX, a literatura em língua turca viveu seu apogeu durante o Império Otomano, que à época incluía partes da Europa, Ásia e África. Apesar da forte influência árabe e persa, a literatura turca soube preservar seu idioma que, a despeito de certo isolamento, mantém-se vivo e culturalmente relevante no mundo.
O tema do “isolamento”, aliás, é recorrente na obra do mais importante dos romancistas turcos. Antes do recém-lançado Noites de peste, que tematiza a chegada da epidemia numa ilha ficcional banhada pelo Mar Mediterrâneo, Orhan Pamuk contou em Neve (Companhia das Letras, 2006) a história de um homem que viaja a uma pequena cidade turca para investigar uma série de suicídios entre jovens muçulmanas e acaba isolado lá por uma nevasca.
O autor é expoente da nova geração surgida no início do século XX como reflexo da ocidentalização da Turquia, com uma produção literária marcada pelo realismo social e pela voz crítica em relação à tradição e ao modo de vida no mundo islâmico.
Para a pesquisadora Azade Seyhan, professora da Universidade Bryn Mawr, nos EUA, “a história da literatura turca moderna é um vasto tesouro que permanece em sua maior parte ainda inexplorado”. Autores como Ayse Kulin, Nazli Eray, Buket Uzuner, Yusuf Atilgan e Alev Alatli são parte deste imenso manancial a ser descoberto.
Oya Baydar, nascida em Istambul nos anos 1940, doutora em sociologia pela universidade local, é autora de Um portal para Istambul (Sá Editora, 2023), que narra a viagem do personagem Theo em busca de um misterioso portal encoberto por séculos na cidade.
Nascida na capital Ankara em 1955, Buket Uzuner, eleita uma das 75 mulheres mais influentes da Turquia, é autora de Two green otters (Everest Yayınları, 2013), que acompanha a trajetória de uma jovem em busca de amor e aceitação. O romance é parte de uma vasta obra, ainda inédita no Brasil.