A delegação de poetas brasileiros participa desta quinta-feira (18) até quarta-feira (24) do 81th International Youth Poetry Festival in China (81º Festival Internacional de Poesia da Juventude na China), organizado pela Associação Chinesa de Escritores, nas cidades de Pequim e Hangzhou. Ana Rüsche, Cida Pedrosa, Júlia de Carvalho Hansen, Lubi Prates, Luiza Romão, Rodrigo Luiz P. Vianna e Thiago Ponce de Moraes vão se juntar a 30 jovens poetas chineses e 43 de outros países que formam o Brics - Rússia, Índia e África do Sul.
Durante uma semana, eles cumprirão uma agenda que inclui um seminário sobre a inovação na poesia, leitura de textos, lançamento de uma antologia, visita a museus e localidades históricas, como a Grande Muralha e a Cidade Proibida. Os participantes foram convidados a escrever um ensaio sobre o tema para debaterem no seminário. Recriar a linguagem é uma das perspectivas da escrita poética. A poesia amplia a linguagem, portanto amplia o nosso mundo.
“Eles escolheram escritores que têm uma atuação contemporânea e que receberam premiações”, diz a poeta pernambucana Cida Pedrosa, vencedora do Prêmio Jabuti de melhor livro de poesia e livro do ano por Solo para Vialejo (Cepe Editora), em 2020.
“Eu tenho uma relação muito forte com o consulado da China do Recife, tanto do ponto de vista cultural quanto político. E também concedido entrevistas ao Diário Popular da China, tanto como poeta quanto como política”, disse a poeta, que é também vereadora pelo Recife.
Ana Rüsche, Lubi Prates e Thiago Ponce de Moraes foram finalistas do Prêmio Jabuti, já conquistado por Cida Pedrosa e Luiza Romão. Rodrigo Luiz P. Vianna recebeu o Prêmio da Fundação Biblioteca Nacional. Cida Pedrosa ainda recebeu o Prêmio Guerra Junqueiro Lusofonia e APCA; enquanto Luiza Romão é semifinalista do Prêmio Oceanos. Lubi Prates também é finalista do Prêmio Rio de Literatura.
Cida enumera os motivos para comemorar a participação no festival de poesia jovem. “Estou muito feliz com o convite. Primeiro, por causa da geopolítica do Brics em confronto a países hegemônicos politicamente. É muito bacana a gente que é do Nordeste ir para o outro lado do mundo, mas que do ponto de vista cultural não é tão distante assim. A xilogravura começou na China. Eles utilizam uma rima muito própria que tem muita sonoridade, tem muito a ver com o canto, como nossas cantorias. Eles fazem poemas com longas narrativas. Temos muito isso no Nordeste. Meus dois últimos livros são duas longas narrativas - Solo para vialejo e Araras Vermelhas”, diz Cida, buscando os pontos de contato entre o Brasil e a China.
O festival tem como mote um verso do poeta clássico Zhang Jiuling (673–740), "Time Together Across The World". (Tempo juntos em todo o mundo). “Esta citação representa a nossa grande expectativa pela poesia, os nossos votos apreço pela juventude e o desejo de amizade”, explica o comitê organizador. A seleção de poemas dos participantes será reunida em antologia, com tradução ao chinês.
“Os poemas que eu mandei, que vão sair na antologia são do livro Gris, publicado pela Cepe Editora. Eu achei que os poemas mais curtos eram mais fáceis de traduzir. Eu tentei escolher textos que tivessem uma maior facilidade de tradução”, explica Cida, a veterana do grupo, com 60 anos. “A maioria dos escritores brasileiros está na faixa dos 40-45 anos. Luíza Romão tem 32 anos”.
Ana Rüshe volta à China após ter participado da 81ª Convenção Mundial de Ficção Científica (Worldcon), em Chengdu, com 80 escritores diferentes. ”A participação causou um impacto grande em minha escrita e até trouxe novas formas de pensar a própria produção. Retornar, à convite da poesia, vai ser emocionante, inclusive por viabilizar o contato com tradições com as quais não possuo familiaridade. Voltarei com os cadernos cheios", diz Ana Rüsche.
OS POETAS POR ELES MESMOS
Ana Rüsche (São Paulo, SP, 1979)
Autora de Furiosa e Nós que adoramos um documentário, entre outros livros de poesia. Finalista do Jabuti com a novela A telepatia são os outros. Tem pós-doutorado em Teoria Literária pela Universidade de São Paulo e cursa o segundo doutorado na Universidade de Brasília, com ênfase em ecologia e literatura. Lança em agosto Ferozes melancolias, ensaios sobre o amor, a viagem e a escrita, pela Rua do Sabão, inclusive contando de sua primeira viagem para a China. Em 2025, lança romance pela Rocco.
Cida Pedrosa (Bodocó, PE, 1963)
É autora do livro Solo para Vialejo, vencedor do Prêmio Jabuti 2020 nas categorias Livro do Ano e Livro de Poesia e do livro Araras Vermelhas, Melhor Livro de Poesia de 2022, pelo Prêmio APCA e finalista do Prêmio Jabuti 2023. Vencedora do Prêmio Guerra Junqueiro Lusofonia 2023. É advogada de direitos humanos e Vereadora do Recife pelo Partido Comunista do Brasil (PCdoB). Lança em agosto a segunda edição do livro Claranã, escrito em métricas e rimas de cantoria de repente, semifinalista do prêmio Oceanos. Em 2025, vai lançar o livro de poemas Ruah pela Companhia das Letras, construído a partir das memórias de infância.
Júlia de Carvalho Hansen (São Paulo, SP, 1984)
Poeta, astróloga e professora. Foi editora na Chão da Feira, casa independente coordenada por mulheres, por onde lançou Seiva veneno ou fruto e Romã, seus livros mais recentes. Estudou Letras na Universidade de São Paulo e é mestre em Estudos Portugueses pela Universidade Nova de Lisboa. Seu quinto livro de poemas, Ano passado, vai ser publicado pela Nós, ainda em 2024. Trata-se de um livro de memórias, em que as fronteiras entre o diário e o poema são borradas.
Lubi Prates (São Paulo, SP, 1986)
Poeta, editora, tradutora, curadora de literatura e psicóloga. Seu livro um corpo negro foi finalista do Jabuti e do Prêmio Rio de Literatura. Foi editora da Nosotros, publicando mulheres em edições bilíngues (português-espanhol) e é editora da Nossa editora, para publicação de autores negros. Doutora em psicologia pela Universidade de São Paulo. Prepara com Ana Rüsche o livro Inesquecíveis — quatro séculos de poetas brasileiras, uma obra crítica, com antologia de poemas, para a Bazar do Tempo. Previsão: 2025.
Luiza Romão (Ribeirão Preto, SP, 1992)
Poeta e atriz, autora de Sangria, Nadine e Também guardamos pedras aqui (vencedor do Prêmio Jabuti de Melhor Livro de Poesia e Melhor Livro do Ano; e Semifinalista do Prêmio Oceanos). Mestra e doutoranda em Teoria Literária e Literatura Comparada pela Universidade de São Paulo. Pesquisa poesia e performance.
Rodrigo Luiz P. Vianna (Porto Alegre, RS, 1981)
Autor de Textos para lembrar de ir à praia, ganhou o Prêmio Alphonsus Guimaraens da Fundação Biblioteca Nacional. Fez o Curso Livre de Preparação de Escritores, além de ter criado o podcast Poesia pros ouvidos. É jornalista e professor. Seu segundo livro, Não era uma cidade, sairá pela Laranja Original em 2024.
Thiago Ponce de Moraes (Rio de Janeiro, RJ, 1986)
Poeta, professor e tradutor, publicou, entre outros, os livros de poemas Espacelamentos (2023) e Dobres sobre a luz (2016), finalista do Prêmio Jabuti; e a seleção de poesia bilíngue Glory Box. Doutor pela Universidade Federal Fluminense com trabalho sobre a obra de Paul Celan, é docente e pesquisador no Instituto Federal do Rio de Janeiro. Coordena o projeto de leitura e difusão de poesia na página @poemateca do Instagram. Publicará a plaquete de poesia Limites do diáfano, pela editora Primata.