Jessé Quirino, Luiz Gonzaga e IA no segundo dia da Fliporto

Nesta sexta, feriado da Independência, a Festa Literária Internacional de Pernambuco terá uma pauta variada, com discussões sobre literatura e inteligência artificial, lançamento de livro e mais.

Raimundo Carrera é um dos homenageados da Fliporto em 2024.
Raimundo Carrera é um dos homenageados da Fliporto em 2024.

A tarde deste feriado será repleta de reflexões na 13ª edição da Festa Literária Internacional de Pernambuco (Fliporto), que contará, a partir das 14h, com a palestra “Literatura e Inteligência Artificial”, conduzida pela professora e jornalista Iara Lemos e pelo presidente do Porto Digital, Pierre Lucena. 

Em seguida haverá o lançamento do livro Luiz Gonzaga: 110 Anos de Nascimento e a palestra “Luiz Gonzaga, o pernambucano do Século”, ambos realizados pelo escritor Paulo Wanderley. Para finalizar o dia, palestra-show de Jessé Quirino com base no seu novo livro: “Eu parece que estou vendo”. 

Rosiska Darcy e a urgência do tempo

As atrações do primeiro dia da feira, na quinta, 14, mostraram a importância de eventos do tipo, para que se possa debater a literatura e temas da atualidade fora das academias. 

A escritora, ensaísta e membro da Academia Brasileira de Letras (ABL), Rosiska Darcy, fez um reflexão profunda na conferência “Os Tempos que Correm”, mostrando que o último século trouxe avanços tecnológicos cruciais, mas que os mesmos, até agora, só nos deixaram num impasse.

“No século passado descobrimos que o maior problema que teríamos que enfrentar éramos nós mesmos, diante dos anúncios de que estávamos esgotando a natureza, as fontes renováveis, o planeta”. E com o tempo, continuou ela, com o surgimento da internet, dos ciberespaços, “tivemos que nos deparar com um dia de 24h insuficiente para abrigar todas as tarefas necessárias. Um dia que se estende pela madrugada.”, afirmou

Segundo Rosiska, em menos de duas décadas a tecnologia mudou tudo. “Hoje falamos do antes e depois da internet”, explicou a acadêmica, citando um artigo publicado pelo professor da Universidade de São Paulo (USP), Eugênio Bucci.

“A tecnologia que programa um robô para que se comporte como um ser humano, capaz de simular emoções que não sente, porta-voz de informações falsas e contaminadas de preconceitos, disseminadoras de ódio, é também capaz de programar um ser humano para que se comporte como um robô ignorante, preconceituoso e odiento. Paradoxo: robôs com linguagem de humanos, com sucesso, nos tratando como objetos”. 

Ela afirmou, ainda, que os algoritmos influenciam na criação de um pensamento binário. “Like ou deslike? Os algoritmos são perigosos porque são maus conselheiros. Uma resposta, às vezes, antecede uma pergunta. Isso é arte. A tecnologia que criou um robô é também capaz de programar o ser humano para ser um objeto, um ser irracional, um intolerante”, afirmou. “Os engenheiros do caos que ajudam a legitimar pelo voto democrático os inimigos da democracia".

Carrero e sua prosa intensa 

Com mais de 20 romances publicados, o escritor Raimundo Carrero, um dos homenageados dessa ediçao da Fliporto, é o que se pode classificar de um homem carismático, visceral, que durante o debate com o escritor e editor das revistas Continente e Pernambuco, Mário Hélio, e com a cineasta Luci Pereira, demonstrou os motivos de ter se tornado um dos nomes de destaque da literatura contemporânea. 

“A literatura não pode fazer bem a ninguém, a arte não é para tornar a vida bela, se não for assim, não é uma inspiração”, disse o autor de romances como Bernarda Soledade, a tigre do Sertão; O amor não tem bons sentimentos e Minha Alma é irmã de Deus(que venceu o prêmio São Paulo de literatura em 2010).

Sempre polêmico, Carrero ensinou que para ser escritor é preciso não ter medo das palavras nem do que se pense delas. “Não existe inspiração. O que existe é uma eclosão  que nos obriga a colocar para fora o que estava se processando.”

Ele também falou dos novos projetos, inclusive do título do próximo livro que está escrevendo: A vida é traição, cujo subtítulo, explicou, será Cartas ao Mundo. “Todo escritor que esta escrevendo está pedindo socorro ao mundo”, desabafou Carrero.

SERVIÇO

13ª​ Edição da Festa Literária Internacional de Pernambuco

De 14 a 17 de novembro

Mercado Eufrásio Barbosa, Largo do Varadouro, S/N

Varadouro – Olinda

Horários: Quinta e sexta-feira das 14h às 19. Sábado e domingo das 10h às 19h.