Eu lhe digo que a cidade,
minha amiga, a urbanidade
é quem enlouqueceu.
As canções abrem a boca,
que a cidade é muito louca,
não eu, não eu, não eu.
Não somos nós, as casas voam,
viadutos como soam
baladas de aço e pó.
Por entre os dentes das esquinas,
quem se perde entre as buzinas
vai só, vai só, tão só.
Não sei teu nome, não me diga,
eu vou esquecer logo em seguida,
é a névoa do neon,
arranha-céus, sexo, amplitude,
aceite um chope, a flor da urbe
é o som, é o som, é o som,
que vem de dentro e vem de fora,
é guerra, o cérebro te implora
esquecimento e breu.
Se os trens vagueiam de ansiedade,
ah, minha amiga, a urbanidade
é quem enlouqueceu.
Silvio Roberto de Oliveira é poeta, romancista, dramaturgo e geólogo. Autor de Modo Nordeste, Saveiro do inferno, Quixotinadas - Cruzaventuras sertanholas, Terrabalada, entre outros.