A reunião técnica havia permitido camaradagem com o Presidente dos Correios cubanos, que mandaria para o México os dois grandes sacos de livros que eu havia acumulado.
Uma funcionária do Ministério da Cultura nos levou à casa de Hemingway, ao teatro, ao museu com obras de Wifredo Lam, sempre interessada em tudo o que fazíamos, e não sabíamos se a extrema gentileza incluía a obrigação de nos vigiar. Mas que risco isso poderia trazer?
Hospedados no Hotel Riviera, um dia recebi uma chamada. Aceitaria o convite para descer ao quarto número tal do mesmo hotel? Havia entre os diplomatas, um encarregado de Brasil. Ouvi tudo, inclusive sobre as vantagens do comércio recíproco. Nada tinha a dizer.
À medida que a saúde de Tancredo se agravava, sentíamos o nervosismo local. Sem que os telefones funcionassem sequer para me comunicar com a Embaixada no México, outro contato passado por amigos se tornou nossa melhor fonte de notícias: o correspondente da France Press.
Saímos de Cuba no dia da morte de Tancredo, 21 de abril, e um dia depois de um consenso na reunião técnica sobre a nova constituição do organismo e sobre o Correio Aéreo Acelerado.
Ironia que tenha levado seis meses o transporte dos livros. Lento também foi o processo de restabelecimento das relações diplomáticas. Já em Brasília, encarregado de um setor de planejamento ligado ao Gabinete, recebi a incumbência de minutar a exposição de motivos a ser enviada à presidência, primeiro passo para a mudança da posição brasileira.
Um dia, em Miami, recebo mensagem pelo Facebook do produtor musical que nos havia introduzido a todo um mundo da música de seu país. Num almoço em nossa casa, soubemos do inferno após nossa passagem, que começou com uma investigação sobre como e por que ele havia conhecido o diplomata brasileiro. Aproveitando um show, veio para São Paulo, via México, com sua família, que agora emigrava para a Flórida.