Segundo alguns estudiosos, em seu livro Augusto dos Anjos e sua época, infelizmente, há ausência de datas nos documentos, o que configura uma falta de método de pesquisa importante, gerando imprecisões e mesmo a necessidade de repetição do levantamento, isso quando há documentos originais disponíveis.
Augusto dos Anjos recebeu as primeiras lições e até os ensinamentos para o exame admissional em Direito de seu pai, Alexandre Rodrigues dos Anjos, que alimentava ideias abolicionistas e republicanas, possuindo vasta erudição (sua mãe, Córdula de Carvalho Rodrigues dos Anjos, era conhecida por Sinhá-Mocinha e vinha de uma família de senhores de engenho).
A família foi uma das muitas proprietárias de engenhos que vivenciaram de perto a ruína de um mundo, em meio à mudança do eixo econômico do Nordeste para o Sudeste, em décadas marcadas pela Abolição da Escravatura, Proclamação da República, entre outros eventos importantes naquele chamado período de modernização do Brasil.
Para realizar o curso de Direito, Augusto dos Anjos se transferiu a Pernambuco, onde estudou na prestigiosa faculdade do Recife, destacando-se como um aluno aplicado, merecedor de média 9 em seus boletins, de acordo com os registros acadêmicos. No entanto, contrariando o desejo do pai, não seguiu a advocacia – preferiu o magistério. Em busca de melhores oportunidades de trabalho e salário, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde fez colaborações para periódicos e publicou poesias.
Como professor, lecionou Geografia na Escola Normal, depois, no Instituto de Educação e no Ginásio Nacional. Em, foi nomeado professor de Geografia no Colégio Pedro II. Para complementar a renda, foi professor de preparatórios para o Curso de Admissão, deu aulas particulares, oferecendo-se para dar aulas em anúncios de jornal desde quando ainda morava em João Pessoa, continuando a publicá-los na imprensa quando morou no Recife e no Rio de Janeiro.
Para Del Candeias, que o leu aos 13 anos e que publicou, em 2020, Augusto dos Anjos: um moderno entre os “ismos” (Desconcertos), derivado de sua tese de doutorado, o poeta mistura elementos de muitos estilos – Romantismo, Realismo-Naturalismo. Parnasianismo, Simbolismo – e a saia apertada das classificações literárias, e mesmo o amálgama presente na academia em relação a essas classificações, afasta o reconhecimento do poeta, um ser inquieto a pensar o universo, como modernista.
“Eu o compreendo como alguém que traz uma poesia única, num momento em que ela estava estagnada, aparecia de modo muito floreado, uma poesia de salão. Ele surge e parece dizer que fará algo singular, que poderá não ser aprovado e mesmo ser considerado horrível, mas que será um choque e nunca mera repetição.”
Para o professor do Departamento de Letras da Universidade Federal de Pernambuco, Anco Márcio Tenório Vieira, não há dúvidas. “Augusto dos Anjos é o único poeta bem-sucedido da Poesia Científica!” – uma classificação ausente dos manuais de literatura. “Há muito pouco escrito sobre isso. A partir de 1870, existiu no Brasil a Poesia Científica, uma corrente vinda da França, meio ofuscada, que era uma espécie de Realismo na Poesia. Augusto dos Anjos veio dessa tradição e era, possivelmente, o produto mais bem-acabado dessa corrente, tendo por isso mesmo sobrevivido e, outros, virado pó. Euclides da Cunha foi na prosa científica o que Augusto representou na poesia”, defende. Segundo o professor, foi a última Flor do Lácio, o último suspiro da segunda metade do século XIX, e, particularmente, dessa geração de 1870. Para ele, a historiografia tem lacunas e não cita a poesia científica, possivelmente porque eram todos os seus representantes muito ruins.
“Augusto dos Anjos não é um dos meus prediletos. Não consigo gostar de sua poesia escatológica. Tinha um linguajar precioso, criou imagens poderosas, soube usar as terminologias da biologia, da psiquiatria, causando grande impacto no leitor, uma poesia tão forte, que conseguiu sobreviver aos modernistas da década de 1920 que tentaram, inclusive, desclassificar seus poemas, causando até constrangimento para quem dissesse gostar daquela produção.”