"Sempre me considerei uma pessoa que diz poesia junto com a música"

Em entrevista ao site da revista Pernambuco, o cantor, compositor e poeta Lirinha, que se apresenta no Festival Riomar de Literatura, fala sobre a sua relação com a literatura

A literatura sempre esteve presente na vida do cantor e compositor José Paes de Lira, mais conhecido como Lirinha. Vocalista de uma das bandas míticas do pós-Mangue, Cordel do Fogo Encantado, ele despontou como declamador ainda criança. Aos 12 anos, já tinha seu talento como intérprete reconhecido. E foi com essa verve literária em seu DNA, que ele construiu sua carreira como artista.

Nesta quinta-feira (24), Lirinha apresenta-se, com o show que celebra seus 35 anos de carreira, na 11ª edição do Festival RioMar de Literatura, que acontece a partir das 16h, no Teatro RioMar, no Recife. Tendo como homenageado o escritor Marcelo Rubens Paiva (Ainda estou aqui, Feliz ano velho), a programação conta ainda com as participações do influencer literário Pedro Pacífico (@bookster), da jornalista Daniela Arrais (@contente.vc) e da cantora Isadora Melo, reunindo literatura, música e ações sociais.

Autor dos livros O Garoto Cósmico (2007) e Mercadorias e Futuro (2008), nesta entrevista ao site da revista Pernambuco, Lirinha fala sobre a sua relação com a leitura, com a poesia popular e sobre novos projetos, tanto na música, quanto na literatura, como o livro de poemas que está preparando e uma série televisiva sobre João Cabral de Melo Neto, que vai apresentar e declamar poemas.

Gostaria que você falasse sobre essa apresentação no Festival RioMar de Literatura.
— Eu apresento o espetáculo que eu estou circulando agora, que é o José Paz de Lira Canta Lirinha. E ele é um espetáculo que faz um recorte de toda a minha trajetória, tanto dentro da música como a relação com a poesia. Então, é um espetáculo que tem uma dinâmica que eu posso trazer mais elementos dessa história, no caso, mais poesias. Então, estou construindo uma apresentação diferente, especial, pelo contexto do festival. Então, é música e poesia, poesia da minha história.

É o mesmo que você apresentou no Teatro do Parque em dezembro, não é isso?
— O mesmo que eu apresentei em dezembro. Mas eu faço sempre algumas mudanças no repertório, nas poesias que eu interpreto, mais ligado ao contexto, à situação do evento. No caso, nesse, eu vou focar nesse aspecto da literatura. E então estou construindo esse espetáculo dessa forma. Mas é o mesmo que eu fiz em dezembro, no Teatro do Parque.

Tem alguma poesia, por exemplo, que você possa adiantar? Algum poeta que você vai interpretar? Ou você vai deixar como surpresa?
— É um espetáculo em que sempre eu trago as minhas primeiras poesias de declamação. Então o poeta Chico Pedrosa, que foi o meu grande mestre de declamação, ele está nesse espetáculo, eu sempre interpreto alguma poesia dele. Tem alguns poetas importantes da minha história como declamador, como é o caso de Alberto da Cunha Mello. Também interpreto Micheliny Verunschk. E sempre Zé da Luz, também um poeta que eu gravei no Cordel do Fogo Encantado e se tornou, também, uma pessoa muito importante na minha vida. Esses poetas, com certeza, e trarei poesias autorais também, mas sempre deixo um espaço, uma abertura, para, num momento, fazer uma escolha de poesias que eu tenho decorado. Porque, às vezes, vem uma ideia a partir da relação com a plateia, com aquele momento, que não dá para programar. E nesse espetáculo, até estimulei que existisse esse espaço para que eu trouxesse poesias que geralmente não digo, e aí eu vou fazendo o rodízio delas, dentro das apresentações.

Você tem ideia de quantos poemas tem memorizados?
— Olha, uma vez eu tentei fazer essa conta, poeta por poeta, quanto eu sabia de cada um. Eu não sei o que dizer. Mas é uma centena de poesias. Não chega aos meus grandes ídolos, mestres, como Zé de Cazuza, que, até, na última vez em que a gente se encontrou, ele me incluiu na categoria dos memorialistas. Mas eu não chego a ter a quantidade de Zé de Cazuza, Patativa do Assaré, que eu conheci ainda criança, tinham de acervo decorado, que eram quase mil poesias. Mas eu acho que tenho uma centena delas.

Então, você o conheceu pessoalmente. Como foi?
— Esse espetáculo, por exemplo, que comemora 35 anos de carreira, chama a atenção de muitas pessoas, porque parece muito tempo. Mas é que eu comecei criança. Então, com 12 anos de idade, que é o que eu considero o primeiro movimento profissional, vamos dizer, artístico, meu, foi um convite que eu recebi para o 4º Congresso de Cantadores do Recife. Era a volta do governo Arraes. Essa apresentação foi em 1989, eu tinha 12 anos de idade. Era Ariano Suassuna na secretaria, e eles retomaram um festival que tinha sido pausado no primeiro governo Arraes, deposto pela ditadura militar. Então, começo a conta nessa noite, nesse dia. E a minha função era algo que desapareceu um pouco do nosso vocabulário, mas era declamador. Era uma função bem estabelecida no circuito dos cantadores. No intervalo entre os repentistas, entrava um declamador que dizia poesias decoradas. Na estrutura da poesia popular do sertão nordestino, o que identificamos hoje na literatura de cordel, às vezes, eram poesias que nem tinham sido publicadas, que a gente decorava pelo processo de oralidade. Então, do grupo de declamadores dessa época, final dos anos 1980, 1990, o maior nome era Patativa do Assaré. E ele tinha feito, inclusive, uma, vamos dizer, expandiu essa performance, porque ele começou a improvisar, nesses momentos de declamação. O Patativa, no final da vida dele, estava respirando poesia, como se ele tivesse entregado a existência dele à poesia. Ele tinha uma consciência enorme de que ele era um representante dos sonhos, dos anseios, das ilusões e desilusões de toda uma população. E era isso, ele era uma poesia andando, respirando. E eu tive essa sorte, esse prazer de conhecê-lo, no Festival de Violeiros de Arcoverde, da cidade em que eu morava, em que eu nasci. Eu até costumo contar essa história que me impressionava muito, que, em Arcoverde, ele era essa pessoa que sabia mais de mil poesias, mas esquecia o número do quarto do hotel em que estava hospedado. E isso me deixava muito impressionado, como é que a memória dele poderia ser para umas coisas, e para outras não.

Você começou a ter contato com a poesia popular, que tem essa característica da oralidade, mas a sua relação com a literatura vai além da poesia, você gosta também de romances, gosta da prosa. Quais foram os livros que te marcaram nessa fase de primeiros contatos com a literatura?
— Olha, eu sou muito próximo, cresci junto, em Arcoverde, de Micheliny Verunschk. Então, somos vizinhos em Arcoverde, somos compadres. Eu sou o padrinho da filha dela e ela da minha filha. Eu sempre tive ali, com Micheliny, uma relação de intercâmbio de livros que chegavam para a gente. Fomos muito influenciados pela obra de João Cabral e, a partir disso, toda uma literatura, uma prosa, tanto mais próxima nossa, que eu considero de escritores fundamentais, hoje, na literatura brasileira, como é o caso de Marcelino Freire e também outros autores daqui do Sudeste, de outras regiões, que a gente estava acompanhando esse processo todo, muito empolgados com essa relação com a literatura.

Eu considero tanto a literatura de Xico Sá, como a de Marcelino, a de Micheliny, muito influentes na minha vida. Mas é interessante que, quando eu recebi o convite para esse evento, eu pensei um pouco sobre o Marcelo Rubens Paiva, entendendo essa existência dele como autor criativo no Brasil. E eu também passo pelos livros de Marcelo, no começo da década de 1990. Até comecei a pensar que, hoje, percebo que muito de um movimento cultural que teve sua maior força nos anos 2000 é influenciada pelos primeiros livros de Marcelo Rubens Paiva. Acho que faz parte de uma construção de identidade, esses autores que vão nos apresentando caminhos e também novidade, na criação dessa linguagem brasileira. Hoje, a gente já consegue entender uma língua brasileira, e esses autores que citei para vocês são fundamentais nessa construção de uma literatura nacional.

Você começou a declamar aos 12 anos. E a escrever? Foi nesse período também?
— Eu começo a escrever quando me envolvo com o teatro. Acho que a partir de 1997. Em 1999, eu estreei o espetáculo Cordel do Fogo Encantado, que, antes de ser uma banda, era um espetáculo de teatro, mais fortemente ligado à poesia. E os textos são meus. As letras do Cordel do Fogo Encantado, na sua maioria, são composições minhas. Eu também, nesse período, escrevo uma ficção chamada Mercadorias e Futuro, e também escrevi um livro infantil, em parceria com o Ale Abreu, chamado Garoto Cósmico. Começo hoje a ter um cuidado maior com os meus acervos para que eu consiga organizar as publicações deles. Estou vivendo um período de muito amor à palavra escrita, pretendo atuar mais nesse lugar de publicações.

Mas você só começa a escrever a partir do Cordel do Fogo Encantado? Antes você não escrevia poemas?
— Sim, sempre fiz meus poemas. Eu até comecei a ver umas coisas hoje, pessoas declamando poesias de quando eu tinha 16, 17 anos, os jovens declamadores do Sertão. De vez em quando, chega para mim alguma poesia desse período. O interessante, Débora, é que eu não publiquei esses poemas. Eles se espalharam nesse processo, que eu também decorava quando era mais novo, que é esse processo da oralidade. Alguém que passa para outra pessoa. Por exemplo, sinto que eu devo fazer alguma publicação ligada a essas primeiras poesias, por exemplo. Mas são coisas que existem aí, que como diz Zé de Cazuza, foram gravadas vivas na boca das pessoas, do povo, mas que ainda não foram publicadas. Mas é desse período, sim, desse período do final dos anos 1980 e início dos 1990.

E você participou de uma coletânea organizada por Heloísa Teixeira, então Buarque de Hollanda, não é?
— Participei. Ela teve, como sempre, nas ações dela, uma sensibilidade enorme, de me incluir na geração 00. Eu acho que foi logo quando eu cheguei aqui no Sudeste, e eu nunca deixei de atuar nesse lugar da performance de poesia, eu fui surpreendido com essa inclusão numa coletânea dos poetas dessa geração, que ela chamava 00.

Você está desde quando em São Paulo?
— Em 2002, com o Cordel. Então, moro aqui, mas sempre na ponte. Passo um período aí, no Recife, em Arcoverde, mas moro aqui desde 2002.

O que você acha dessa geração do Slam? Tem muita gente fazendo declamações dos seus próprios poemas e essas batalhas que estão crescendo cada vez mais aqui no Recife, nessas áreas urbanas, em São Paulo... O que você acha dessa nova geração de poetas?
— Acho maravilhoso, me identifico de uma forma tão intensa! Quando cheguei aqui em São Paulo, em 2002, o primeiro lugar que Marcelino me levou foi a Cooperifa, lá no Capão Redondo, onde eles faziam o Sarau da Cooperifa. E, nesse momento, eu me identifiquei, me conectei com os meus primeiros espaços de declamação, em Arcoverde, em São José do Egito. Achei uma ligação muito forte com esse mesmo movimento de declamação do Sertão, aqui na periferia de São Paulo. E aí fui entendendo as diferenças também, as características de cada expressão dessas. Então, o Slam, por exemplo, me lembra muito os declamadores. A minha escola foi muito parecida com a escola do Slam, porque é o corpo aceso. Os elementos que usamos são o corpo, a voz, o corpo da voz, o grão da voz, a presença, aquela vida na interpretação. Então, eu fiquei encantado, achando que era tudo uma continuidade disso. Até acho que tem fundamento, porque esse movimento de poesia na periferia de São Paulo, os jovens que fazem isso, muitos deles são filhos ou netos de nordestinos, e nordestinos da Interlândia, do interior, que é a região de onde eu venho. Gosto muito disso. Então, me enche de esperança de que a poesia continue atuando como um elemento revolucionário. Que sempre se apresentou como uma antimercadoria, nesse sistema político que vivemos. Fico achando das melhores coisas, do melhor do movimento cultural brasileiro, essa força da poesia em forma do Slam, em forma dos saraus, muito ligada à oralidade, e também ligada ao movimento rap. A principal originalidade do rap brasileiro é essa ligação com a poesia rimada e metrificada, que aqui tem elementos que não se encontram em outro lugar. Então, deve ser muito valorizada, essa característica de expressão brasileira, que é a poesia rimada e metrificada.

Você está participando agora de uma série sobre João Cabral. Fale um pouco sobre esse projeto.
— Fui convidado para apresentar uma série chamada Palavras Impossíveis de Poema. É uma série do Canal Brasil, sete episódios, que tem uma abordagem nas adaptações de outras linguagens artísticas à obra de João Cabral. Adaptações da obra de João Cabral a outras linguagens artísticas, como a arquitetura, a dança, as artes visuais, as artes gráficas, especialmente ligadas à tipografia, a música também, que é um episódio muito interessante, por conta da famosa característica atribuída a João Cabral de não gostar de música. Já terminamos as filmagens. Foi uma experiência muito profunda, muito intensa. João Cabral exige isso, exige esse mergulho. Ele próprio se posiciona nesse desafio de leitura, de ir além no nosso pensamento. Foi uma experiência inesquecível, muito forte, me atravessou de uma forma que deixou marcas, com certeza, na minha poesia, o que venho a fazer daqui para frente.

Agora estamos em uma fase de montagem. A direção foi de Hilton Lacerda e Adelina Pontual. Filmamos no Recife, no Rio de Janeiro e em São Paulo. Depois de três, quatro meses de entrevistas, de estudos, de envolvimento com o tema, tivemos acesso a um acervo que a USP ainda não abriu para visitação. Tivemos acesso aos livros que ele mesmo prensou com as suas próprias mãos. Tive esse presente da vida de poder manuseá-los no espaço que a USP dedica ao acervo de Mindlin é onde se encontra esse acervo de João Cabral. Também passamos pelos familiares e por muitos artistas como como Ivan Marques, Marise Hansen. E foi bem interessante. Agora, o maior desafio foi interpretar João Cabral, porque o convite que me fizeram era uma espécie de apresentação, mas também de interpretação de mais de 20 poemas de João Cabral ao longo desses sete episódios. E aí passei por esse processo dos mais difíceis da minha vida, que foi incorporar esses poemas e também o desafio de fazer uma interpretação orientada pelo próprio João Cabral, com os seus escritos, as suas críticas, autocríticas literárias, porque eu venho de uma escola quase que antagônica de como João entendia de como dizer a poesia dele. Eu sou daquela declamação, a declamação mesmo, catártica, onde se poetiza o poema, que ele chama a atenção que não seria bom com a obra dele. Foi um desafio que os diretores confiaram a mim. E a gente construiu algo que foi novo na minha interpretação, seguindo esses elementos propostos por Cabral. Eu gosto mais disso mesmo, de coisas diferentes, que a gente esteja próximo do impossível, do risco. Isso é o que possibilita a criação do que chamamos de novo. Foi uma vivência muito interessante. Só agora estou conseguindo me separar um pouco de toda essa esfera. Demorou uns meses, eu ia dar entrevista sobre outras coisas e lá vinha João Cabral. Eu trazia o João Cabral em todas as coisas.

Você passou quanto tempo mergulhado nisso?
— Desde que fui convidado e começamos, foi um ano. Efetivamente decorando textos, oito meses.

É realmente um trabalho de fôlego. Oito meses, isso é impressionante.
— É interessante que eu tinha feito uma série anterior, também como apresentador, mas muito do meu universo, chamada Ouro Velho, Mundo Novo. É sobre a poesia do Sertão de Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará. E é também uma série com episódios em que vou na casa dos poetas, acho que está no Canal Brasil. Foi bem interessante viver essas duas situações. Interessante porque reconheci Cabral em muitos elementos dessa primeira experiência. E também descobri elementos ligados ao imaginário da população com essa poesia, principalmente com a filosofia sobre a existência, com essas duas experiências e o ato de criar.

Tem um lado ator também em declamar, não é?
— Tem um lado ator, sim. Porque João Cabral, quando eu te digo isso dos oito meses, é que realmente não é possível vivenciar, entender João Cabral sem esse mergulho. Ele próprio construiu essa necessidade, esse desafio. Foi uma construção dele. Não é uma poesia da superfície. E aí o próprio público dele é muito exigente. Não tem isso de você errar. Não dá para errar nenhuma palavra, não dá para trocar o “do” pelo “de”, declamando João Cabral, que você vai ser cobrado.

Você falou desse projeto, que é uma mistura audiovisual com literatura. E em termos de livros, você está pensando em um próximo título?
— Eu vou publicar um livro de poesias, que são as poesias que eu nunca publiquei, da minha história. Desejo também a publicação do meu livro Mercadorias e Futuro. Esse livro era um elemento de uma peça teatral que eu criei. Nunca publiquei a peça, que é um monólogo, que traz muita memória de muitos diálogos. E pretendo explorar um pouco mais essa escrita do teatro e da dramaturgia.

O livro já está com editora?
— Estou em comunicação, tenho algumas editoras aqui em São Paulo, que vêm conversando comigo, e eu ainda vou tomar essa decisão. Eu fiz agora o prefácio da poesia reunida de Micheliny. Ela me convidou pra fazer. Foi publicada pela Fósforo, e participei desse movimento de lançamento, agora. A gente tem essa convivência, aqui, com algumas editoras.

E quanto ao trabalho como compositor? Quais são os próximos projetos do Cordel e do seu trabalho solo?
— Na sexta-feira, faço uma primeira sessão de gravação, aproveitando que vou estar no Recife. Vou gravar algumas músicas desse show comemorativo, José Paes de Lira canta Lirinha. Esse projeto de lançar as poesias, ele é junto de uma ideia de também gravar poesias declamadas com paisagem sonora. É um lugar em que eu venho atuando e gostando muito. Inclusive, quero dedicar mais criação a esse lugar, que é da poesia declamada com paisagem sonora. Eu faço isso num espetáculo chamado Poesia Eletrônica, que a palavra eletrônica vem exatamente dessa relação com o sampler, com os aparelhos de sampler que eu utilizo, disparando sons, sons da memória, processados, alguns áudios modificados, criando uma espécie de arte sonora. Eu sempre tive essa atuação na zona de fronteira entre a poesia e a música, e parece que nesse lugar eu estou conseguindo reunir as duas coisas. Eu nunca me considerei um cantor, embora eu componhe, fui gravado por muitos intérpretes importantes da MPB, mas eu sempre me considerei uma pessoa que diz poesia junto com música. Então estou querendo dedicar mais tempo a essa linguagem, essa expressão. Em música, eu vou vir agora com esse disco de poesia com paisagem sonora, que ainda não tem título. O Cordel do Fogo Encantado, a gente está começando a ir novamente, temos uma ideia de que, no segundo semestre, a gente divulgue alguma ação, alguma atividade de retorno da banda. Continuo com as minhas composições que me encomendam, nisso da música.

Tem previsão de lançamento do novo disco solo?
— No segundo semestre, entre agosto e setembro.

E o documentário sobre Cabral? Tem uma previsão?
— Também é para o segundo semestre. Ele está em fase de montagem, mas ele é para o segundo semestre, mais para o fim do ano.

A sua apresentação vai ser com os mesmos músicos da apresentação do Teatro do Parque?
— Nessa mística dos meus 35 anos de atividade artística, meu filho toca comigo, chamado Dizin (guitarra). O meu grande amigo de infância, que eu tinha um sonho de fazer uma turnê com ele, estou realizando agora, que é Erick Chapa, ele é da Super Oara, que é uma orquestra mítica de Arcoverde, icônica. Oara significa Orquestra Arcoverdense de Ritmos Americanos. E que só depois entendi o quanto me influenciou e influenciou o Cordel do Fogo Encantado também, porque a cidade tinha essa grande empresa de música, todos os músicos do interior passaram ou passavam pela Super Oara. E Roger Vitor, que é um mestre do contrabaixo do Recife. Ele termina representando essa importância do Recife na minha vida também, que eu tenho, que acolheu o Cordel, junto com Naná Vasconcelos, naquele momento que a gente chegou e que proporcionou tanto movimento cultural no Recife. Eu agora lembrei de Miró... Que era essa declamação, né? Que declamador! Que faz falta, que é Miró. Miró tinha esses dois elementos, do Slam e da declamação sertaneja. Os dois ele conseguia juntar, como se fosse uma pessoa que entendeu a profundeza dos dois. E ele me influenciou muito. Meu Deus, Miró! Não posso nem esquecer. Outros do Recife também, na poesia... Eu fui muito próximo de Erickson Luna. Também França… Eram os grandes declamadores das ruas do Recife, que eu tenho muita saudade.

E dessa geração ainda tinha Lara, Zizo, que divulgava os poetas marginais com seus folhetos…
— Conheci Zizo gravando Ouro Velho, Mundo Novo. E ele me deu várias edições que ele tinha impresso. Eu tenho até hoje. Ainda naquele formato de folhetins. Já não era mimeógrafo. Eu tenho aqui em casa. Eu o conheci rapidamente, mas conversamos um pouco. Importante lembrar disso. Geralmente esquecemos pessoas fundamentais na influência do que fazemos. Em Arcoverde, eu era muito influenciado e gostava muito do movimento de teatro de toda a região. O teatro de Caruaru era muito importante para todos nós, ali em Arcoverde. E Vital Santos, o autor. Só depois de muito tempo, eu consegui entender o quanto o Cordel do Fogo Encantado era influenciado por montagens de grupos teatrais de Caruaru que foram ali para Arcoverde. E peças, geralmente de Vital Santos, como o caso de Olha pro Céu, Meu Amor, Auto das Sete Luas de Barro. E por quê? Porque eram montagens que tinham uma banda ao vivo. Faziam uma música ao vivo. Era um teatro específico, que meio que desapareceu. Mas era uma estrutura que tinha sempre uma banda e as ações acontecendo. E quando a gente montou o Cordel, a ideia era uma base instrumental para que a gente dissesse as poesias que faziam a narrativa de um espetáculo. E aí, a gente nem percebia que naquele momento se iniciava uma banda, e que aquela música, junto com aquela poesia, era o princípio da canção. E, de repente, eu me tornei um cancioneiro também, que eu nem esperava por isso na minha vida. 

SERVIÇO
11ª edição do Festival RioMar de Literatura
Quando: Quinta-feira (24), a partir das 16h (abertura do teatro às 15h30)
Onde: Teatro RioMar, no Piso L4 do RioMar Recife
Quanto: R$ 20 (meia entrada) e R$ 40 (inteira). Compra online através do App do RioMar Recife, site e bilheteria do Teatro RioMar
Informações: App do RioMar Recife e no perfil @riomar_recife