Homenageando a trajetória do escritor barroco Gregório de Matos, a edição de 2025 do evento cultural Velório Poético vai acontecer tradicionalmente no Dia de Finados, 2 de novembro, às 15h30, no Museu de Arte Moderna Aloisio Magalhães (Mamam). Com a participação da artista paulista Thina Curtis, o evento vai discutir a produção independente de arte e a produção de literatura.
Com apresentação de artes plásticas de Marcus Asbarr e momentos musicais com a dupla DJ Carrie e Vivi Menezes, o evento vai contar também com uma performance de Marília Costello e show da dupla Entre Nós.
Entre as atrações musicais, o momento “Fanzinada” vai reunir Thina Curtis, Cannibal, Zenival, Draylton Tavares e Bruno Melo para discutirem temas que envolvem a produção cultural independente. De música à literatura, os convidados vão falar sobre o poder transformador da arte e suas próprias jornadas dentro de suas vertentes.
Destaque na edição do Velório Poético 2025, Thina Curtis é poeta, quadrinista, arte-educadora, produtora cultural e editora. Desde o início da década de 1990, trabalha diretamente com o fanzine e segue sendo uma voz ativa no meio artístico, inclusive com projetos voltados à inclusão do público feminino no mundo das artes. Em sua participação no evento a artista vai produzir um fanzine ao vivo, em meio a sua participação nos diálogos.
Confira a entrevista completa com Thina Curtis para a Pernambuco:
Você atua na área de fanzine, uma resistência cultural fantástica. Por que fazer fanzine?
Foi no fanzine que me enxerguei e encontrei minha forma de comunicação com o mundo. Os fanzines são diferentes dos meios tradicionais de comunicação e publicação, dando voz e vez a quem normalmente é silenciado e tem algo a dizer/expressar além de ser barato e rápido para divulgar. E acima de tudo é acessível, popular, dinâmico e democrático.
Fanzines são redes sociais afetivas, criam comunidades em torno de ideias, estéticas e causas. Estimulam criatividade e pensamento crítico.Fanzines preservam e registram narrativas que não estão nos livros oficiais, memórias de bairros, territórios, movimentos, cenas culturais. Fanzines circulam em feiras, correios, mochilas, de mão em mão criando redes de afeto escambo e colaboração. Fanzines nos levam a várias possibilidades.
Qual a extensão do projeto de fanzines hoje no sudeste e no país. Você tem contato com grupos de Pernambuco. Se sim, poderia descrever?
Ainda hoje em tempos de tanta tecnologia e tiktoklização os fanzines seguem vivos e pulsantes em todo o Brasil, inclusive possibilitando intercâmbios entre sudeste e Pernambuco, onde se articulam ideias através dos fanzines como ferramentas de educação, arte e resistência cultural.
Tenho uma amizade e parceria longínqua com Marcus Asbarr a quase 3 décadas e somos grandes parceiros. Participei de uma coletânea de história em quadrinhos de terror chamada Não se Assuste, Isso é Coisa de Mulher com a quadrinista pernambucana Roberta Cirne, (inclusive fomos indicadas a prêmios em 4 categorias no Troféu HQ Mix o Oscar dos quadrinhos brasileiros). Editei o Livro Brazineiras que tem a Gah uma artista vegana, educadora popular que está a frente da ONG Recife Verde. Também tenho amizade e troco publicações com Tadeu Ricardo que produz fanzines dedicados ao metal/rock incluindo artes produzidas por artistas de todo Brasil. Além de acompanhar e admirar Cannibal e a Devotos desde o início.
Em quais projetos você está engajada?
Muitos (risos). Eu organizo a Feira de Fanzines e Publicações Independentes (Fanzinada) que em 2026 completa 15 anos. Participo também de alguns coletivos de história em quadrinhos, literatura e também políticas públicas para a cultura nerd, sou Conselheira de Cultura Geek em São Bernardo do Campo. Ajudo a desenvolver fanzines do zero desde o tema, estrutura, conteúdo, até sugestões de layout e distribuição. Participo de oficinas e atividades educativas de planos de aula, dinâmicas e propostas para oficinas de fanzine em escolas, ongs, coletivos ou eventos culturais, palestras, workshops etc.
Também estou participando de alguns editais. Lancei um livro que foi resultado de uma pesquisa sobre mulheres nos fanzines. Tenho um fanzine, 2 histórias em quadrinhos e um livro para lançar em breve.
Como será sua participação no Velório Poético?
Será de mediação, difusão e intercâmbio cultural. Minha participação no Velório Poético será como parceira criativa e provocadora de ideias somando nossas artes e experiências nos ambientes culturais, pedagógicos e de resistência (poética).
Conte um pouco da sua trajetória, trabalhos mais importantes.
Atuo desde os anos 1990 como poeta, quadrinista, arte-educadora, produtora cultural e editora de fanzines e publicações independentes. Prefaciei livros de poesia e quadrinhos, organizei eventos, fiz resenhas de bandas, coletâneas musicais, fui jurada de salões de humor, embaixadora do Salão do Humor Instituto Gabriel focado na temática sobre doações de órgãos e tecidos. Já tive programa em rádio rock, fui colunista em sites de rock,arte, literatura e hq. Fui uma das artistas convidadas da CCXP em 2023, também ministro oficinas,palestras, participo de projetos sociais e culturais que promovem a valorização da arte independente como ferramenta de transformação social.
Meu trabalho é voltado principalmente para a visibilidade de mulheres, pessoas periféricas e narrativas não hegemônicas. Trabalhei por anos no sistema carcerário com jovens infratores trabalhando comunicação popular, literatura, hq, direitos humanos e cidadania através dos fanzines.
Organizo a Fanzinada que é um evento itinerante a quase 15 anos, um espaço que promove a inclusão e via de acesso a inúmeros artistas e pessoas principalmente do circuito da literatura e artes gráficas. Fui uma das organizadoras do Fanzine Ponte que une poetas e poetas visuais de língua portuguesa de vários países ao lado da poeta Inês Ramos (Cabo Verde) e Luis Meireles (Portugal). Produzi e dirigi ao lado de Kash Fyre e Victor Zanellato o documentário Além dos Quadros: Memória dos Quadrinhos de Santo André, participei do documentário Insurrectas: A Literatura feita por mulheres do ABC Paulista e também do documentário Punks do ABC. Participo também do Afetozine dirigido pelo pesquisador Daniel Figueiredo que será lançado na Paraíba. Recebi em 2024 o título de Mestra do Fanzine nacional pelo Troféu Cria-Ciber da Universidade de Goiânia além de vários outros prêmios, menções honrosas e indicações. Lancei o fanzine Art+Feminism (uma plataforma ligada a wikipédia) que celebra os 10 anos de ação na América latina.
Hoje tem muitas mulheres envolvidas no movimento?
Sim, hoje há uma presença significativa e crescente de mulheres no fanzinato brasileiro. Elas atuam como autoras, editoras, arte-educadoras e organizadoras de eventos culturais. Muitas mulheres pesquisando outras mulheres nos fanzines também.
Elas também estão à frente de coletivos, fanzinotecas e feiras que promovem a autopublicação como ferramenta de resistência e expressão isso não só fortalece redes de apoio e colaboração entre mulheres artistas, escritoras e ativistas como renova agregando cada vez mais mulheres, inclusive de todas idades.
Você está trabalhando em algum lançamento específico?
Sim. Em breve tem o resultado de um edital da Adir Blanc: um zinehq Café Crônico Expresso ou pra Viagem em parceria com Regi Munhoz.