Nesta quinta-feira, dia 31, a partir das 20h, no Teatro de Santa Isabel, o público poderá assistir o espetáculo “Suplício de Frei Caneca - Oratório Dramático”, criado pelo escritor Cláudio Aguiar e dirigido pelo diretor José Francisco Filho. Com entrada livre e inserida dentro da programação da 22º edição do “Festival de Literatura A Letra e a Arte”, a peça é uma exaltação à vida e à memória do recifense Joaquim da Silva Rabelo, que depois passaria a atender pelo nome de Joaquim do Amor Divino Caneca, o nosso conhecido Frei Caneca.
A apresentação desta quinta será a única oportunidade para ver ou rever o espetáculo, que traz no papel principal o ator Buarque de Araújo, que já havia atuado como Frei Caneca na montagem de 2017. A atual adaptação foi produzida para ser encenada em um espaço religioso, com iluminação e cenografia criadas para dar a ideia de que a ação transcorre em uma igreja, entre altares.
Apesar de outras montagens já terem explorado cenários diferentes, específicas para teatros ou para espaços públicos, o texto de Cláudio Aguiar cairá bem nesse contexto. O próprio autor explica que esse “Oratório Dramático”, publicado pela primeira vez em 1977, se apresenta como se fosse uma missa, em que várias facetas de Frei Caneca aparecem ao público: a do religioso, sábio, revolucionário, filósofo, humanista…
Além de assinar o texto, Cláudio também compôs a trilha sonora da peça, que vai se desenrolando ao som de um kyrie, música sacra, uma adaptação de um poema do carmelita e um réquiem, no estilo do teatro grego. O espetáculo conta com a presença de um trio do Conservatório Pernambuco de Música: um pianista, um organista e um violonista, os três ao vivo.
Um revolucionário
Criada na década de 1970, por um autor que costuma transitar entre o romance e os contos, o texto teatral tendo como foco Frei Caneca se deve à profunda admiração que o autor mantém pelo religioso e revolucionário.
“Em 1975, quando foram comemorados os 170 anos da morte de Frei Caneca, tive a motivação de fazer um texto em sua homenagem, para suprir a falta de reconhecimento que Pernambuco lhe confere, e também para fazer com que esse herói não caísse no esquecimento.”, diz o escritor.
Ele lamenta, que ao contrário de vários estados, onde o nome de Frei Caneca batiza ruas e avenidas, em Pernambuco a atenção que lhe é dedicada ainda seja pequena. “Em Minas Gerais, uma dúzia de poetas, que não chegaram a atirar uma bala, conseguiu-se produzir um herói - Tiradentes - cuja dimensão política e intelectual é ínfima diante da coragem, erudição e luta por justiça que teve Frei Caneca. O pernambucano, e não o mineiro, é que deveria ser considerado um mártir pela liberação da pátria. Mas não soubemos valorizar o nosso homem.”, explica Cláudio Aguiar.
Por esse motivo, desde 2005, o escritor vem defendendo a criação de um memorial que possa homenagear todas as revoluções realizadas em Pernambuco - desde a restauração de 1645 até a revolução praieira de 1848 - e que fosse batizado com o nome de Frei Caneca.
Nesse espaço, diz Cláudio, se poderia conhecer e celebrar o espírito revolucionário e forte do Estado, lembrar dos seus heróis e comemorar, principalmente, o legado de Frei Caneca, figura fundamental tanto à Revolução de 1817 quanto à Confederação do Equador, de 1824. “Aproveitei, agora, o bicentenário, para reforçar esse projeto”, explica o escritor, que pediu apoio dos senadores pernambucanos para que a proposta possa sair do papel.
Nascido no Recife em 1779, Frei Caneca ingressou na Ordem Carmelita em 1795. Foi ordenado padre em 1799. Tornou-se um dos líderes da revolução que proclamou a independência de Pernambuco em 1817 e estabeleceu um governo provisório republicano. Após isso, passou quatro anos preso em Salvador.
Em 1824, voltou a atuar como um dos principais criadores da Confederação do Equador, que se opunha à decisão do imperador Dom Pedro I, que dissolveu a constituinte que se preparava para redigir uma nova Carta Magna e outorgou a Constituição. Frei Caneca foi um dos líderes máximos deste movimento, que buscava a autonomia das províncias do Nordeste e a formação de uma república federal.
Mas a revolução, de fato, desencadeou-se a 2 de julho de 1824, quando Dom Pedro I mandou destituir o governador de Pernambuco, Manuel Pais de Andrade, grande proprietário defensor de ideias liberais e federativas.No mesmo dia, os líderes pernambucanos lançaram um manifesto rompendo com o Rio de Janeiro e logo a seguir anunciaram a formação de uma república – a “Confederação do Equador”, a ser formada inicialmente pelas províncias do Nordeste.
Frei Caneca começou a publicar as "Bases para a Formação do Pacto Social", que era um projeto de Constituição para o novo Estado. Suas ideias sobre federalismo, autonomia das províncias e participação popular nas decisões políticas continuam relevantes no debate político brasileiro.
No final de 1824, quando o movimento já havia sido derrotado em Pernambuco, Frei Caneca fez uma caminhada de 800 km com seus homens até o Vale do Cariri, no Ceará, na esperança de unir-se a tropas aliadas que também haviam se insurgido contra o imperador. Durante o percurso escreve um texto, O Itinerário, contando a travessia. Mas ao chegar ao Ceará foi surpreendido: seus aliados haviam sido derrotados pelas forças imperiais, que prendem Frei Caneca e o obrigam a voltar andando os 800 km até Recife.
Na peça, Cláudio Aguiar resgata essa jornada e principalmente o julgamento de Frei Caneca, que o escritor classifica de “dramático”. “Ele foi sacrificado e arcabuzado porque o carrasco se recusou a enforcá-lo. É um drama muito pungente.”, comenta o autor.
Cláudio Aguiar é romancista, ensaísta, dramaturgo, biógrafo, poeta, compositor e crítico literário. Escreveu mais de 40 livros, muitos dos quais premiados e traduzidos para o espanhol, russo, francês e outras línguas ocidentais. A peça “ Suplício de Frei Caneca - Oratório” ganhou menção honrosa no Concurso Nacional de Dramaturgia do Governo de Goiás de 1977.
Serviço:
Suplício de Frei Caneca - Oratório dramático
Texto: Cláudio Aguiar
Direção: José Francisco Filho
Local: Teatro de Santa Isabel
Horário: 20h
Entrada: grátis