Em seu primeiro evento oficial depois do lançamento do mais recente livro, O novo agora, o escritor, dramaturgo e jornalista Marcelo Rubens Paiva foi o grande homenageado do Festival RioMar de Literatura. O evento aconteceu na quinta-feira (24), no Teatro RioMar, e contou também com a participação da jornalista e escritora Daniela Arrais e do escritor e produtor de conteúdo digital Pedro Pacífico, conhecido como Bookster, além de apresentações musicais de Isadora Melo e Lirinha.
Em sua 11ª edição, o festival abriu sua programação com um pocket show da cantora pernambucana Isadora Melo com a participação de Rafael Marques no bandolim e Júlio César Mendes na sanfona. Com apresentação e mediação da jornalista Beatriz Castro, o evento seguiu com um painel de conversa entre Daniela Arrais e Pedro Pacífico.
Daniela e Pedro, além de terem recentemente estreado no mundo editorial com a publicação de seus primeiros livros, Para todas as mulheres que não têm coragem e Trinta segundos sem pensar no medo, respectivamente, também atuam diretamente com as redes sociais. Através dessa junção de experiências, a dupla compartilhou sobre hábitos de leitura, discutiu os limites da escrita por inteligência artificial e sobre os seus próprios processos de criação.
Por meio de suas vivências como homem gay com dificuldades para se aceitar, o livro de Pedro traz bastante do seu pensamento intimista durante fases conturbadas da sua vida, descrevendo momentos de crises de pânico e extrema tristeza. Em entrevista coletiva, ele afirmou que “quando a gente lê e se identifica no livro do outro, ocorre um sentimento muito gostoso e reconfortante do tipo ‘eu não estou mais sozinho nas dores, nos medos e nas angústias’. Quando você tem essa sensação, a ideia de escrever sobre sua própria vivência te dá um interesse porque você pensa que pode causar essa mesma sensação de identificação”.
“A gente passa muito pelas mesmas coisas, a gente se apaixona, a gente leva pé na bunda, a gente perde alguém… As experiências são muito universais. [A partir disso] fui me encorajando a dizer assim: ‘eu tô falando de mim, mas eu tô partindo de uma experiência pessoal para convidar outras pessoas a refletirem sobre a própria vida’”, acrescentou Dani Arrais sobre a sua experiência como autora.
Abertos a perguntas do público, Pedro Pacífico e Daniela Arrais se mostraram defensores da literatura para todos, explicando que buscam desmistificar o livro, que muitas vezes é visto como um objeto capaz de ser entendido apenas por uma elite intelectual.
Depois do primeiro painel foi a vez de Lirinha subir ao palco e conversar com o público. O cantor, compositor e poeta fez uma apresentação unindo a música e a poesia, levando energia ao público.
Homenageado do festival, Marcelo Rubens Paiva fez a mais aguardada internvenção, fechando o evento, com mediação de Beatriz Castro. O escritor conversou sobre a ditadura militar brasileira, sua jornada na literatura e chegou até a contar sobre a banda da qual criou com amigos, Lost in Translation.
Com muito bom humor, ele conquistou a empatia do público quase de imediato. Ele falou sobre o livro O novo agora, lançado na quarta-feira (23). Assim como Feliz ano velho e Ainda estou aqui, o livro traz um recorte de sua vida, transformando seus sentimentos em uma narrativa envolvente.
Sobre Ainda estou aqui, livro que deu origem ao filme homônimo dirigido por Walter Salles e vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, Marcelo explicou que a obra literária despontou em todo o mundo, seguindo o sucesso do filme.
A narrativa de Ainda estou aqui retrata sua mãe, Eunice Paiva, durante a ditadura militar do Brasil e do sequestro, tortura e assasinato do seu marido pelo regime, o deputado Rubens Paiva. Com muita delicadeza, Marcelo retrata a dor que sua mãe sentia, porém mostra principalmente como ela se manteve forte diante da realidade e seguiu em frente criando os cinco filhos e se tornando advogada.
“O cinema traz uma dimensão para a obra de uma pessoa, muitas vezes superior ao universo literário. O cinema vai para muitos países, [Ainda estou aqui] ficou em mil salas de cinema só nos Estados Unidos, fez sucesso e o livro foi indo atrás, sendo lançado na Itália, na Espanha, em Portugal. É muito interessante ver como o filme reacendeu a carreira de um cara que estava mais preocupado se os filhos iam assistir Gato Galáctico [canal infantil na plataforma Youtube] ou não”, conta Marcelo.
Ao final de sua fala, o escritor recebeu uma placa comemorativa da jornalista e curadora do Festival, Carmen Peixoto.