Mailson Furtado: escritores do Nordeste precisam de maior conexão

Poeta e escritor, o cearense Mailson Furtado lançou no sábado o livro Litígio na Bienal Internacional de Livros de Pernambuco

Mailson: os nordestinos só reconhecem um autor quando o estímulo vem de editoras e jornais do Sudeste
Mailson: os nordestinos só reconhecem um autor quando o estímulo vem de editoras e jornais do Sudeste

Conhecido nacionalmente após ter ganho o Prêmio Jabuti, em 2018, pelo seu livro à cidade, o escritor, poeta, ator e editor cearense Mailson Furtado é um exemplo de que para um nordestino, furar a bolha que distancia os autores da região do reconhecimento do público e das grandes editoras, não é só questão de talento. 

“O Prêmio Jabuti fez toda diferença. Ele foi um divisor de águas no meu trilhar, enquanto pessoa, enquanto artista. Hoje a literatura, as artes ganharam esse, sentido, de fato, de profissão. Hoje estou conseguindo circular,conseguindo várias conexões nesse campo da literatura e outras artes, por pura consequência desse prêmio.”, disse Mailson , que lançou ontem na 15ª Bienal Internacional do Livro de Pernambuco, o livro de poesias Litígio. 

O Jabuti, ele admite, foi a chave para cruzar esse espaço. Depois disso, ganhou reconhecimento e convites para participar de eventos fora do Ceará, mas continua brigando para que seu trabalho seja apreciado também no Nordeste. 

Paradoxalmente, diz Mailson, os nordestinos também só se reconhecem quando o estímulo vem de editoras e jornais do Sudeste. Por isso exalta a importância de ações coordenadas entre os promotores culturais e os autores da região, além da ajuda essencial do poder público, para que o Nordeste possa manter e disseminar sua literatura de qualidade, sem que seja necessário romper essa bolha nacional. 

“ A gente precisa criar várias frentes, porque tem boa literatura, tem boas peças de teatro, e isso podia ser disseminado entre os estados nordestinos. E Aqui, infelizmente, não tem grandes mecenas pra esse campo, né? Então, é um tanto disso que temos que contornar, e precisamos do apoio do poder público.”

Ele diz que as redes sociais são determinantes para que essa comunicação flua, mas que também são necessárias ações públicas reunindo escritores, comunicações entre as Bienais do livro e o incentivo à difusão de clubes de leituras de nordestinos com autores da Região.. 

"Foi como  a gente debateu aqui. “Enquanto Nordeste, ter um forum constante de troca de experiências, da disseminação dos trabalhos, da ajuda dos meios de comunicação importantes, como as revistas Pernambuco e Continente, falando da arte nordestina, mostrando os autores, suas obras.”, diz o autor, que considera que ser necessário conversar um pouco mais entre os estados.

“A gente precisa de uma conexão um pouco maior na Região quanto a isso, enquanto estados, para que as coisas que a gente faz aqui possam ecoar aqui de uma forma potente. A gente não consegue ecoar as nossas coisas, sempre precisa de um voz externa pra poder ecoar aqui, precisa ecoar fora pra poder ecoar aqui.

“Acho que falta um pouco essa conversa, a gente, enquanto região, às vezes conversa muito mais com São Paulo, Rio, às vezes até fora, com o exterior, e não conseguem saber o que tá sendo produzido no Ceará, no Rio Grande do Norte e tal. Então precisa dessa conexão ser um pouco mais firme,

Clubes de leituras 

Mailson também defende que todos os profissionais da escrita devem estar atentos à importância dos clubes de leitura, que hoje vem se disseminando no País.

“O clube de leitura tem essa questão dessa análise crítica dos livros, que é interessante, e outra, a perspectiva, a econômica, porque os clubes adquirem os livros para serem lidos, então acabam por movimentar a economia, a venda dos livros, né, É muito importante e interessante e firma esse motivo de encontrar a parte da leitura, né, a gente se encontra por tantas coisas outras na vida, né, e o clube é esse motivo de a gente se encontrar pela literatura, pela leitura.

Ele afirma que na atualidade existem todos os tipos de clubes de leitura. “No Ceará a gente tem várias frentes possíveis, inclusive um muito interessante, que eu gosto muito de como eles realizam, que é o clube de leitura itinerante, Eles não têm um lugar específico de reunião: a cada mês se encontram em um lugar distinto, em praia, um bar, enfim, um café, e sempre trazendo leituras diversas, grande parte de escritores locais. Então isso acaba por movimentar de uma forma muito interessante o circuito local de escritores, porque os clubes acabam levando esses autores pra esses encontros, é uma leitura que acaba tendo uma qualidade e que acaba gerando renda para os autores.”

Serviço - Bienal Internacional do Livro de Pernambuco
De 3 a 12 de outubro de 2025
No Pernambuco Centro de Convenções – Olinda

Ingressos antecipados em: https://zig.tickets/eventos/xv-bienal-internacional-do-livro-de-pernambuco-edicao-2025