Depois de quatro dias de debates, conferências, lançamentos, mesas de autógrafos e manifestações artísticas, a 13ª edição da Fliporto encerrou, no domingo, 17, suas atividades, com um saldo positivo: segundo os organizadores, o evento recebeu cerca de 5 mil pessoas nas dependências do Mercado Eufrásio Barbosa, atraiu mais de 7 mil ao circuito de ateliês Olinda das Artes, além de ter contado com 31 mesas de ações culturais, com a participação de 72 autores e de diversos artistas.
“A atmosfera vibrante refletiu o anseio da comunidade pela volta desse importante evento, que completa 20 anos em 2025. Podemos dizer que a Fliporto foi um sucesso, consolidando-se como um dos maiores eventos culturais de Pernambuco”, comemorou o curador da Festa, o advogado e escritor Antônio Campos.
De acordo com Campos, a realização da Fliporto não se encerra. “O portal internacional que lançamos antes da abertura será transformado em um portal trilíngue, daqui a 15 dias, tornando a Fliporto uma referência cultural”. Ele afirma, ainda, que o evento reforçou parcerias. “O prêmio Caminhos de Literatura continuará sendo entregue pela Fliporto. Além disso, faremos uma edição internacional da Festa em Portugal, em setembro de 2025, durante a Aveiro Tech Week, promovendo um rico intercâmbio cultural.”
Outro evento que será mantido em cartaz pelos próximos 20 dias será a exposição de quadros de diversos artistas, instalada dentro do Mercado Eufrásio Barbosa.
Prêmio
O último dia da Festa começou com a entrega do troféu do Prêmio Caminhos deLiteratura para a sua primeira vencedora: a paraense Isabella Cristo, autora do livro Mãezinha, que será publicado em breve pela editora Dublinense.
“Foi uma colheita que não poderia acontecer em um momento melhor. Eu havia recebido um telefonema negativo relacionado a trabalho e logo depois recebi outra ligação, comunicando que havia recebido o prêmio. O roteirista fechou uma porta e abriu outra.”, comentou Isabella, que norteou seu romance em torno de uma mãe que lida com o parto prematuro do seu filho.
A escritora conta que a temática do livro é, em parte, fruto da sua própria experiência. “Quando tive meu filho Leo, hoje com 5 anos,fiquei numa enfermaria com outras mulheres, que ao deixar o hospital escrevem cartinhas de apoio para as futuras mães no dia de alta. Essas cartas me incentivaram a contar essa história.”
Rio Sangue
Na tarde do domingo outra palestra mobilizou o público: o escritor Ronaldo Correia de Brito falou sobre o seu livro Rio Sangue, recém lançado pela Alfaguarra. Durante a palestra, ele falou sobre a obra, que demandou 4 anos de produção e extensa pesquisa histórica. Ediscorreu sobre seu processo criativo, admitindo se identificar com a estética do Romantismo.
“O gênero que nasceu na Alemanha surge em oposição ao Cartesianismo, que se focava no universalismo, enquanto o Romantismo valoriza as questões regionais, pessoais, do homem…Eu me filio a uma tradição que não se envergonha de apreciar os clássicos. Renego o universalismo. Eu sou do Sertão, do Recife, eu conheço o Capibaribe”, afirmou Ronaldo.
O novo livro de Ronaldo Correia de Brito aborda de que maneira as mazelas da colonização se perpetuaram até os dias atuais. ‘Em Rio sangue, os indígenas que habitavam as terras originárias, os conquistadores portugueses e de outras origens e os africanos que chegaram escravizados, narram suas histórias, seus mitos, até se construir uma narrativa comum a todos eles, sem que isso signifique uma conciliação”, resume Ronaldo Correia de Brito.
Resistir
A última conferência do evento foi realizada por Antônio Campos, que refletiu sobre o seu livro Resistir na era das incertezas, um olhar sobre o contemporâneo.
Durante a explanação, Campos abordou várias temáticas que estão presentes na obra. Entre elas, os desafios climáticos, que ameaçam a vida na terra; o impacto das redes sociais e da Inteligência Artificial na sociedade, ressaltando a urgência de regulamentá-las; abordou a saúde mental, demonstrando que apesar da hiperconectividade, as pessoas nunca estiveram tão solitárias; e também ressaltou a desigualdade social, que continua presente no Brasil da atualidade.