O filósofo e ensaísta sul-coreano Byung-Chul Han, um dos principais analistas da "sociedade do cansaço" contemporânea, recebeu o Prêmio Princesa das Astúrias de Comunicação e Humanidades 2025, por suas reflexões sobre digitalização e desumanização. O prêmio, criado em 1980 por Filipe, então Príncipe das Astúrias, herdeiro do trono da Espanha, visa promover os valores da herança universal da humanidade. O Principado das Astúrias é uma comunidade autônoma e a entrega do prêmio foi em sua capital, Oviedo. Ele já premiou escritores como Maria Zambrano e Umberto Eco.
Considerado uma estrela da filosofia contemporânea, Byung-Chul Han foi reconhecido "por sua genialidade na interpretação dos desafios da sociedade tecnológica", segundo o júri convocado da Fundação Princesa das Astúrias.
Crítico do neoliberalismo, o autor ganhou popularidade com suas análises do que chamou de "sociedade da exaustão", na qual identifica características preocupantes como a autoexploração disfarçada de realização pessoal, o abandono da reflexão e a predominância do narcisismo.
Han é definido como um dos expoentes do pensamento contemporâneo, responsável por evidenciar uma transformação de paradigmas entre os sujeitos da obediência de Foucault para os sujeitos do desempenho - aqueles que não são mais explorados por uma autoridade externa, mas sim por uma sistemática de autocontrole e punição interior.
Seus textos dedicam-se a abordar a era das doenças neuronais, como TDAH, Transtorno da Personalidade Limítrofe, depressão, entre outras, destrinchando as possíveis motivações para esse quadro tão presente nas comunidades globais.
De acordo com uma recente pesquisa da International Stress Management Association no Brasil (ISMA-BR), em um recorte nacional, por exemplo, 72% dos brasileiros se sentem estressados no trabalho e 32% são acometidos pela síndrome de Burnout (esgotamento mental ocasionado pelas atividades laborais).
Unindo citações frequentes aos grandes filósofos e elementos da cultura, o pensador reivindica a recuperação do contato íntimo com a cotidianidade – ele, inclusive, gosta de cultivar jardins, fazer trabalhos manuais, aproveitar o silêncio. E se rebela contra “o desaparecimento dos rituais” que faz com que a comunidade desapareça e que nos transformemos em indivíduos perdidos em sociedades doentes e cruéis.
Ácido
Autor de obras como Sociedade do cansaço, Sociedade da transparência e Não coisas: Reviravoltas do mundo da vida, ficou conhecido por suas análises ácidas da sociedade contemporânea, onde a falta de pausa e reflexão levam à exaustão e à doença. "As pessoas andam por aí com os ouvidos tapados", afirmou em entrevista ao jornal espanhol "El País" em 2023. "Não conseguem ouvir, e isso significa que estão desconectados do mundo, dos outros. Só ouvem a si mesmos, presos em seus egos", acrescentou.
Ele também faz críticas pesadas contra os smartphones, que afirma terem nos dominado e virado uma obsessão. “O smartphone é hoje um lugar de trabalho digital e um confessionário digital. Todo dispositivo, toda técnica de dominação gera artigos cultuados que são utilizados à subjugação. É assim que a dominação se consolida. O smartphone é o artigo de culto da dominação digital. Como aparelho de subjugação age como um rosário e suas contas; é assim que mantemos o celular constantemente nas mãos. O like é o amém digital. Continuamos nos confessando. Por decisão própria, nos desnudamos. Mas não pedimos perdão, e sim que prestem atenção em nós.”
Nascido em Seul em 1959, estudou Literatura e Teologia na Universidade de Munique e Filosofia na Universidade de Freiburg, onde fez seu doutorado em 1994. Como professor, lecionou na Universidade de Basileia, na Suíça, além da Universidade de Belas Artes de Berlim e na Escola Superior de Design de Karlsruhe.Considerado sucessor de pensadores como Roland Barthes, Giorgio Agamben e Peter Sloterdijk, seus críticos o acusam de escrever de forma superficial.
Comunicação e Humanidades foi o primeiro de oito dos prêmios concedidos anualmente, um por semana, pela Fundação Princesa das Astúrias. Criados em 1981, os reconhecimentos são compostos por 50 mil euros (324 mil reais) e uma escultura criada pelo catalão Joan Miró.