Coautor de fenômenos televisivos como a novela das sete Bom Sucesso, Paulo Halm, que já adaptou dramaturgos como Plínio Marcos (2 Perdidos Numa Noite Suja) é um roteirista que foi influenciado pela escrita de Osman Lins, na noção dele de brasilidade.
“Eu li muito o Osman Lins nos anos 1970... adolescente ainda. Seu romance A rainha dos cárceres da Grécia, com sua pegada metalinguística, foi algo que me impressionou muito na época e acho que vem daí esse meu fascínio pela metalinguagem, do filme dentro do filme, da novela dentro da novela e, claro, do romance dentro do romance que eu procuro trazer pros meus trabalhos, sempre que possível”, diz Halm, que dirigiu o longa Histórias de amor duram apenas 90 minutos (2009). “O uso da referência e da citação como elementos da dramaturgia vem dele. Li também o Avalovara e Nove, novena. Nessa mesma época, assisti aos casos especiais que o Osman escreveu para a TV Globo, Uma ilha no espaço e Quem era Shirley Temple?. Tem um terceiro, Marcha fúnebre, que não lembro ter visto. Curiosamente, por muito tempo, nunca mais ouvi falar do Osman Lins, nem encontrava ninguém que lembrasse dele, meio que o condenando a ser um autor dos anos 1970 ou um autor de minha adolescência. Foi assim até o Guel Arraes filmar Lisbela e o prisioneiro. Ali eu me senti menos ‘órfão’.”
Um artigo acadêmico da UFPE, escrito por Ermelinda Maria Araújo Ferreira e Adriano Siqueira Ramalho Portela, mapeia a produção que Osman fez para a televisão. “Fascinado pela proposta, Osman Lins não apenas cedeu seus originais para as adaptações: assumiu ele mesmo o desafio de aprender as técnicas de expressão do meio audiovisual, redigindo de próprio punho os seus episódios, e gabando-se, inclusive, de ter sido ‘o primeiro dos autores adaptados a produzir um texto diretamente pensado para a televisão’”, escrevem Ermelinda e Portela. “Apreciador confesso da sétima arte, não é de duvidar que Osman Lins, em sua empreitada sabotadora da indústria cultural, também tenha recorrido a algumas técnicas do filme noir – que retrata uma sociedade na qual o sonho americano de sucesso é invertido e a alienação e o fracasso são os tons dominantes – para compor esse breve e tenso conto policial enigmático.”
De acordo com a dupla, a produção de textos curtos para o suporte televisivo do Caso Especial obrigou o autor a um novo desafio: abandonar a sofisticação estilística criada aos moldes da escrita oulipiana francesa, que teria inspirado a coletânea de narrativas Nove, novena (1966) e o romance Avalovara (1973). “A compreensão de que o ‘hermetismo’ desses procedimentos não corresponderia ao horizonte de expectativas da recepção massificada prevista para o incipiente teleteatro nacional teria levado o escritor a explorar outros caminhos; mais próximos, talvez, das soluções encontradas pelo mestre da literatura de mistério e suspense, Edgar Allan Poe”, escrevem Ermelinda e Portela.
Imortal da Academia Brasileira de Letras, o baiano Antônio Torres, autor de Essa terra, foi redator de publicidade e conhecia bem os meandros dos reclames de TV quando conheceu Osman Lins.
“Tivemos uns dois ou três encontros. Eu me lembro de que fui ao lançamento de Avalovara, na Livraria Cultura, em São Paulo. Nosso último contato foi no terraço de um hotel, em Natal, num coquetel ao final de um encontro de escritores nordestinos. Ao me ver, ele disse: ‘Nós nunca conversamos direito. Vamos fazer isso agora?’. Aí chegou o João Ubaldo, com um bêbado que queria entrar na conversa. Em seguida começou a chover e nos dispersamos. Coisa de um mês depois eu iria ler a notícia da sua morte na capa do Jornal do Brasil. Imagine o choque.”
Roteiristas de peso do cinema e da TV no país encaram a prosa de Osman como um farol para iluminar os conflitos da realidade brasileira. É o caso de Marçal Aquino, ganhador do Jabuti por O amor e outros objetos pontiagudos, responsável por roteiros de cults da telona (O invasor) e de êxitos de audiência na telinha (Força tarefa).
“Antes de mais nada, Osman tinha uma consciência única do papel social de todo escritor. Para além do que se propunha a contar, ele dava muita importância à forma na hora de narrar. Lembro de ter ficado bem impactado no contato com sua obra. Nove, novena foi o primeiro livro dele que conheci. Acho que obras como A rainha dos cárceres da Grécia e, sobretudo, Avalovara permanecem como grandes desafios aos leitores que não se conformam com a facilitação que acomete boa parte da ficção palatável que é produzida hoje.