O último voo do Vampiro de Curitiba, Dalton Trevisan

O escritor paranaense Dalton Trevisan morreu nesta segunda-feira, aos 99 anos. A família publicou um post no Instagram, comunicando a morte: “Todo vampiro é imortal. Ou, ao menos, seu legado é"

Dalton Trevisan era avesso à exibição pública, mas deixou ser fotografado pelo irmão, Derson
Dalton Trevisan era avesso à exibição pública, mas deixou ser fotografado pelo irmão, Derson

O escritor paranaense Dalton Trevisan morreu nesta segunda-feira, em Curitiba, aos 99 anos. A causa da morte não foi revelada. Segundo a família, foi cumprido o desejo de dar o máximo de privacidade. Em sua conta no Instagram, foi publicado um post alusivo à passagem do “Vampiro de Curitiba”: “Todo vampiro é imortal. Ou, ao menos, seu legado é”. A informação foi confirmada pela Secretaria de Estado da Cultura do Paraná (SEEC).

“O Governo do Estado lamenta profundamente a morte de Dalton Trevisan, um dos maiores escritores da história do Paraná e um dos maiores contistas brasileiros”, afirmou em nota o governador do Paraná, Carlos Massa Ratinho Júnior. “Dalton cravou uma marca importante na literatura paranaense e brasileira, escreveu dezenas de livros e criou personagens icônicos."

Dalton Trevisan foi premiado quatro vezes com o Prêmio Jabuti (1960, 1965,  1995 e 2011), ganhou duas vezes o Portugal Telecom, além de conquistar o Troféu APCA, o Prêmio Camões e o Prêmio Machado de Assis, da Academia Brasileira de Letras. Entre seus romances estão A polaquinha, O vampiro de Curitiba, Novelas nada exemplares, Cemitério de elefantes, entre outros clássicos. Ele também fundou a revista Joaquim (1946 a 1948) e escreveu  adaptações de sua obra para o cinema e para o teatro. Um de seus hobbies era fazer pequenas tiragens artesanais com seus contos, para presentear os amigos.

A partir de junho de 2025, para marcar os 100 anos de Dalton Trevisan, a obra completa passa a ser publicada em nova edição pela Todavia.

O Teatro de Comédia do Paraná, retomado pelo Centro Cultural Teatro Guaíra neste ano, prepara a montagem da peça Daqui ninguém sai, baseada em obras do curitibano e em cartas que trocou com outros artistas, com direção geral da atriz e produtora Nena Inoue. A estreia está marcada para março de 2025 no Festival de Curitiba.

Filho do industrial João Evaristo Trevisan e de Catarina Stocchero Trevisan, Dalton Jérson Trevisan nasceu em 14 de junho de 1925 e teve dois irmãos, Derson e Hilton Dárcio. Formado em Direito, Dalton Trevisan foi casado com Yole Bonato, que morreu em 1998, com quem teve duas filhas. Antes de se dedicar à literatura, trabalhou na Fábrica de Louça, Refratário e Vidro, pertencente ao pai, até sofrer um acidente, em uma explosão, que o deixou ferido.

"Mestre do conto, desvendou como poucos as complexidades humanas e as angústias cotidianas da vida urbana. Dalton retratou com crueza a solidão, os dilemas morais e as contradições da classe média, com um olhar atento para os excluídos e marginalizados", afirma uma nota publicada pela Secretaria de Estado da Cultura do Paraná. "O Vampiro de Curitiba criou uma obra enraizada na capital paranaense, elevando suas ruas e seus bairros a verdadeiros personagens", diz a nota.

Para Dalton Trevisan, a obra era mais importante do que o autor e sua vida. Esta era uma das razões para ser avesso à exposição pública e ao não comparecimento em cerimônias de premiação e homenagem. Mas gostava de dar caminhadas pelo bairro onde morava, todas as manhãs. Não cultivava, tampouco, o hábito de falar à imprensa. A última entrevista que concedeu data de 1972. Fotos, também, nem pensar. Só flagrantes, à revelia. Quando era mais moço, no entanto, deixava ser fotografado pelo irmão, e ainda fazia poses.

"Sua reclusão pública contrastava com a vivacidade de sua escrita, que permanece como um marco da literatura brasileira contemporânea. Dalton deixa um legado de rigor literário, criatividade e uma visão aguda e implacável sobre o ser humano", finaliza a nota da secretaria de Cultura do Paraná.