Faleceu na manhã desta quinta-feira (10), o poeta, contista, produtor cultural e editor Juareiz Correia, que vinha enfrentando problemas renais e nas últimas semanas realizava sessões de hemodiálise. O velório será nesta sexta-feira, 11, no Cemitério Parque das Flores, a partir das 8h e o sepultamento, às 10h30. Produtor cultural, poeta, contista e editor, Juareiz foi responsável pela divulgação de vários poetas do movimento independente e por trazer à tona as obras de seus conterrâneos Ascenso Ferreira e Hermilo Borba Filho.
Juareiz nasceu em Palmares e foi, sobretudo, um importante produtor da poesia recifense, com a criação da Editora Nordestal, que editava entre o final dos anos 1970 e começo dos 1980, a revista Poesia, que ajudou a divulgar a produção de vários artistas que faziam parte do movimento independente ou marginal, , formado, entre outros nomes, pelos poetas Marcelo Mario de Melo, Cida Pedrosa e Marco Polo Guimarães.
Ele também colaborou com as edições Pirata, criada por um grupo de escritores - tendo a frente Jaci Bezerra, Alberto Cunha Melo e Eugênia Menezes, entre outros - que atuou entre 1970 e 1983, publicando no período, nada menos que 248 novas obras, e promovendo lançamentos que se tornaram célebres no Recife.
Em entrevista à escritora Maria de Lourdes Hortas respondeu sobre a sua participação nos movimentos da época. “Convivi com alguns autores, mas não participei do Movimento dos Escritores Independentes de Pernambuco. Eu já era independente e “pirata”., afirmou na ocasião.
Juareiz foi também autor do projeto de criação da Fundação Casa da Cultura Hermilo Borba Filho, de Palmares (PE), terra natal do escritor homenageado. Ele presidiu a instituição palmarense de 1984 a 1987 e de 1997 a 2004. Foi um dos grandes responsáveis pelo resgates da obra de seus conterrâneos Ascenso e Hermilo. E justificava desta forma, o empenho em tornar suas obras conhecidas dos pernambucanos.
“Ascenso e Hermilo cresceram para além de Palmares – Pernambuco – Nordeste... Têm dimensão nacional. Mas o conhecimento e reconhecimento disso, na própria cidade, e mesmo no nosso Estado, no tempo em que iniciei a minha atividade literária e cultural (décadas de 1970 e de 1980), eram tímidos e limitados. A obra poética de Ascenso tinha sido enterrada com ele há exatos 18 anos: Palmares e Pernambuco (e a incompetência era do Brasil também) não faziam nada para reeditá-la. Havia até uma “lenda” de que a sua companheira – Maria de Lourdes Medeiros - e a filha do poeta - Maria Luiza -, proibiam a sua publicação.”
Com a edição do número 7 da Revista “Poesia” (“Catimbó, Cana Caiana e Xenhenhém de Ascenso Ferreira” – julho / agosto, 1981) a editora de Juareiz resolveu esse impasse, promovendo o lançamento da 4ª. edição do livro Poemas de Ascenso Ferreira (Catimbó – Cana Caiana – Xenhenhém), na Livro 7 do Recife, em 1981. E esse livro com a poesia reunida de Ascenso Ferreira, 14 anos depois, foi mais uma vez relançado pela Nordestal Editora, iniciando as comemorações do seu centenário de nascimento em 1995.
Já com Hermilo Borba Filho, empenhou-se junto a sua viúva, a produtora cultural Lêda Alves, a disseminar a memória do autor, principalmente na terra natal. “Hermilo Borba Filho, romancista e contista publicado nacional e internacionalmente, com uma obra literária e artística (criação teatral) sólidas, era, após o seu encantamento, desrespeitosamente, um “escritor maldito” na sua cidade, que ele havia eternizado nos seus romances, contos e crônicas... Idealizamos e junto com amigos e amigas de Palmares e do Recife, sensibilizamos o prefeito Luiz Portela de Carvalho e o vice-prefeito Francisco de Assis Rodrigues, e a Prefeitura Municipal dos Palmares, em 1983, instituiu a criação da Fundação Casa de Cultura Hermilo Borba Filho, a primeira fundação cultural criada no Interior de Pernambuco. Existe, está de pé, iluminando a cena cultural da região mais pobre do Estado, e culturalmente mais rica, há mais de 35 anos... “, disse em entrevista a Lurdes Horta.
Publicou quatro livros de poesia, três em parceria com José Terra, seu filho; organizou e publicou antologias de poesia, de crônicas e entrevistas em parceria com Jair Pereira, Raimundo Carrero, Ricardo Leitão e Vanja Carneiro Campos, (A palavra de Hermilo com Leda Alves); e tem, inéditos, prontos para publicação, vários livros nos quais vinha trabalhando. Recentemente, ele anunciou a reedição de um dos seus mais celebrados trabalhos, o livro Americanto, amar, América.
A partir da sua editora de e-books Panamerica, Juareiz também dedicava-se à reprodução das edições de Poesia dos anos 80, e tinha muitos planos. Ao completar 70 anos, em 2021, traçava grandes projetos.
Juareiz também atuou como diretor editorial da Panamericana Nordestal Editora, do Recife, e assessor da Companhia Editora de Pernambuco - CEPE. Foi colunista do Diário do Grande ABC (Santo André) de 1970 a 1972, e colunista literário da Folha de Pernambuco (Recife-PE), onde publicou a páginas “Letras e Leituras”, de 1990 e 1991.
Era um homem simples, boêmio quando jovem e conhecido por sua marca registrada - a mesma de Tarcísio Pereira da Livro 7 : os casacos, boinas e calças jeans. Juareiz era quase um personagem de um Recife que sonhava com versos e livros. Durante entrevista, definiu-se: Sou apenas um homem que escreve versos, que tem a sorte de publicar alguns livros de sua autoria e de autores que admira. E não me considero um agitador cultural; sou um simples produtor e administrador cultural sonhador e persistente.”
Os “Políticos”
os “políticos” todos os dias
ensaiam as mesmas loas
e o homens cantam,
remontam os mesmos figurinos
e os homens copiam,
repetem os mesmos chavões
e os homens aplaudem,
discursam as mesmas louvações
e os homens se encantam,
mantêm as mesmas lutas
e os homens lhes seguem,
recitam as mesmas cartilhas
e os homens publicam,
usam os mesmos métodos
e os homens arrebanham-se,
postulam os mesmos credos
e os homens guerreiam,
revivem a mesma vida
e os homens matam-se.
(de “Canção Portátil”)