Morre o Nobel de Literatura Mario Vargas Llosa, aos 89 anos

Autor de "A guerra do fim do mundo", uma recriação sobre Canudos, "A festa do bode" e "A cidade e os cachorros", escritor teve a morte confirmada pela família

Mario Vargas Llosa, último autor sobrevivente do “boom” latino-americano e um dos mais polêmicos intelectuais do século 20, morreu neste domingo, 13 de abril de 2025, em Lima, aos 89 anos. A notícia foi confirmada por sua família e repercutida por veículos como El País, Página 12 e Reuters. Segundo desejo do próprio escritor, não haverá cerimônia pública.

Jorge Mario Pedro Vargas Llosa, nascido em Arequipa, Peru, em 1936, construiu uma obra que estabeleceu novos desafios às fronteiras literárias e ideológicas. De A cidade e os cachorros a A festa do bode, suas narrativas exploraram os labirintos do poder e da violência. Foi laureado com o Nobel de Literatura em 2010 e, em 2021, tornou-se o primeiro autor a escrever em espanhol a ingressar na Academia Francesa, quebrando as regras da instituição, fundada em 1635.

Vargas Llosa iniciou sua trajetória política como marxista e apoiador da Revolução Cubana, mas alterou seu percurso como pensador e, ao final, era um defensor do liberalismo, rompendo com antigos aliados. Por essa razão, enfrentava críticas de diversos setores. Em 1990, candidatou-se à presidência do Peru, sendo derrotado por Alberto Fujimori (1938-2024). Apesar da derrota, muitas de suas propostas de reforma foram posteriormente implementadas.

Vargas Llosa, um dos escritores mais celebrados em língua espanhola, escreveu romances históricos, comédias, histórias de mistério e de assassinato, ensaios literários, políticos e peças de teatro. Traduzido para mais de 30 idiomas, destacam-se aindam em sua bibliografia: Conversas na catedral, Travessuras da menina má e Tempos ásperos.

Em 1981, Vargas Llosa publicou A guerra do fim do mundo, que busca recriar a Guerra de Canudos, conflito ocorrido no sertão da Bahia no final do século XIX. Inspirado por Os Sertões, de Euclides da Cunha, o romance é considerada uma das mais fundamentas narrativas sobre o Brasil escritas por um autor estrangeiro.

Em 2014, Vargas Llosa foi eleito sócio correspondente da Academia Brasileira de Letras (ABL), ocupando a cadeira 12. A eleição de Vargas Llosa reflete como a instituição vê sua contribuição à literatura e sua conexão com temas brasileiros.

Seu último romance, Dedico a você meu silêncio, lançado em 2023, apresenta o crítico musical Toño Azpilcueta à procura de entender e unificar seu país, no caso o Peru, pela arte, numa narrativa épica e, ao mesmo tempo, delirante, como certo romance de cavalaria, o Quijote.