Lançamento da obra "O esquecido poeta Pereira da Silva", na FliParaíba

O lançamento da obra do escritor, desembargador e professor, Rogério Fialho acontece nesta sexta-feira (29), no Centro Cultural São Francisco

Dentre as programações diversas do 1º Festival Literário Internacional da Paraíba (FliParaíba), o escritor, desembargador e professor Rogério Fialho lança seu novo livro, O esquecido poeta Pereira da Silva - Primeiro paraibano na Academia Brasileira de Letras. O evento de lançamento acontece das 17h às 18h da sexta-feira (29), no pavilhão do Centro Cultural São Francisco.

Editada pela editora Noeses, a obra escrita por Fialho conta com seis capítulos onde se debruça perante a vida e poesia de Pereira da Silva. Como dito no título do livro, Pereira foi o primeiro paraibano a ocupar uma cadeira na Academia Brasileira de Letras e foi um grande poeta e jornalista brasileiro, porém seu nome foi esquecido por grande parte da população.

Buscando justamente um resgate da obra poética de Pereira da Silva, o livro escrito por Rogério Fialho é a comunhão de uma extensa pesquisa sobre  Silva e reúne, além de poemas, fotos e capas das edições originais de livros de Pereira Silva.

Sobre o lançamento de sua mais recente obra, Rogério explicou à Pernambuco sobre a dificuldade de acesso às obras do poeta e sua vontade de resgatar a magnitude do poeta.

Como se deu seu primeiro contato com o poeta Pereira da Silva? O que lhe atraiu para a sua escrita?

Os meus antepassados chegaram a Araruna na época da fundação da cidade. Por isso, os meus vínculos são enormes com o lugar. Mesmo assim, somente tomei conhecimento da figura e da obra de Antônio Joaquim Pereira da Silva já na idade adulta. Em nosso país, há um certo déficit em preservar a memória das personalidades ilustres.

Pereira da Silva nasceu em Araruna em uma família muito pobre. O seu pai era fabricante de caixões e de rabecas. Com o falecimento do pai e o novo casamento da mãe, ele foi ainda muito jovem tentar a vida no Rio de Janeiro, “pulando” de emprego em emprego, até que descobriu a sua vocação para o jornalismo. Com um emprego mais ou menos certo, tinha tempo para, durante o dia, compor os seus poemas. Chegou a formar-se em direito, conseguindo, por meio do seu sogro, o famoso historiador Rocha Pombo, um cargo de Promotor Público no Paraná. Mas o direito não era a sua área. Abandonou o cargo e voltou ao jornalismo.

Conheci a sua obra através do historiador e memorialista Humberto Fonsêca, que se dedicou a escrever vários livros contando a história de Araruna e dos seus personagens. Lamento imensamente que Humberto, o meu grande incentivador a pesquisar e escrever biografias, tenha falecido há três meses, não alcançando presenciar este lançamento, que, tenho certeza, muito o faria feliz.

Por que contar a história desse poeta?

A Paraíba, meu estado, é muito pequena. Mas tem enorme destaque na área cultural. Já teve sete paraibanos integrando a Academia Brasileira de Letras-ABL. Todos conhecem, ao menos por referência, José Américo de Almeida, José Lins do Rego, o general Aurélio de Lyra Tavares (que curiosamente escrevia sob o pseudônimo ADELITA, as iniciais do seu nome), Celso Furtado, Assis Chateaubriand e Ariano Suassuna. Contudo, mesmo nos meios mais intelectualizados, poucos lembram do poeta simbolista ararunense, que foi o primeiro paraibano a ocupar cadeira do palacete Petit Trianon, sede da ABL, no Rio de Janeiro.

Como foi o processo de escrita do livro?

Nas férias de julho de 2022, estava na varanda de casa, em Araruna, conversando com o jovem historiador Wellington Rafael, quando, às vésperas do centenário da obra “O Pó das Sandálias” (percebam a beleza do título), começamos a divagar o motivo pelo qual Pereira da Silva não era conhecido, nem mesmo em sua terra. Nessas mesmas férias, fui pesquisar em sebos de Porto Alegre e Rio de Janeiro, tentando resgatar todas as obras do poeta.

Consegui todas, menos a primeira, “Vae soli” (ai do solitário), obra seminal com edição limitadíssima, que só encontrei na biblioteca do amigo Humberto Lucena, que me franqueou a sua reprodução. A conclusão a que cheguei, e não darei spoiler sobre o livro, após analisar várias alternativas, foi a de que, tendo o poeta falecido relativamente jovem, as suas obras não foram reeditadas. Daí a dificuldade de acesso, ainda que por meio digital, a suas obras. E não são poucas: Vae Soli, de 1903; Solitudes, de 1918; Beatitudes, de 1919; Holocausto, de 1921; O pó das Sandálias de 1923; Senhora da Melancolia, de 1928 e Alta Noite, de 1940.

Escrevi o primeiro artigo, na prestigiada Revista da Academia Norteriograndense de Letras, acerca dos dados biográficos do poeta, o segundo por ocasião do centenário de “O Pó das Sandálias", como capítulo do livro Paraíba na Literatura, vol. IV, e, um outro, na Revista Correio das Artes, publicação mensal encartada no Jornal A União, de João Pessoa, sobre aspectos literários da obra, extremamente melancólica e com apologia ao sofrimento e à dor.

Após localizar o único neto de Pereira da Silva, Jorge Luis Pereira da Silva, radialista da Rádio Tupy no Rio de Janeiro, que me franqueou várias fotografias do avô, resolvi juntar o material que havia coletado e escrever o livro.

O que significa lançar a obra em um evento literário da Paraíba, terra de Pereira da Silva?

A editora NOESES é de São Paulo e, curiosamente, por conta de uma série de circunstâncias, a obra foi lançada primeiro na capital paulista. Agora tenho a satisfação de fazer o lançamento em João Pessoa, no 1º Festival Internacional Literário da Paraíba (FliParaiba), evento de grande magnitude, promovido pelos órgãos culturais do governo do estado, palco privilegiado, no qual acredito que haverá uma maior divulgação da biografia e da obra de Pereira da Silva.

Para você, qual é a importância de novas obras literárias que resgatem artistas “esquecidos” pelo grande público?

O resgate de personagens do passado é essencial para que possamos pensar o futuro. No caso de Pereira da Silva, várias biografias fazem imensa confusão, até mesmo pela existência de três literatos que usavam o mesmo nome. O historiador João Manuel Pereira da Silva, mais antigo, do Rio de Janeiro, imortal na fundação da ABL, e o poeta mais contemporâneo, Pereira da Silva, de Manaus. O próprio site oficial da Academia Brasileira de Letras (ABL) relacionava, na produção bibliográfica de Antônio Joaquim, que se assinava A.J. Pereira da Silva, o paraibano, um livro, Poemas Amazônicos, do poeta do Norte. Dizia também o sítio oficial que A.J. Pereira da Silva tinha sido Juiz de Direito no Paraná, quando, na verdade, foi Promotor Público.

Em visita à sede da ABL, no primeiro semestre deste ano, entreguei um exemplar do livro e sugeri a correção das informações no site. A tecnologia da informação e a digitalização dos cartórios de registro civil do país me permitiram corrigir o nome da primeira mulher do simbolista, conhecida como Lili, descobrindo que era, na realidade, Carmelita, e não Eulina, como mencionado em notas biográficas anteriores.