Edgard Telles Ribeiro é eleito para cadeira 27, sucedendo o poeta Antônio Cícero na ABL

Diplomata, contista e romancista tentou pela segunda vez uma vaga na Academia Brasileira de Letras. Na primeira vez, perdeu para Lília Schwarcz

A Academia Brasileira de Letras renovou nesta quarta-feira (11/12) uma tradição da casa ao era eleger o escritor e diplomata Edgard Telles Ribeiro, 80 anos, para ocupar a cadeira 27, que pertencera ao poeta e filósofo Antônio Cícero, que faleceu há dois meses, na Suíça, por morte assistida.

Foi a segunda tentativa de Telles Ribeiro em se tornar imortal. Na primeira vez, ele concorreu com a historiadora, antropóloga, professora e escritora Lília Moritz Schwarcz, que foi eleita para a cadeira 9, antes ocupada pelo também diplomata Alberto Costa e Silva, com 24 dos 38 votos possíveis. Telles Ribeiro recebeu na ocasião 12 votos, o que o encorajou a fazer uma nova tentativa, elegendo-se com 28 votos, numa disputa com outros 14 candidatos.

A tradição diplomática da ABL vem de longe, e tem entre seus ilustres imortais nomes como Gonçalves de Magalhães, Hipólito da Costa, Barão de Rio Branco, Olegário Mariano, Guimarães Rosa, João Cabral de Melo Neto, Ribeiro Couto, Antônio Houaiss, Affonso Arinos, Sérgio Corrêa da Costa, Roberto Campos, José Guilherme Merchior, Sérgio Paulo Rouanet e os atuais ocupantes da cadeira 22, João Almino, e da cadeira 29, Geraldo de Holanda Cavalcanti.

Nascido na cidade litorânea chilena de Valparaíso, em 13 de novembro de 1944, Edgard Telles Ribeiro estreou na literatura de ficção apenas em 1991, com o romance Criado mudo, que já recebeu traduções para o inglês, o alemão, o espanhol e o holandês. Sua última obra publicada foi o romance Jogo de armar, em 2023, pela Todavia, sua atual editora, que também lançou Uma mulher transparente (novela, 2018) e O impostor (romance, 2021).

A estreia de Telles Ribeiro ocorreu em 1989, com o trabalho acadêmico Diplomacia cultural, seu papel na política externa brasileira, que recebeu edição do Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais (IPRI) /Fundação Alexandre de Gusmão / Ministério das Relações Exteriores.

Merecem destaque ainda, entre os 15 livros de ficção de publicou: Histórias mirabolantes de amores clandestinos (contos, Record, 2004), 2º lugar no prêmio Jabuti 2005 e 3º no Portugal Telecom 2005; Olho de rei (romance, Record, 2005), Prêmio da Academia Brasileira de Letras para Melhor Obra de Ficção 2006 e 3º lugar no Prêmio Jabuti 2006 na categoria romance; e O punho e a renda (romance, Record, 2010), Prêmio de Melhor Romance do Pen Clube 2011.

Além de se dedicar à diplomacia, Edgard Telles Ribeiro foi crítico de cinema, escrevendo para o Correio da Manhã e O Jornal (dos Diários Associados), no Rio de Janeiro. A paixão pelo cinema o levou a estudar na Universidade da Califórnia em Los Angeles (Ucla) e a dirigir curtas-metragens. O mais importante deles, Vietnã, viagem, no tempo, exibido na Quinzena de Realizadores do Festival de Cannes, em 1980. No período de 1978 a 1982, ensinou cinema na Universidade de Brasília (UNB).

Edgar Telles Ribeiro ingressou na carreira diplomática em 1966 e chegou a chefiar o Departamento Cultural do Ministério das Relações Exteriores (2002-2005). Serviu como diplomata nos Estados Unidos, Equador e Guatemala; e, como embaixador, na Nova Zelândia, Malásia e Tailândia.

Edgar foi eleito por ser um romancista, e não um diplomata, mas como diplomata também trabalhou na área cultural, inclusive com [o acadêmico e então ministro da Cultura do governo Lula] Gilberto Gil, afirmou o presidente da ABL, jornalista Merval Pereira, para quem essa experiência na área da política cultural pública será importante para a Academia.

Após ser eleito, Telles Ribeiro comentou a nova conquista. “O fato de a ABL ter se diversificado, abrindo campos novos, é fundamental para o país”, afirmou o novo imortal. “Eu fico contente em ter me candidatado e de ter sido eleito para trazer essa contribuição nessa vertente específica de contador de histórias”. Dessa forma, acredita, a palavra ajuda “a despertar o sonho das pessoas”.