Admaldo Matos lança Vozes do Esconderijo

Livro que foi produzido durante a pandemia da Covid-19, e que mistura ensaios e ficção, será lançado nesta segunda, dia 24 de março, a partir das 15h, na Academia Pernambucana de Letras

Admaldo Matos lança Vozes do Esconderijo, misto de novela e ensaio
Admaldo Matos lança Vozes do Esconderijo, misto de novela e ensaio

Danielle Romani

Durante a pandemia da Covid-19, o escritor Admaldo Matos de Assis  sentiu na pele o peso do isolamento e da angústia de ficar trancado entre quatro paredes. Mas não deixou que lhe abatessem. Autor de vários romances e livros de contos, aproveitou para colocar a mão na massa e produzir mais um trabalho. O resultado dessa reclusão involuntária foi Vozes do Esconderijo, livro misto que contém dois ensaios e uma novela. Ele será lançado nesta segunda-feira, dia 24, a partir das 15 horas, em uma sessão ordinária da Academia Pernambucana de Letras da qual Admaldo ocupa uma cadeira.

O título  Vozes do Esconderijo já entrega o tempo em que foi feito. “Surgiu no isolamento imposto pela pandemia. Eu definiria meu livro como de natureza mista, nele são reunidos dois gêneros literários, ensaio e ficção. Os ensaios são: a Arte de criar personagens e Da Infidelidade em romances de Machado de Assis, além de uma novela intitulada Máscara, gênero maior que o conto e menor que o romance. “, explica Admaldo.

O livro, na verdade, também traz um tom memorialista. Além dos ensaios e da novela, Admaldo faz um balanço dos seus 60 anos voltados à literatura. Tarefa que se iniciou com a publicação do conto Jesus Cristo da Silva, quando tinha 19 anos, e que foi ganhador da menção honrosa do concurso promovido pelo jornal Última Hora - Nordeste, empastelado pela ditadura em 1964. Um trabalho que, apesar do destaque, Admaldo chama no livro de “O conto maldito”.

A denominação teve seus motivos: publicado num jornal de Gravatá. “Jesus Cristo da Silva narra um dia na vida de um “moleque de rua”, criança em situação de desamparo, sem família estruturada , sem escola que a oriente, sujeita à fome, ao frio, às intempéries e aos perigos de um mundo desumano, que a encaminha, salvo algum milagre, a percorrer trajetória de violência, crime e morte prematura.”, explica Admaldo no livro, para depois contar os dissabores que viveu junto a comunidade da cidade interiorana.

“Condenaram o título devido à associação do popular “Silva” ao nome de Jesus. Condenaram a forma, em razão do quase estribilho - Bina (o personagem principal) é um nego safado, safado e filho da puta - embora não se envergonhassem de tratá-lo assim no dia a dia e a outros meninos em situação idêntica. “, justifica.

Autor de quatro livros de contos e seis romances, entre os quais A Muralha e o Cavalo, que recebeu um prêmio da Academia Pernambucana de Letras quando o autor ainda não era imortal, em Vozes do Esconderijo ele aproveita sua experiência de seis décadas para dar dicas de como criar um trabalho ficcional. Admaldo aborda como se pode estruturar um romance, como explorar personagens, dá ideias de como criar uma história sem se pautar apenas no lado memorialístico, apesar de ressaltar que é difícil não haver um lado pessoal, memorial nos trabalhos.

O segundo ensaio, Da Infidelidade nos romances de Machado de Assis, o autor resgata uma faceta curiosa e divertida da obra do autor - um dos seus preferidos - que vai além das dúvidas em torno da misteriosa Capitu de Dom Casmurro.

Admaldo questiona também as mulheres de Brás Cubas, como a jovem e interesseira Marcela, que o abandona após não ter mais dinheiro para lhe dar presentes caros; e a frágil Eugênia, que morreu antes que algo mais sério se concretizasse. Outra personagem perfilada é a dúbia Sofia de Quincas Borba , que sofre com o divertido crivo do autor.

Obviamente o ensaio também aborda o atormentado Bentinho e seus ciúmes, que suspeita de que a mulher Capitu possa estar traindo-o com o amigo Escobar. Uma dúvida que reina há mais de um século, e que dificilmente alguém que ler Dom Casmurro esclarecerá.

Encerrando o livro, o autor nos traz a novela Máscara, que como indica o nome, também trata da experiência do escritor com o isolamento absoluto que viveu durante nove meses da pandemia.

Auditor do Tesouro Estadual aposentado, bacharel em direito, duas vezes vereador do Recife, além de secretário do Estado e secretário municipal, Admaldo afirma que atualmente escreve mais e  lê menos. “Na verdade, releio muito”.

E detalha um pouco sua formação: leitor desde os 11 anos, foi influenciado por diversos escritores, a exemplo de Shakespeare, Cervantes, Dostoievski, Flaubert, Rachel de Queiroz, Clarice Lispector, Scott Fitzgerald, Castro Alves, Manuel Bandeira, Carlos Drummond, João Cabral de Mello Neto, entre muitos outros. Com destaque para Machado de Assis e Gabriel Garcia Marquez, que são seus dois ficcionistas preferidos. Dos mais novos, cita Cristovão Tezza e o seu livro O filho eterno, que considera “um primor”.

Lançamento de Vozes do Esconderijo (Livro Rápido - 252 páginas)
Quando: nesta segunda-feira, 24 de março
Horário: 15h
Local: Academia Pernambucana de Letras
Endereço: Avenida Rui Barbosa, 1596, Graças, Recife