Existem livros que parecem demarcar e lançar um perfil imaginário no caráter do seus possíveis leitores. Exemplos disso não faltam: On the road, de Jack Kerouac, A náusea, de Jean-Paul Sartre... É o caso também de Junky, o clássico de William Burroughs (foto), que a Companhia das Letras acaba de lançar numa nova edição. O livro parte de uma tríade bastante curiosa: um cotidiano modorrento, um atestado de dispensa do serviço militar e alguns trambiques. Assim o narrador de descreve sua vida antes das drogas. Nem mesmo as catástrofes da Segunda Guerra haviam sido merecedoras de sua atenção. Alguns miligramas de morfina causariam mais impacto.Mescla de confissão — William Burroughs foi dependente de narcóticos por catorze anos — e uma objetividade radical, marcada por uma narração veloz e sem espaço para reflexões psicológicas, o livro marcou a estreia do autor. A introdução é de ninguém menos que Allen Ginsberg, o grande herói beat.