Após quase uma década de silêncio, o escritor sergipano Francisco J. C. Dantas — uma das vozes mais marcantes da literatura brasileira contemporânea — retorna com o romance Caderno de ruminações. A mudança geográfica do sertão para a capital não afetou seu olhar feroz sobre o mundo, em que seus personagens são transformados em arquétipos, joguetes na mão de suas próprias fraquezas. Temos agora uma Aracaju totalmente decadente, tomada por políticos corruptos, uma cidade envelhecida e sem paz nem lei. Toda a tensão é voltada para a figura do médico Benildo Rocha Venturoso, homem que aos 50 anos faz um amargo balanço da sua existência até então. O impasse da sua vida é resumido logo nas primeiras linhas da obra: “Se não houvesse perdido a própria clínica e, dois meses adiante, não se deixasse arrebatar por Analice, a história do doutor Otávio Benildo Rocha Venturoso seria outra. Sendo cidadão de vida limpa, de linha de conduta impecável, presumia-se que, de tanto andar dentro das regras, fosse, como é de praxe, coroado por um destino exitoso”. Dantas é um escritor fatal.
Uma cidade “doente”
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- Categoria: Resenhas