O selo Penguin-Companhia acaba de lançar uma edição caprichada de O grande Gatsby, de F. Scott Fitzgerald. A beleza do projeto gráfico e o longo ensaio introdutório do crítico inglês Tony Tanner já seriam razões suficientes para indicarmos com louvor esse relançamento ou mesmo a possibilidade de (re) lermos um dos melhores primeiros parágrafos da história da literatura. Quem há de esquecer a sábia lição “Em meus anos mais vulneráveis de juventude, meu pai me deu um conselho que jamais esqueci: — Sempre que tiver vontade de criticar alguém — ele disse —, lembre-se de que ninguém teve as oportunidades que você teve”?
Todas essas seriam razões fortíssimas, mas não foi por qualquer uma delas que tive vontade de escrever sobre a obra maior de Fitzgerald. O grande Gatsby foi o livro que mais vi (vi, mas não li, que fique claro) durante as férias dos últimos três anos. A cada cidade que parava, a cada trem que precisava pegar, a cada novo quarto de hotel dividido com uma legião de estranhos, sempre havia algum viajante com o exemplar do livro.
É curiosa a relação que mantemos com os livros que escolhemos para companheiros de viagem. Coitados, na maioria das vezes, eles voltam para casa intocados ou com um ou dois capítulos lidos. Sempre perdem fácil para a praia, o museu, as companhias e os (bem-vindos) “desvios” de rota. Ainda assim é difícil não lançar mão de algum romance, de uma coletânea de contos que seja, na hora de correr o mundo. Mas por quê?
Livros de viagem não são simples possibilidades de leitura, mas “escudos” e álibis para os momentos difíceis, para quando ninguém pode lhe acompanhar ou para quando você não deseja que a solidão brilhe como um luminoso de neon. Na melhor das hipóteses, você nunca está sozinho: está com um livro. Está a favor de alguma coisa. Chato é que não é tarefa fácil se concentrar numa leitura quando estamos ansiosos. Ainda assim, é bom passear os olhos pela letras, até que alguma sensação de bem-estar se instale. O ritual do livro para viagem é tamanho que Walter Benjamin escreveu que preferimos comprar um novo exemplar na hora de embarque do que confiar em algo da nossa biblioteca.
Mas por quê O grande Gatsby é tão bom companheiro de viagem, já que se trata de um livro de quebra de ilusões, que disseca festas grandiosas sem qualquer sentido? Arrisco dizer que ele é favoritíssimo por se tratar de um jovem clássico absoluto - um livro que carrega consigo um grau de “respeito” e de segurança como poucos. Viagens são momentos em que nos arriscamos a descobrir um mundo selvagem lá fora. Ter O grande Gatsby ao lado é uma espécie de “seguro” que estamos acompanhados de algo que sobreviveu às intempéries dos tempos.
Prometo que assim que pegar meu próximo avião, esquecerei toda minha coleção de livros policiais e levarei a obra-prima de Fitzgerald comigo. Mas garanto a (re)leitura.
ROMANCE
O grande Gatsby
Autor - Scott Fitzgerald
Editora - Penguin/Companhia das Letras
Preço - R$ 25,00
Páginas - 256