O moçambicano Mia Couto parece ter como missão encontrar poesia no engajamento. É o caso do seu romance mais famoso, Terra sonâmbula, que recria de forma onírica a destruição que o seu país viveu durante os difíceis anos da Guerra Civil. Ao reconstruir a língua (e suas próprias memórias nesse processo), ele se tornou o dono de uma literatura singular, intransferível. Seu caráter engajado (e poético) fica ainda mais claro na coleção de ensaios E se Obama fosse africano. Quem está acostumado à sua ficção, não vai se decepcionar: os mesmos traços característicos da sua escrita aparecem aqui, intactos. O leque de assuntos é vastíssimos: ele comenta sua impressão sobre mestres como Jorge Amado e Guimarães Rosa até os entraves ao desenvolvimento dos povos africanos. Mas esqueça os temas, lemos Mia Couto atrás de passagens como esta: “Não existe geografia que nos seja exterior. Os lugares - por mais que nos sejam desconhecidos – já nos chegam vestidos com as nossas projeções imaginárias”. (Schneider Carpeggiani)