O conceito aplicado na fotografia de que é o olhar do autor que recorta o mundo através de suas lentes (retina, máquina e imaginação), deveria ser estendido também ao trabalho do contista. Isso porque, nos 40 contos de Diógenes Moura, assuntos cotidianos como violência, sexo e solidão (com uma permanente dose de ironia) são relatados e interrompidos bruscamente, o que os aproximam – assim como sugere o subtítulo – de uma sessão de curtas-metragens, escolhidos por lentes que nem sempre bastam ao espectador.

Quem julga a escrita dos contos como “fáceis” por  serem breves e concisos, se espanta com a condução dos contos aqui reunidos: o pretexto da realidade é apenas o início do recorte do autor, que deslancha, a cada página, entre cenas ficcionais e documentais.

No glossário, Moura expõe as supostas situações em que cada um dos contos (nomeados por números) foi escrito: Vinte e cinco: Sábado, 11h45: Rua dos Andrades, região por onde vive o povo do crack, em São Paulo. Vinte e sete: De como mataram Marilyn Monroe a partir das fotografias de Bert Stern. Inspiração ou inventividade?


Contos
Ficção interrompida
Autor: Diógenes Moura
Editora: Ateliê Editorial
Preço: R$ 36
Páginas: 114