Alain de Botton volta com sua filosofia pop e nos ajuda a resolver as agruras do trabalho
No Brasil, a primeira vez que se ouviu falar do suíço Alain de Botton foi no começo dos anos 1990.
Ele surgiu como um sábio conselheiro sentimental antes das discussões sobre as relações no fim/princípio de século, à Sex and the city, tomarem conta do juízo universal. A diferença é que, no lugar dos Cosmopolitans (aqueles drinks coloridos que, segundo a série de TV, colavam corações partidos), ele trazia citações a grandes autores e gráficos estatísticos no meio do texto. Tudo isso para nos fazer crer que coração rima com razão para além do batatinha-quando-nasce.
Se seus livros não resolviam nossas dores-de-cotovelo (os Cosmopolitans também não, vamos admitir), ao menos traziam o consolo do amor após Descartes!
Que maravilha: você podia até passar a madrugada inteira pensando no “ligo ou não ligo” ou chorando pelo seu amor, que Flaubert e Deleuze estariam ao seu lado, compreensivos e sábios (claro!). Ensaios de amor foi acolhido com estardalhaço pela crítica internacional mais por sua embalagem moderninha (para a época) que por suas reais qualidades literárias. No fundo, o livro não passava de um ensaio engraçadinho travestido de um romance frouxo. Ainda bem que Alain não virou a Carrie Bradshaw da filosofia e decidiu partir para outros terrenos. Nos últimos anos, quis nos ajudar de todas as maneiras.Veja só como ele foi prestativo: nos ensinou a observar a alegria de viver sob a sombra de um prédio Bauhaus (A arquitetura da felicidade), nos tirou o medo de carimbar o passaporte para o desconhecido (A arte de viajar) e até quis provar que Platão, ora bolas, foi um cara legal (o best-seller As consolações da filosofia).
Para incrementar seus serviços prestados à comunidade, Monsieur Botton condimenta agora nosso ganha-pão diário em Os prazeres e desprazeres do trabalho. Essa obra consolida de vez sua visão de que a filosofia nada mais é que um “segura na mão de Aristóteles e vai” para quando o mundo se tornar incompreensível. Perspectiva simplista, claro, mas que tem arregimentado sucessos de venda e imitadores numa velocidade alucinante.
No mundo dos bestsellers e salafrários do saber, temos de admitir, Botton paira acima da concorrência: tem uma habilidade raríssima na construção de um texto envolvente e é um pesquisador sério, que sabe dissolver os conceitos mais espinhosos como um antiácido num copo de água gelada.
Quem já leu Botton vai adorar Os prazeres e desprazeres do trabalho. O autor trata amor, turismo, trabalho e Platão da mesma forma. No frigir dos ovos, todo livro que traz a palavra ajuda como ethos repete a mesma Dicas para você se tornar agora o empregado do mês coisa: respire e pense duas vezes antes de agir.
Ao menos com ele você aprende a citar figurões da filosofia ou da literatura numa roda de conversas e ainda leva de brinde tiradas do quilate de “o impulso de exagerar a importância do que estamos fazendo é a própria vida circulando em nós” antes de bater o cartão de ponto.