Tudo pode terminar com um príncipe encantado montado num cavalo branco levando “Mariazinha” para longe de sua vida absurda, assim como, tudo pode começar com a história de um menino que, ainda bebê, fora acolhido e batizado de “Mariazinha” por um casal de idosos, porque Vovó e Vovô sempre quiseram uma filha.

Enredos como esse, que beiram o fantástico e o incoerente, estão presentes em Histórias desagradáveis, reunião de dez contos escritos pelo artista plástico Gladstone Machado, que se aventura em sua terceira experiência editorial. Entre situações cotidianas, aparentemente pacatas, surgem reviravoltas como as de Toni, um menino que diante da situação que lhe é imposta pela separação dos pais deseja, ainda que secretamente, ter um “amigo” igual ao do pai quando crescer.

As histórias (autobiográficas? ficcionais?) tratam, sobretudo, da relação com o outro, do estar presente no mundo, e a temática da homossexualidade masculina encontrada na maioria dos contos revela um eixo por onde narrativas, ora românticas, ora perversas, se mostram invariavelmente cruas.