Livro que reúne os principais perfis da Piauí mostra como ir além do fast food do batente Danielle Romani O new journalism, ou jornalismo literário, como se convencionou chamar o gênero no Brasil, surgiu na década de 1950, e se tornou conhecido graças à inventividade de repórteres como o norte-americano Truman Capote. Foi ele que em 1956 produziria para a revista New Yorker a reportagem-perfil O duque e seu domínio, uma radiografia sobre a vida e a personalidade de Marlon Brando, trabalho que reorientaria a elaboração de perfis nas décadas seguintes. Cinquenta anos depois, o jornalismo literário continua fazendo escola, e encontrou na revista Piauí um amplo espaço. Lançada em outubro de 2006, a publicação tem se firmado pela edição de textos longos e bem elaborados, destacando-se do jornalismo fast-food adotado nas últimas décadas pela maioria das redações. Vultos da República – Os melhores perfis políticos da revista Piauí, lançado pela Companhia das Letras, é a comprovação de que os textos produzidos pela revista não são descartáveis. Os nove perfis, selecionados por Humberto Werneck, são assinados por um time de peso, os experientes João Moreira Salles, Daniela Pinheiro, Consuelo Dieguez e Luiz Maklouf Carvalho. Os entrevistados são figuras de destaque. Pertinentemente, estão retratados os três principais candidatos presidenciáveis: Dilma Roussef, José Serra e Marina Silva. Difícil dizer qual, entre os nove, é o mais completo, o que consegue, com maior precisão, captar a “sombra” e a essência do personagem em questão. Mas um, em especial, escrito por Moreira Salles, nos faz refletir sobre as desigualdades: o que mostra as agruras vividas pelo caseiro Francenildo dos Santos Costa, que teve sua vida destruída ao se meter num imbróglio envolvendo homens poderosos. Humilde, foi acusado, acuado, perdeu o emprego e as perspectivas de um futuro digno, pelo menos a curto prazo. O perfil em questão não se limita apenas a captar a essência do ingênuo Francelino. Soa mais como uma denúncia e como um flagrante de uma sociedade que desampara os pobres e protege os ricos. Também chama atenção a originalidade da linguagem. Na reportagem sobre o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o lead começa com uma onomatopéia, um “Plim!”. Recurso já utilizado por papas do new journalism, a exemplo de Tom Wolfe, que, em 1964, em matéria escrita para a New York Herald Tribune, iniciou o trabalho com uma onomatopéia imitando uma estridente gargalhada: “Ha-ha-ha-ha-ha-ha-ha...” Em todos os textos se confirmam os elementos básicos para se fazer um bom jornalismo: tempo, razoável, investimento - em muitos casos, como nos perfis de Fernando Henrique e José Dirceu, os repórteres se deslocaram para outros países – apuração acurada e fluência de estilo. Elementos que sobram nas reportagens e que provam que, com as condições necessárias, é fácil fazer um jornalismo de qualidade no Brasil.