Com uma carreira literária que começou aos 17 anos, Marie NDiaye é uma das mais respeitadas autoras contemporâneas francesas. Coração apertado, seu décimo romance, o primeiro lançado no Brasil, apresenta Nadia, narradora e protagonista, que, junto com o seu marido Ange, passa a estranhar a atitude das pessoas que os cercam.
Os motivos do incômodo – que não cresce em proporção, mas se mantém onipresente, como uma paranoia – começa quando a personagem se percebe atravessada de olhares hostis. Apesar disso, Nadia segue confiante, dizendo a si mesma que não fez nada de errado, como se conformada com a angústia e a náusea que passa a carregar – “Nós nos sentimos inocentes, mas temos vergonha”, explica.
Equilibrando-se entre o drama e o relato pessoal, o texto mantém a aura de mistério, ainda que os fatos sejam encarados passivamente. É como se Nadia notasse que o asco alheio é mais que uma impressão: trata-se de uma vontade de escapar de quem ela se tornou, uma necessidade não só social, mas também física, de se reconciliar com quem ela já foi.
(DG)
Inocência envergonhada
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