“Dá uma história? Se dá, começa há três anos. Em abril de 1976, quando é publicado meu primeiro livro, ele me manda uma carta. Com a carta vem uma foto, eu no colo dele: nu, estou sorrindo, tenho três meses e pareço um sapinho. Ele em compensação, está muito bem na fotografia: paletó cruzado, chapéu de aba fina, o sorriso franco – um homem de 30 anos que olha o mundo de frente.
Ao fundo, apagada e quase fora de foco, aparece
minha mãe”.
Assim começa Respiração artificial, romance que consagrou a literatura pós-moderna do argentino Ricardo Piglia. A obra recebe agora edição de bolso. Com esse livro, o autor ajudou a renovar a escrita hispano-americana numa época, o começo dos anos 1980, em que os chefões do Boom davam todas as cartas.
Essa busca por renovação, impressa em cada página da trama, fica ainda mais explícita na passagem: “Depois da descoberta da América não aconteceu mais nada nestes lares que mereça a mais mínima atenção. Nascimentos, necrológicos e desfiles militares: só isso” (Schneider Carpeggiani)