A poesia buscando recriar a pureza da linguagem infantil; contos cheios de ironia, que remetem a Machado de Assis; memórias de uma angustiada banda de rock cujo líder cometeu suicídio (como não lembrar de Kurt Cobain?); e uma surreal associação de gente que só quer se perder no anonimato. Quatro temas distintos que têm em comum a vitória no II Prêmio Pernambuco de Literatura e a atração que exercem sobre o leitor, da primeira à última página.
Novos autores aportam no cenário literário pernambucano, graças ao prêmio instituído pelo Governo do Estado, numa parceria entre a Secretaria de Cultura/Fundarpe e Cepe Editora, que, em dezembro de 2014 entrou em sua terceira edição e está com inscrições abertas até 27 de fevereiro. O incentivo promocional tem permitido que os talentos regionais venham à tona, revelando nomes como o de Wander Shirukaya, de Itambé; Helder Herik, de Garanhuns; e Tadeu Sarmento e Rômulo César Lapenda, da Região Metropolitana do Recife, que tiveram seus livros lançados em janeiro, no Museu do Estado.
Shirukaya ganhou o prêmio regional e o de melhor livro, com o romance memorialista Ascensão e queda, cujos narradores/personagens evocam uma temática rara na ficção pernambucana, mas bastante presente no mundo artístico, explorando um enredo que evoca as angústias existenciais de uma banda de rock, cujo líder e vocalista se suicida. O autor revela-se conhecedor da linguagem musical, em especial da vivência dos roqueiros, em uma narrativa permeada de referências à cultura pop.
Helder Herik surpreende em Rinoceronte dromedário,com uma poesia expressiva que procura recuperar a pureza da linguagem infantil, numa quase recriação, em que não faltam neologismos e experimentos, frutos de pesquisa formal da linguística e de aspectos sonoros e imagéticos.
Os contos do livro Dois nós na gravata, de Rômulo César Lapenda Rodrigues de Melo, compõem um conjunto bastante consistente, no qual o autor mostra domínio da técnica, incursionando pela tradição machadiana e intercalando com experimentos linguísticos, tendo como mote principal a crônica de costumes, eivada de ironias e combinação de gêneros.
A escolha dos vencedores foi respaldada por dois julgamentos: uma comissão formada pelos escritores Homero Fonseca, Astier Basílio e Rinaldo de Fernandes fez uma seleção dos 20 melhores; a decisão final foi do Conselho Editorial da Cepe, formado por nomes tarimbados da literatura e do ensino de Letras, como o premiado Everardo Norões, Pedro Américo de Farias, Nelly Carvalho e Lourival Holanda. Representando a Secretaria de Cultura, Wellington de Melo também participou do julgamento.