Nem a segunda guerra mundial nem o ferimento que quase tira a sua vida é uma tragédia tão grande para aquele homem quanto a perda de sua memória: mais que as próprias experiências, ele perdeu sua habilidade linguística e, sendo assim, sua identidade, sua pátria, e - nunca será exagero dizer - a capacidade de sentir plenamente, de amar. O que é a guerra, a morte e o amor, afinal, sem as letras e as vozes que podem lhes dar forma e significado, sem o discurso que os constrói? A partir dos únicos indícios aparentes, o médico finlandês responsável por sua recuperação acredita que este homem é seu conterrâneo Sampo Karjalainen, nome gravado na japona que vestia. Decide ensinar a língua e levá-lo à Helsinki para despertar lembranças. Sampo, mesmo envolvido pela possibilidade e pelos trechos que compreende das românticas pregações nacionalistas ao seu redor, sente um grande vazio nas sílabas que aprende. Um livro sobre ausência (o caso abessivo encanta Sampo!), com narrativa lenta e reflexiva, que usa o caos de uma guerra para refletir sobre a poesia e a força da linguagem. Impossível não ressentir o que fica pra trás com a tradução.