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A série de histórias sobre amor — ou o amor como traição e armadilha, para sermos fiéis à visão de mundo de Junot Díaz — É assim que você a perde funciona como uma espécie de confessionário, com a maioria dos contos partindo de um depoimento em primeira pessoa. Depoimento que coloca em foco não apenas a condição de fragilidade emocional dos personagens, também temas como diáspora e todos os outros conflitos possíveis diante de um melting pot cultural. “Até que não sou mau sujeito. Sei o que parece — que estou na defensiva, e é balela —, mas pode crer. Sou um cara igual a todo mundo: fraco, cheio de defeitos, mas, basicamente, do bem. A Magdalena, porém, discorda. Ela me considera o típico dominicano: um súcio, um babaca”, nos avisa o narrador de O sol, a lua e as estrelas, texto de abertura da obra, como se fizesse uma espécie de síntese do perfil que encontraremos nas próximas páginas.

 

A minha iniciação no mundo particular de Díaz foi justamente com A fantástica vida breve de Oscar Wao, que o consagrou com um Prêmio Pulitzer. A estrutura do romance foi ideal para as ambições do autor de fazer de cada texto uma espécie de árvore genealógica de pessoas com nacionalidade triturada. O protagonista nerd e infeliz no amor, que nem conseguia dar seu primeiro beijo, nos guiou pela mão por um mundo de crenças que persistia à passagem do tempo. A maldição fukú acabou se popularizando até mesmo por quem nunca nem chegou perto do romance. Com Oscar Wao, Díaz conseguiu para si o feito maior que um autor pode almejar: criar uma figura ficcional que se populariza para além do livro ter sido lidou ou não.

 

Para os fãs da saga de Oscar Wao, É assim que você a perde é um alento por trazer de volta o olhar do mundo irônico, ainda que afetuoso, do autor (o narrador Yunior, por exemplo, volta a aparecer). Porém, as sagas dos personagens do livro, fragmentadas, acabam perdendo a força. É o caso do conto Nilda, sobre a doença e o tempo corroendo uma família. O desfecho da história, com seu tom de fracasso irremediável, nos faz pensar o quanto seria melhor se essa trama tivesse sido melhor desenvolvida, sem pressa: “Nilda anda olhando para o chão, como se estivesse com medo de cair. Meu coração está batendo acelerado e penso. A gente podia fazer qualquer coisa. Casar. Dirigir até a Costa Oeste. Recomeçar. Tudo é possível, mas eu e ela ficamos sem falar nada por um longo tempo, aí o momento vai embora e voltamos para o mundo que sempre conhecemos”.

 

Díaz é autor de epopeias, e não de frases de efeito do tamanho de pílulas. Mesmo com alguns deslizes, É assim que você a perde é uma obra forte, que só confirma o quanto estamos diante de uma voz particular, e ainda solitária, na literatura latino-americana — literatura essa que na última década soube, pelo jeito, amenizar a grande sombra apavorante do Boom dos anos 1960.