O escritor Alexandre Nobre gosta de surpreender seus leitores. Seus textos começam quase de forma inocente, sem grandes angulares, para só depois mostrar as garras afiadas. É o caso do conto que dá nome ao seu livro, A mangueira da nossa infância. Nas primeiras linhas, um diálogo convoca para um encontro, aparentemente banal: “Eu já te falei, André? Que quando a Aninha voltar, nós vamos juntos passear no parque? Aquele parque novo, no centro da cidade, sabe? A Aninha sempre gostou do parque. E a Maria Rita também; a minha pequenininha. Um dia, pouco antes de ir embora, ela me falou assim: ‘Me leva, pai? Naquele parque novo, no centro da cidade?’ A gente vai! Assim que eles voltarem, a gente vai.” Não se engane com a intimidade de um diálogo nas primeiras linhas: quando um autor abre um texto com aspas, ele costuma querer gerar uma falsa expectativa de intimidade com o leitor, lançando-o no meio da história sem cerimônia e escondendo qualquer preliminar. Vários dos contos presentes nesse livro foram ganhadores de concursos literários pelo país.