A estreia literária do carioca João Paulo Cuenca acaba de ganhar nova edição pela Companhia das Letras. Ano passado, Cuenca foi eleito um dos principais jovens autores brasileiros pela seleção da Revista Granta. Lançada originalmente em 2003, a obra é o mergulho radical de um homem em suas obsessões. Seu narrador atravessa ruas, noites e mulheres em busca de um amor perdido ou impossível, uma Carmen vitimada por uma Copacabana suja e sedutora. A obra, inclusive, tem início com o olhar obsessivo do narrador em relação à sua Carmen: “Carmen não se aguenta mais sobre as pernas. Com uma das mãos, equilibra o bebê contra seu peito e, com a outra, arruma as gavetas, cheias de fraldas. Desiste de organizar as fraldas, deixa os sacos no chão. Pega o mamilo e direciona para a boca do bebê. Às vezes escapa. E às vezes Carmen se cansa demais e tem pequenas ausências, como se sua existência cessasse por alguns segundos. Quando isso acontece, Carmen dorme de pé e acorda com taquicar­dia, assustada, procurando o bebê.”