O Prêmio Nobel de Literatura para Bob Dylan, anunciado nesta manhã, tem causado muitas discussões.
Boa parte dos comentários revela uma postura conservadora do público. Em 2015, quando Svetlana Alexievich ganhou o Nobel, o fato de ser uma obra jornalística a ganhar o Prêmio também foi alvo de críticas. Há anos se debate sobre a validade das fronteiras entre gêneros literários, sobre até que ponto elas ainda fazem sentido. Entretanto, muitos escritores que defendem a indeterminação de gêneros têm se levantado contra a decisão da Comissão do Nobel.
Além disso, ainda que possam ser desconhecidos do grande público, os debates entre as fronteiras entre a literatura e outras artes são antigos.
Como classificar, por exemplo, os trabalhos em poesia concreta de Eugen Gomringer ou mesmo os poemas-objeto de Ferreira Gullar (nos idos dos anos 1950)? Artes visuais ou literatura? Ainda causa estranhamento ouvir Gullar falar que o “Poema enterrado” - que ocupa uma sala inteira – é literatura, e não uma instalação (“o único poema com endereço e CEP da literatura”, declarou o poeta diversas vezes). O próprio poeta deixou de lado a poesia neoconcreta com essa última obra, por entender que chegara no limiar entre as artes e, se continuasse assim, deixaria de ser poeta para ser um arquiteto ou artista plástico. Deixaria mesmo?
Não parece fazer muito sentido isolar essas peças como uma única forma de arte – a não ser para fins de pesquisa.
O fato de Bob Dylan ter ganho o Nobel de Literatura 2016 é politicamente importante por publicizar essa discussão entre os limites das artes. São fronteiras criadas mentalmente, mas que no dia a dia, não existem. A literatura, enquanto expressão, não se restringe apenas a registros escritos; também é oral. O sentimento de poesia – poesis, em grego, é criação – é algo que permeia todas as artes. É um dos motivos que as permitem ser cotejadas.
Dito isto, abaixo selecionamos alguns tweets e posts - engraçados ou não, pertinentes ou não - que lançam elementos para pensarmos essa discussão (seguidos de alguns comentários nossos completamente sem graça, ainda que nos esforcemos rs).
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Oh yeah; Keith poderia também ganhar o Nobel de Medicina.
(Tradução livre: Prêmio Nobel de Química vai para Keith Richards)
Bob Dylon rs
kkk adoraríamos ver Murakami neste momento (Philip Roth já tá no terceiro copo de uísque caubói e Lobo Antunes tá jogando sinuca)
Até que enfim algo sensato rs
Do Facebook de Laura Erber, escritora e professora da Unirio, sobre as contradições de alguns escritores que criticam o Nobel
Vei, na boa... Nobel mesmo merece o compositor dessa música aqui.
Esperamos que seja a conta da Noemi Jaffe
Desculpa, não tem o que comentar.
Militantes jamais perdem o timing, principalmente se forem de esquerda
Cate é Cate, ou, como diriam os fabricantes de meme: "rainha, né, mores?"
Noemi Jaffe vai na raiz da palavra "gênero" para explicar os problemas de quem contesta a legitimidade do novo Nobel
Foi nosso primeiro pensamento. Amamos quem manda a real, obrigado
Philip Roth acaba de derramar uma lágrima, onde quer que esteja
Sobre o que pode vir em breve. As chances de Dylan ser reeditado agora são enormes
A escritora norteamericana Joyce Carol Oates falando os palavrões da forma certa.
(Tradução livre: "Bob Dylan é um descanso/interregno muito bem vindo que interrompe a torrente de grosserias de T***p. O Dylan dos anos 1960 seria mordaz com T***p")
Bob Dylan em Silvio Santos. Adoraríamos vê-lo também no Baú da Felicidade.
De Salman Rushdie, autor de Versos Satânicos, uma saudação.
(Tradução livre: "De Orpheus a Faiz, música e poesia sempre foram estreitamente ligadas. Dylan é o herdeiro brilhante da tradição dos bardos. Grande escolha")