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Nascido em 1899, por muito tempo Jorge Luis Borges tomou 1900 por seu ano de nascimento. Queria coincidir com o novo século. É compreensível. Na infinita disputa sobre quem foi o grande escritor dos últimos 100 anos (Kafka, Joyce, Nabokov…), prefiro sempre o mestre das orillas de Buenos Aires. Um homem que atravessou o século borrando os limites entre os gêneros literários e fascinado pelas mesmas imagens toda uma vida (e imagens que dizem tanto ainda sobre onde estamos): os tigres, os espelhos e as bibliotecas infinitas.

A Companhia das Letras lança nas próximas semanas dois presentes para os leitores borgianos: os ensaios de Martin Fierro, para seis cordas & Evaristo Carriego e a enciclopédia sobre sua vasta produção Borges babilônico, organizada por Jorge Schwartz, com textos de nomes como Ricardo Piglia e Beatriz Sarlo.

Aproveitando os lançamentos, um pequeno guia de leitura voltado especialmente para os iniciados. E com um corte específico: apenas prosa. É preciso não se perder na biblioteca infinita deixada por Borges.

 


Ficções (1941) – A obra que projetou Borges internacionalmente como um dos mestres do conto. Estão aqui sua releitura do gênero policial, no grande O jardim das veredas que se bifurcam; a ironia de Pierre Menard, autor de Quixote, texto que ajudou a dar os alicerces para uma teoria da literatura pós-moderna; e A biblioteca de Babel com sua topografia circular, infinita e inútil.


O livro de areia (1975) – Colocar O livro de areia talvez não seja a escolha mais adequada para uma lista voltada aos iniciados, se tivermos em mente obras da magnitude de O Aleph e História universal da infâmia, verdadeiro bestiário a provar que não há ninguém impossível. No entanto, além dessa lista ser bastante pessoal, em O livro de areia estão algumas das narrativas em que Borges melhor confunde os limites entre prosa e poesia. É o caso de O outro, talvez a grande retomada do mito do duplo na literatura contemporânea.

Outras inquisições (1952) – Uma reunião primorosa do Borges ensaísta, com textos que foram publicados nos jornais argentinos entre 1936 e 1952. O texto que abre o volume é justamente A muralha e os livros sobre o tempo e o fator estético no meio dele - “Talvez Che Huang-ti tenha amuralhado o império porque sabia que este era perecível, e destruído os livros por entender que eram livros sagrados, ou seja, livros que ensinam o que ensina o universo inteiro ou a consciência de cada homem.”