É impossível pensar a sociedade norte-americana das últimas décadas sem passar pela literatura de Paul Auster, que completa 70 anos neste 3 de fevereiro. Após anos sem lançar ficção, ele acabou de lançar nos Estados Unidos o romance 4321, que está recebendo uma ótima repercussão da crítica. Sua editora no Brasil, a Companhia das Letras, anunciou que a obra está entrando em fase de tradução. Mas aproveitando seus 70 anos, oferecemos aqui um guia de leitura da sua vasta produção, escrito pela jornalista Priscilla Campos.
A trilogia de Nova York (1987) - “Composto por A cidade de vidro, Fantasmas e O quarto fechado à chave, o livro figura enquanto unanimidade de recepção e crítica na obra de Auster. Nova York é o espaço inconsciente e percorrido – como Perec enuncia em Espéces d’espaces – no qual personagens desorientados, espiões, escritores desaparecidos, referências quixotescas formam um conjunto de agentes modeladores da paisagem – um labirinto urbano que só se legitima através da voz dos narradores. Auster cria passagens narrativas oscilantes entre o suspense, as histórias detetivescas e as inquietudes adjacentes ao processo de escrita, observando sempre a figura do escritor como um tipo de fantasma-perpétuo, sem chances de fuga".
Sunset Park (2010) - “Dois destaques: construção dos personagens – a conturbada família Heller, seus membros neuróticos, obscuros – e uma narrativa que se distancia do autobiográfico, aproximando-se do período da crise financeira norte-americana. Miles Heller gosta de fotografar coisas abandonadas em casas vazias, imóveis arruinados devido ao colapso do crédito imobiliário. Entre um trágico acidente, a história de amor com Pilar e a paixão pelo beisebol, Miles ocupa, com três amigos, um espaço em Sunset Park, bairro de imigrantes no Brooklyn. Mais uma vez, Nova York sitiada pelos homens arruinados de Auster; mais uma vez, o leitor imerso nos espaços que sobram para as alucinações”.
Diário de inverno (2012) - “Após trinta anos de A invenção da Solidão, seu primeiro caderno de memórias, Auster escreve em segunda pessoa sobre o corpo, tempo, relações familiares. O diário aparece como terceiro volume de seus registros, supostamente, pessoais – o segundo, datado de 1997, chama-se Da mão para a boca. Tem-se, então, uma espécie de final cronológico: a infância, a idade adulta, a velhice, os prenúncios de morte. Fale agora antes que seja tarde demais, e torça para que você possa continuar falando até não haver mais nada a ser dito. Sem mais delongas, por ora, a relação de Auster com o gênero autobiográfico não decepciona".