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Este post foi originalmente criado quando Trump ganhou as eleições presidenciais nos EUA (novembro de 2016), com o claro objetivo de ser uma biblioteca de guerrilha para a crise que recairia (como recaiu, de certa forma) sobre os Estados Unidos.

Diante dos ocorridos em Charlottesville – cidade americana onde grupos anti-extremistas entraram em confronto com a grupos racistas e disseminadores do ódio, com uma pessoa morta e várias feridas –, resolvemos atualizar a lista. Os ocorridos só receberam alguma atenção de Trump após muita pressão política.

Portanto, este post continua sendo uma biblioteca de guerrilha, uma biblioteca urgente. Desta vez com 12 obras, ela tem vozes diversas: do trauma da escravidão de Toni Morrison à “chaga” dos emigrantes de Junot Díaz, passando pelos subúrbios endinheirados e à meia-luz de John Cheever, agora acrescidos com 

As indicações são do escritor Benjamin Moser, do pesquisador e tradutor Caetano Galindo, do cineasta, poeta e escritor Fernando Monteiro e de Schneider Carpeggiani, editor do Pernambuco e doutor em Teoria Literária. Que esses livros nos ajudem a entender o momento presente, a crise presente.

 

 

 

 

graça

Graça infinita (David Foster Wallace) – Quem comenta é o tradutor da edição brasileira, Caetano W. Galindo: “A coisa do Graça Infinita é que 'ele sabia' que era muito americana a ideia de eleger um bufão enlouquecido com delírios egoicos e de reformas megalômanas, um cara saído do showbiz... e com um cabelo ridículo. O presidente lá se chama Johnny Gentle, e é uma cruza de Ronald Reagan com Michael Jackson”.

 

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Luz de agosto (William Faulkner) - Segundo Benjamin Moser, "pela personagem Joe Christmas, um branco que suspeita ter ascendência afro-americana, Faulkner revela como a questão racial funciona na nossa sociedade como um vírus: nem sempre visível, mas sempre, e em tudo, palpável. Os brasileiros notarão certas diferenças entre o legado da escravidão nos Estados Unidos e no Brasil -- mas é essencial lembrar que o vírus é o mesmo".

 

 

cheever

28 contos de John Cheever (John Cheever) – Uma radiografia dolorosa dos subúrbios ricos norte-americanos, com seus personagens querendo encontrar rasgos de iluminação em meio à alienação identitária.

 

 

pastoral

Pastoral Americana (Philip Roth) – Ler Philip Roth é ter uma certeza incômoda: a bomba está instalada logo ali, no centro da sala de jantar. E nesse romance, que completa 25 anos em 2017, estamos nos segundos finais antes da explosão.

 

Philip Roth listinha.atualizacao.ago17

 

Complô contra a América (Philip Roth) – É impossível não repetir Philip Roth nessa lista. Até pelo primeiro parágrafo desse romance de 2004, que há pouco ganhou edição de bolso pela Companhia das Letras: "O medo domina estas lembranças, um medo perpétuo. Toda infância, é claro, tem seus terrores, mas me pergunto se eu não teria sido uma criança menos assustada se Lindbergh não tivesse chegado à presidência ou se eu não fosse filho de judeus." Lindbergh, um presidente que era contra a mistura do que ele entendia como a essência americana em meio à turbulência dos anos 1930 e 1940.

 

 

toni morrison

Amada (Toni Morrison) – O triunfo de Trump é também um sinal do racismo ostensivo a marcar a sociedade norte-americana. A epígrafe do romance de Toni Morrison - sobre uma ex-escrava perseguida pela culpa-fantasma da filha morta - é um verso do livro de Romanos, do Novo Testamento, que ganha agora uma ressignificação importante: “Chamarei meu povo/ ao que não era meu povo/ E amada/ à que não era amada.”

 

 

oscarwao

A fantástica vida breve de Oscar Wao (Junot Díaz) – Um dos romances mais importantes desse começo de século. Como se sente alguém que é lembrado o tempo inteiro que é estrangeiro? E mais: como ser um estrangeiro em meio aos estrangeiros? Díaz fez aqui a alegoria perfeita do alien residente.

 

 

miller

A morte de um caixeiro viajante e outras quatro peças (Arthur Miller) - “Aqui Miller exibe toda a perplexidade do homem médio americano desamparado em tristeza e ruína de alguma coisa que ficou para trás” - definição de Fernando Monteiro.

  

todos os belos cavalos

Todos os belos cavalos (Cormac McCarthy) – Também Fernando Monteiro é quem comenta: “nesse livro temos a preciosa forma indireta de McCarthy de se referir a um mundo de perdedores que pensam ser os maiorais. Na verdade, em todos os seus livros o autor se dedicou a entender porque diabos a América perdeu a si mesma”.

  

armada américa

Armada América (Fernando Monteiro) – Para Schneider Carpeggiani, este livro colabora para um entendimento dos EUA por ser uma coleção de contos baseados nessa grande “ficção” que foi a história dos Estados Unidos na segunda metade do século XX. Estão aqui Kennedy, Elvis, um E.T. sobrevivente e vários outros personagens entre o pesadelo e o sonho de se dizer/ de se estar americano. Um livro escrito durante o ocaso do governo de George W. Bush.

 

 

uivo

 

O uivo (Allen Ginsberg) – Os primeiros versos de O uivo (com tradução de Claudio Willer) explicam bem sua inclusão:


“Eu vi os expoentes da minha geração destruídos pela lou-
       cura, morrendo de fome, histéricos, nus,
arrastando-se pelas ruas do bairro negro de madrugada
       em busca de uma dose violenta de qualquer coisa,”

 

 

letra

A letra escarlate (Nathaniel Hawthorne) - Encerramos a lista voltando para o princípio: a pedra fundamental da literatura dos Estados Unidos. Toda a perseguição ao “estranho”, ao “marcado”, que assombra a sociedade norte-americana foi aqui alegorizada.