Ainda adolescente de calça curta, e saindo do internato do Colégio Salesiano, conheci a poesia de Mauro Mota, na biblioteca do meu irmão Geraldo, no bairro da Torre, onde fui morar.
Havia ali pelo menos dois livros do poeta: Os epitáfios e Canto ao meio. Uma novidade para mim pelo despojamento da linguagem e pelas temáticas. Assustado e divertido, lia-os quase sempre no fim de tarde, deitado na rede da varanda, naquele bucólico bairro da Torre, cenário de Mauro Mota. Era ainda um Recife suburbano da década de sessenta. Havia brisas da tarde tangidas pelos cabelos soltos, rápidos cabelos esvoaçantes pelo céu azul.
Foi porém com as Elegias que Mauro Mota marcou, definitivamente, a sua voz na literatura brasileira. Elegias continua imbatível ainda hoje, embora alguns críticos tenham cometido equívocos de registrar apenas o regionalismo da obra. Não se pode negar que ele registrou alguns instantes da vida provinciana e dos subúrbios recifenses, mas com um vigor que nada tem de regionalista. Foi justamente esse aspecto da sua poesia que me marcou profundamente, junto com o trabalho literário de Manuel Bandeira. Muitas vezes surpreendi-me na biblioteca do meu irmão tentando imitá-los. Apesar do Mauro poeta ser o mais persistente em nossa lembrança, desde a juventude ele dedicou-se ao jornalismo. No Diario de Pernambuco, assinou uma coluna analisando os movimentos cultural e social recifense. Mauro não era um autor abertamente político, mas seu olhar e seu humor sobre a cidade podiam abrir portas para inúmeras interpretações. Nesse espaço, aproveitava até para conversar com os leitores. Essa faceta é recuperada agora, com uma crônica de setembro de 1968.
Em tempo: sempre que leio Mauro Mota sinto-me de novo atravessando a Rua Real da Torre, entre os casarões do século 19. Só agora percebo: fui um personagem de Mauro Mota, sem me dar conta.