Falam-me numa botica do Recife que estaria vendendo o pó que, segundo o rótulo, bota as pessoas em comunicação com os espíritos superiores. Ninguém se espante, ninguém suponha que isso represente decadência comercial. Pelo contrário: representa o aperfeiçoamento. O da fraude, hoje em dia, procedimento de rotina, que alcança gêneros alimentícios, vestuário, medicamentos, muito do que precisamos para viver e até para morrer. Um jornal do Rio noticiou fato curioso na seção policial: o pacto de morte entre um jovem casal. O rapaz escreveu a carta. A moça também assinou. Depois entraram num bar e derramaram formicida no copo de cerveja. Mas não espicharam as canelas românticas. O veneno era falsificado. Ainda ontem, no meu bairro, houve a trapaça do sujeito anunciando “capão gordo”, rua a fora. A cozinheira examinou o bicho. Como quase todos me enchiam os garajaus, não passava de um galo senil, de crista e esporões aparados à gilete. A população que se previna contra os vendedores de pechinchas. Dizem-se embarcadiços, em trânsito, falam enrolado e andam pelas portas oferecendo tecidos e perfumes estrangeiros, a preços de 1920. Chantagistas dessa espécie conhecemos logo. Podemos dar-lhes o fora e ameaçá-los de cadeia. E com os outros, o que podemos fazer? Cair em suas arapucas como dóceis passarinhos. A polícia age, o Departamento de Saúde Pública também, mas os falsificadores têm mil artimanhas. Querem lucro fácil e imediato. Para conseguir, não vacilam em praticar as mais incríveis proezas. No Recife ainda, já foi descoberta a maroteira da manteiga misturada com vaselina e lubrificantes de automóvel. E a dos pacotes de café onde entravam milho, pó de serra e sangue de boi. Isso, o que foi descoberto oficialmente. E o que não foi? E o que não será nunca?

Quais as doze mais belas palavras da língua portuguesa? Resposta de Teresa Rezende Braga, dona de casa: criança, amor, saudade, ternura, paz, infinito, eternidade, lágrimas, madrugada, esperança, mãe, amizade. De Iracema Campina Rodrigues, datilógrafa: José, nascer, amor, saudade, paz, viver, amizade, ternura, carinho, Lisboa, madrugada.

SOBRE O AUTOR
Mauro Mota tem algumas das suas crônicas reunidas em Lua branca e outras luas, que a Cepe lança em novembro

 

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