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Já está disponível para venda, somente em inglês por enquanto, o livro Go Set a Watchman (Penguin Books). Trata-se de um dos maiores eventos editoriais do ano. Estamos falando da sequência de um clássico da literatura internacional, publicado depois de um intervalo sem precedentes - 50 anos - depois do primeiro livro. Sua autora, a americana Harper Lee, sempre reclusa, avessa a entrevistas, se torna hoje o centro das atenções. E quem explica por que é nosso colunista Raimundo Carrero.
 
Por que ler um novo livro de Harper Lee?...Mas, afinal, quem é Harper Lee?.. é uma escritora norte-americana, que estreou na literatura com o clássico O sol é para todos, em 1960, portanto, há mais de 50 anos...O livro, que está sendo relançado no Brasil pela Record, vendeu ainda  na primeira edição mais de 30 milhões de exemplares naquele ano, perdendo para a Bíblia, segundo dados do sindicato  nacional dos  editores dos Estados Unidos. Dois anos depois foi adaptado para o cinema, em filme estrelado por Gregory Peck, transformando-se também num absoluto sucesso de bilheteria, e conquistando três Oscars.
 
No mesmo ano, Harper Lee submeteu um novo livro à editora que o rejeitou. Por razões técnicas, segundo se informa nos círculos literários norte-americanos. Embora nada se saiba sobre o enredo, comenta-se que o conselho de leitura da editora não concordou com o ponto de vista da narradora. Esse é o livro que está sendo lançado agora, embora nada se esclareça sobre pontos de vista e temática.
 
A narrativa de O Sol é para todos, escrita na primeira pessoa por Scut Finck, é sedutora e envolvente. Scut forma um grupo de três crianças – Jen e Dill – que observam, comentam e analisam não só os acontecimentos, mas sobretudo o racismo cada vez mais crescente no Sul dos Estados Unidos e que leva ao enredo do romance – o julgamento de um negro Tom Robinson, acusado injustamente do estupro e do assassinato de uma criança.
 
Apesar da imensa fluidez do texto, Harper Lee apresenta conquistas técnicas, como se verá agora:
 
No momento em que Scut conhece Dill, ele responde:
 
- A gente chama-me de Dill – informou o mocinho, concentrando-se para passar por debaixo do tapume.
- Seria mais simples que saltasse. Em vez de passar por baixo. De onde você é?
 
Dill era natural de Meridian. Mississipi. Estava passando o verão com sua tia miss Rachel e de futuro viria todos os verões a Maycomb. A mãe dele trabalhava agora para um fotógrafo de Meridian e concorrera com uma fotografia de Sill num concurso de beleza infantil. Ganhara cinco dólares, que lhe dera. Dill, com este dinheiro, fora ao cinema vinte vezes.
 
Essa técnica parece simples ou simplória, mas trabalha com elementos sutis. A narradora retira a informação do personagem e ela própria informa e comenta, tirando-lhe a importância vital. Tirando ou fingindo tirar, de forma a passar despercebida pelo leitor.
 
É assim que os grandes autores trabalham de forma a seduzir e encantar. Encantamento, aliás, que não falta em O sol é para todos.
 
Link para o primeiro capítulo do livro (disponível somente em inglês)