Nos versos de Rolex für Alle, o rapper Disarstar desmantela duas mentiras: a do fim da história, com sua falsa alegação de que o mundo não pode mudar, e a narrativa misantropa que dela deriva, que diz que as pessoas também não mudam. Composto em parceria com Benjamin Asare e Farsad Zoroofchi, o poema está no álbum homônimo, lançado em 2022. Nascido em 1994 em Hamburgo (Alemanha), Disarstar viu as comunidades ao seu redor serem corroídas pelas políticas de austeridade e pela ascensão do neonazismo. Hoje, ele é uma voz contundente no combate à extrema-direita alemã. Na minha releitura do poema, trouxe a realidade brasileira, mas respeitando a melodia do original. Nesse caminho, o Rolex se transformou nos óculos Juliet – um dos sonhos de consumo da juventude periférica, citado com frequência pelo funk ostentação.
Abaixo, você lê a releitura do poema. Logo depois, você confere a versão original, em alemão, e a tradução literal dos versos.
JULIET PRA GERAL
Não, aqui o mundo não é bonito
Ele é cinza e frio
Na hora do pegapacapá a maioria vira a cara
Inventa desculpas enquanto houver eco
Mas não faz curva o papo reto
A verdade é que a maioria dos crias tá sofrendo
Por todo lado um trabalhador endividado
E ninguém liga se ele morrer ou seguir vivendo
Havia uma pedra no caminho do patrão
e a pedra é você, se não fizer dele um homem rico
A TV te diz que o paraíso é isso
Esse inferno feito de saquinho de lixo (risos)
Eles amam dinheiro
E estão satisfeitos
Assim justificam quando teu chefe
Com o trabalho das tuas mãos fica rico
E quando te dizem “nada no mundo pode
[mudar”
Eles estão mentindo
Porque o mundo deles tá ótimo como está
Já o nosso mundo só pode melhorar
[refrão]
Não aceitar o normal
E usar essa chance
Por um mundo melhor
Expropriar bilionários
Juliet pra geral
Se por eles fosse nada mudaria
O problema é exatamente essa mentira
Faria Limers, trabalho, competição
O mercado está incomodado
Que o pobre vai comer pão
Nunca sentiram fome
Mas quando morrem os Yanomami
O mercado se faz de Wesley Caladão
Quem tá incomodado sou eu, não o mercado
É por isso que estou organizado
Enquanto uns catam lixo outros morrem sem comida no prato
Como se isso fosse normal, mas não
De cada dez crias que conheço nove têm bom coração
Todos lutamos pelo nosso pedaço de pão
Eu não tenho nada contra Ferrari, na moral
Eu sou a favor é de Ferrari pra geral
E Mais Médicos e comida e educação
Um teto sobre a cabeça, igualdade social
Eu sou a favor de tudo pra todo mundo
Eu sou a favor de tudo pra geral
ROLEX FÜR ALLE Nein, die Welt ist nicht schön hier Für die Bonzen bist du nur 'n Stein im Weg [chor] Vor niemand verneigen Geht es nach denen, dann könnt es nicht anders sein Ich bin kein bisschen entspannt (nein) |
ROLEX PARA TODOS Não, aqui o mundo não é bonito Para os patrões tu és uma pedra no caminho [refrão] Não se curvar diante de ninguém Se você por eles nada poderia Eu não tão nem um pouco relaxado (não) |