Robert Creeley (1926-2005) foi poeta, professor universitário e autor de mais de 60 livros nos EUA e no exterior, dentre eles The collected poems of Robert Creeley, 1945–1975 (1982), Echoes (1982; 1994) e Life & death (1993; 1998). Dono de uma poética concisa, minimalista, tributária de William Carlos Williams e dos poetas objetivistas, é frequentemente associado aos “poetas da Black Mountain”. Creeley tem um único livro publicado no Brasil, a antologia A Um: Poemas, com tradução e organização de Régis Bonvicino (Ateliê Editorial, 1997).
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CONHEÇO UM CARA
Como falei p/ meu
amigo, pois falo pra
caramba, — John, eu
falei, o nome não
era bem esse, as trevas nos ro-
deiam, o que dá p/
fazer contra
isso, ou melhor, devemos &
por que não, comprar a porra dum carro
dirige, ele falou, pelo
amor de deus, prestenção
p/ onde vai.
FOTO
Para Joanne
Dizem que uma
mulher ao passar
os limites da
casa, virando
a esquina, deixa
uma sensação vívida,
atrás de si,
de ter estado ali.
DE NOVO
Mais um dia ido,
findo, feito
do jeito dos dias.
Teve começo, e
fim — foi para
frente, para trás
lento, fugaz
sol luzindo, nimbos,
alto no céu eu fiquei
um pouco com outros,
depois o pouso
no solo de novo.
Lua alguma. Cama
num motel — começar
de novo.
AUTORRETRATO
Ele quer virar
um velho bruto,
um velho agressivo,
tão tedioso, tão brutal
quanto o vazio a seu redor,
Não quer fazer concessões,
nem ser sempre legal
com todo mundo. Só mau,
em sua rejeição final, brutal
e total de tudo isso aí.
Ele tentou o suave,
o gentil, o “oh,
me dê sua mão”.
e foi chato, horrível,
brutalmente inconsequente.
Agora ele mal
consegue ficar de pé.
Seus braços, sua pele,
encolhem dia a dia. E ele
ama e odeia por igual.
O TÚNEL
Esta noite, nada é longo o bastante —
o tempo não.
Houvesse um fogo,
eu queimaria logo.
Houvesse um paraíso,
eu já teria existido.
Acho que a luz
é a imagem, no fim.
Mas o tempo se repete,
amor — e um eco.
Um tempo passa
O amor no escuro.