FernandaMelchor Divulgação junho.23

 

Neste ano, completam-se 10 anos do lançamento dos primeiros livros da escritora Fernanda Melchor no México, onde nasceu: Falsa liebre e Aquí no es Miami, de 2013 (ainda inéditos no Brasil). Desde então, Melchor passou a ser uma das escritoras mais importantes do país e da América Latina. Ganhou o Prêmio Internacional de Literatura, alemão, e foi indicada ao International Booker no Reino Unido, com Temporada de furacões (lançado no Brasil pela Editora Mundaréu). Tudo isso lhe conferiu projeção internacional, um trabalho como roteirista de uma série na Netflix, chamada Somos., e uma seleção do Books at Berlinale nos últimos anos. Também acaba de sair no Brasil Páradais, seu último livro, também pela Mundaréu.

Nascida em Veracruz, estado localizado no litoral leste do México, no ano de 1982, Fernanda dá corpo a algumas novidades que se desenham na literatura mexicana desde o começo do século XXI, quando da emergência de autores marginais aos grupos intelectualizados mexicanos, cuja retroalimentação burocrática havia acabado por arrefecer as possibilidades da literatura local. Por esse motivo, a maioria dos seus leitores faz questão de identificar Melchor como autora de culto, o que quer dizer que seus livros foram, pelo menos no começo, recomendados “boca a boca”, sem que houvesse uma divulgação marqueteira massiva ou um apoio institucional. Outros nomes que também podem ser citados nessa “atualização” são Brenda Navarro, Luis Felipe Fabre, Gabriela Jauregui, Laia Jufresa, Daniel Krauze, Socorro Venegas e um extenso etecétera de bons escritores que deslocam geograficamente a produção literária no país, feita predominantemente na Cidade do México até então.

Já se havia tentado um giro na literatura mexicana antes. Nos anos 1960, o grupo que Margo Glantz chamou de Literatura de la Onda também havia fornecido um contraponto a tais figuras monopolizadoras da intelectualidade. Naquele momento, porém, eram escritores identificados com a contracultura estadunidense, no esteio de Kerouac e dos símbolos e atitudes dos beats e dos hippies. Muito embora tenha sido uma geração que praticava uma linguagem nova, com inserções do inglês, que acabavam funcionando por irritar os medalhões mexicanos, prevalecia ainda a representação da violência social de maneira quase sádica e o machismo. Era a ideia de que a violência por si é uma renovação de energia necessária, o que se pode buscar até Marinetti com seu Futurismo. Até mesmo a valorização dos carros está presente nessa onda, bem como toda a performance de rebeldia estadunidense. Nomes como José Agustín, Gustavo Sainz e Parménides García foram fenômenos literários disruptivos no momento, que porém logo caíram no conservadorismo mais tonto possível, não apenas pela escolha frágil de paradigma, mas também pelas mudanças contextuais do México.

Entrado o século XXI, as mudanças no mapa político, o aprofundamento do neoliberalismo e de seu consequente esgarçamento social nos países colonizados, especialmente no México, por sua localização e potencial de exploração (mineral, de mão de obra), geraram efeitos nefastos, uma demolição social veloz, com aumento da população miserável, sem condições físicas e mentais de evitar se tornarem parte do lixo estadunidense. Essa atmosfera tóxica (literal e simbólica) provoca o entendimento, também da literatura, de que existe uma colonização infinita que ainda deixa seus rastros de violência e destruição aonde chega.

Pode-se lembrar de Un asesino solitario (1999) de Élmer Mendoza, que foi um dos primeiros títulos realistas que abordaram o colapso social somado ao fator narcotráfico, que tomou proporções avassaladoras com a conveniência das elites. Desde então, as narconovelas se tornaram uma febre e já eram escritas usando os recursos de oralidade que aproximavam o leitor dos “tipos” mexicanos representados, mas ainda eram muito maniqueístas, no sentido de que o mal e o bem andavam sempre bem separados e eram dados mais ontológicos que sociais, o que facilitava a “torcida” do leitor para um dos personagens, por exemplo, mas, principalmente, alentava sua consciência ao levar a concluir que a violência é provocada por monstros, ou pelo menos, por humanos muito distantes de si, talvez de outra espécie. É aí que a narrativa de Fernanda Melchor representa um marco: uma mulher fala de violência dos narcos usando a polifonia e implicando a linguagem e a natureza humana comum nessa mesma violência.

INFÂNCIA E FORMAÇÃO

Em uma entrevista para o site do Booker Prize, ao ser perguntada sobre sua primeira lembrança de leitura, a autora diz que é a de um livro de poemas sobre filhotes de animais, junto com sua avó, de cujos versos ainda se lembra. A resposta tão simplória à pergunta que toca em um biografema básico da vida de um escritor (o encontro fundador do autor com a literatura, como Sylvia Molloy observa em Acto de presencia) surpreende pelo rebaixamento da encenação autobiográfica. Fernanda responde com sinceridade, “um livro de poemas sobre filhotes de animais”, em vez de fabular com algum livro que lhe conferisse lastro intelectual, que, de fato, não traz de família. Pode-se dizer que essa recusa à afetação também aparece em seus escritos.

“[Meus pais] quando me tiveram eram um par muito díspar, gente muito simples. Meu pai é engenheiro, minha mãe chegou ao Ensino Médio e depois virou paramédica, foi a primeira mulher a conduzir uma ambulância em Veracruz. Era muito prática, muito pragmática, de comércio, de vendas, não de letras. A vida de meus pais era trabalhar e, depois, ver televisão, e no domingo ir à missa, ou talvez dar uma volta no Malecón. Não era gente sofisticada nem pertencia ao âmbito intelectual”, diz Melchor em entrevista a Elena Poniatowska para o La Jornada.*

Melchor sempre teve uma relação próxima com os livros, mas também com a televisão aberta, a cujos programas de qualidade duvidosa chegava a assistir por mais de 6 horas diárias, traço muito comum às pessoas nascidas na década de 1980, quando era comum que pais e mães deixassem as crianças em frente à televisão para trabalhar. Ela conta que chegava ao ponto de “ler enquanto via televisão”. Era fã de Transformers, He-Man, ALF, MacGyver, filmes de terror (Tubarão, Freddy Krueger etc.) e considera que os livros e a televisão ocupam um lugar importante em sua formação.

Já saindo da adolescência, momento em que conta que era adepta das farras muito alcoólicas, bem ao gosto das cidades do interior, estudou jornalismo na Universidade de Veracruz. Sempre atraída pela ideia de escrever, leu muito do Novo Jornalismo americano. Lia Truman Capote, Hunter S. Thompson e demais expoentes dos anos 1960, quando começou um estágio na redação de um jornal local. Em um dos trabalhos nesse cargo, aos 19 anos, lembra-se de uma lição importante aprendida pela escritora que ali nascia. Foi escalada para escrever uma crônica depois de passar a noite em uma ambulância durante as festas pátrias.[nota 1]

Como se trata de festas intensas para os mexicanos, nas quais se vira a noite na rua e bebe-se muito, Fernanda viu de tudo: um sujeito que havia dado uma machadada na cara do outro, gente bêbada e desmaiada, pessoas feridas em brigas em via pública etc., até que a ambulância em que estava foi chamada a um bairro pobre e afastado do centro, onde havia uma mulher em agonia. Ela tinha um câncer terminal e já havia sido desenganada pelo hospital. Fazia muito calor naquela noite, então os familiares haviam arrastado o colchão em que estava deitada para o alpendre. Os familiares ao redor do colchão pediam ao paramédico da ambulância que buscasse o cilindro de oxigênio para auxiliá-la na respiração, ao que viu o paramédico dizer com pesar que àquela mulher lhe restavam 10 minutos de vida, que não adiantaria ir buscar o oxigênio e que era melhor cuidar dos trâmites futuros.

Já de volta à redação, Melchor entregou um texto longuíssimo e levou uma bronca do chefe, que lhe disse para escrever apenas sobre o que mais a havia tocado em toda a experiência da noite anterior. Pensou imediatamente na cena da mulher convalescente em seu colchão tirado da casa para o pátio e na dificuldade do paramédico em tomar aquela decisão pragmática em um momento carregado de emoção. Viu no episódio uma questão que a tocou e escreveu sobre ele um texto bem menor, mas com uma grande lição aprendida: não buscar algo impressionante ou espetacular para narrar, mas escrever sobre o que mais a comove. O leitor só se entusiasma ao ler o que comove o escritor. A partir daí, quis escrever romances que falassem do lugar onde cresceu e das coisas que viveu, das coisas que a preocupavam, como a violência.

A VIOLÊNCIA DA ESTRUTURA, A VIOLÊNCIA DO SUJEITO

Boa parte de sua formação como escritora aconteceu durante o governo de Javier Duarte de Ochoa, em Veracruz, um dos períodos mais violentos da história do estado, em que a calamitosa “guerra às drogas” serviu como justificativa para armar e encarcerar a população, como costuma acontecer abaixo do Muro. Esse tipo de violência chega aos espectadores estrangeiros na forma de cenas hediondas quando se fala de narcos, mas Fernanda, em sua literatura, aponta para o fato de que a crueldade está longe de se restringir ao espetáculo das cabeças cortadas exibidas pelos jornais sensacionalistas. A violência se infiltra no cotidiano, desdobra-se tomando muitas outras formas, desde o pai alcoólatra que maltrata a esposa até o desalento (condição de pessoas que desistem de procurar emprego), que promove o aumento de pequenos delitos e lota as prisões. Enfim, Melchor apresenta a violência menos como deleite, como algumas literaturas policialescas a tratam, e mais como incógnita.

“Acho que abordei a violência em geral, a sangrenta, mas também as pequenas violências, como as domésticas, de gênero, psicológicas, o abuso infantil. Acredito que tenha a ver com uma necessidade de entender por que chegamos ao ponto em que estamos. Penso em quais são as condições que imperam em nossa sociedade para que aconteçam fatos horríveis: tantas pessoas desaparecidas, tantos mortos, pessoas dedicadas ao crime organizado, a roubar, assassinar, no que os leva a ser corruptos…”, diz. “Não existe o monstro, nem o homem ‘normal’, há uma sociedade que produz esse tipo de violência.”

Em seus livros, é como se os sentimentos fossem todos violentos: o medo é violento, o amor também. E é uma sociedade muito desenvolvida do ponto de vista financeiro e tecnológico, no caso de Veracruz com a indústria petrolífera internacional, que interdita as possibilidades de experiências que não sejam violentas. Após a aprovação da reforma energética, em 2014, que permitiu pela primeira vez em mais de sete décadas o investimento privado na indústria petroleira mexicana, a região de Veracruz foi aberta para que empresas se instalassem em seu território, o que rasgou brutalmente o solo e produziu um lumpesinato sem precedentes.

Embora haja muita novidade nos livros de Fernanda Melchor, como já escrevi sobre Temporada de furacões para este Pernambuco e Schneider Carpeggiani, sobre Páradais, dois conceitos de críticos brasileiros podem ser convenientes ao olhar para sua obra: o brutalismo, de Alfredo Bosi (em O conto brasileiro contemporâneo, 1975), e o realismo feroz, cunhado por Antonio Candido (em A educação pela noite, 1987). Ambos se referem às narrativas de sujeitos marginalizados nas cidades na então crescente industrialização do país e são muito utilizados ao analisar a produção contística de Rubem Fonseca.

Bosi fala da literatura “que respira fundo a poluição existencial do capitalismo avançado, de que é ambiguamente secreção e contraveneno” e que “segue de perto modos de pensar e de dizer da crônica grotesca e do novo jornalismo yankee” e, muito embora a poluição existencial do capitalismo tardio e sua linguagem sejam mesmo a matéria dos livros de Melchor, existem neles perguntas que não apareciam na abordagem agressivamente falocêntrica dessa realidade. A precariedade e a violência trazidas pela modernização petrolífera à região de Veracruz, desligando a população da terra, são sufocantes e, ao mesmo tempo, são como a respiração funda, instintiva, do corpo que procura a sobrevida.

O contexto de produção desses livros também diz respeito ao artifício literário. Existe, nos livros de Melchor, uma língua em convulsão, um ciclone tropical, em que aparecem muitos termos que não constam nos dicionários, mas vêm diretamente da oralidade, da experiência da fala. Em Temporada de furacões, por exemplo, a narrativa emerge como fofoca (chisme) entre os habitantes da pequena cidade de La Matosa, em uma prosa polifônica, veloz, incessante.

 

Fernanda Melchor divulgação res.abr.21

 

Sobre o ritmo da contemporaneidade, que Fernanda capta em sua escrita, ainda pode-se pensar no brutalismo bosiano, quando o crítico diz que “a sociedade de consumo é, a um só tempo, sofisticada e bárbara. Imagem do caos e da agonia de valores que a tecnocracia produz num país do Terceiro Mundo […]. A dicção que se faz no interior desse mundo é rápida, às vezes compulsiva; impura, se não obscena; direta, tocando o gestual; dissonante, quase ruído”. De fato, no livro de Melchor, fica marcado que o ápice do progresso é o que empurra as pessoas para a barbárie, no paradigma regressivo do discurso moderno. Assim como o espaço da “cidade do colonizado”, nas palavras de Franz Fanon, é sem intervalos, a linguagem também é “encavalada”, arfante.

Nesse sentido, Melchor diz experimentar ela mesma o apelo da velocidade do tempo contemporâneo que atribui e estende à comunicação pela internet, mobilizadora de um ritmo de linguagem específica. Ela lamenta a diminuição do tempo de “incubação” do escritor, do espaço temporal para o exercício do músculo narrativo, ou seja, que o escritor tenha tempo para se enganar, melhorar, escrever em silêncio, aprender com os fracassos, ocasiões que possuem, segundo ela, algo muito nobre.

“Escrevi Temporada de furacões no último ano que morei em Veracruz […]. Custou muito escrevê-lo, porque entrei para a área de comunicação social da Universidade de Veracruz e, mesmo que eu ganhasse um bom dinheiro e isso me permitisse me manter, o trabalho era muito repetitivo e não me permitia escrever. Eu intuía que, para escrever um romance, tinha que me dedicar exclusivamente a ele, mas não me davam as bolsas do Fonca (Fondo Nacional para la Cultura y las Artes); prestava concursos e não passava em nada. No fim, decidi me dar minha própria bolsa. Economizei todo o dinheiro que consegui e me dediquei a escrever por um ano. ‘Se der certo, me dedico, se não, renuncio à bobagem de escrever e esqueço tudo’. O triunfo foi muito significativo porque eu não tive quem me sustentasse. O sucesso foi um alento porque me permitiu comprar tempo. Não que eu queira o sucesso pelo sucesso, mas viver dos livros é um sonho que eu tornei realidade. Temporada de furacões tem mais de 12 edições. Vendemos uns 35 mil [exemplares] desse livro só na Cidade do México. Páradais vai muito bem, tiveram que reimprimi-lo tanto no México quanto na Espanha.”

Atualmente, Fernanda está em um ano sabático em uma residência artística em Berlim, sem responder e-mails que tratem de qualquer assunto.

REPRESENTAR A MASCULINIDADE E SUAS VIOLÊNCIAS

Se Elaine Showalter, Sandra Gilbert e Susan Guber questionaram a adequação das estruturas conceituais aceitas na literatura, principalmente no que se refere à representação das mulheres quando a crítica literária feminista ainda engatinhava, vemos em Fernanda Melchor um olhar sofisticado sobre a masculinidade. Diferentemente das representações canônicas das personagens femininas, que, em geral, eram aprisionadas nos papéis de “anjo do lar” ou de “louca do sótão”, Melchor abre mão das causalidades imediatas ao construir suas personagens, evitando o maniqueísmo fácil quando há uma conjuntura histórica factual para endossar um reducionismo.

“Por que me dediquei muito aos homens? Não tenho uma resposta simples. Acho que desde muito pequena vivi muito rodeada de homens e meus melhores amigos sempre foram garotos. Eles são um mistério e me fascinam. Mesmo as coisas ruins que fazem me fascinam, no sentido de que tento compreender por que são tão diferentes de nós, mulheres, e ao mesmo tempo por que eu os compreendo tão bem.”

Esse cuidado ao esmiuçar os sedimentos das atitudes humanas, bem engendradas com as condições materiais e simbólicas do enredo, aparece em todos os seus livros, mas em Páradais, como já dito, surge de maneira central, ao abordar o pacto entre os incels (em inglês, aglutinação das palavras involuntary celibates, “celibatários involuntários”), grupos de homens cis heterossexuais que têm sido responsáveis por ataques violentos ou letais a muitos setores da sociedade civil, como nas notícias desoladoras de ataques às escolas no Brasil.

“O machismo em Temporada de furacões e em Páradais está interiorizado na mente de minhas personagens; já é uma instituição. Em minha casa, me diziam: ‘Você tem que fazer isso porque você é mocinha’. Eu lia Tom Sawyer ou Huckleberry Finn e queria ser como eles, porque aconteciam coisas interessantes com eles por serem homens e me custou muito encontrar outros modelos para ser mulher. Consegui quando comecei a criar minha enteada (a filha do meu parceiro naquela época), dos seis aos doze anos. Ser mãe postiça me mudou, porque me dei conta de quão injusta eu era comigo mesma e com ela. Não queria que minha filha crescesse pensando que era uma cidadã de segunda por ser mulher. Em Temporada de furacões analisei de que maneira eu mesma ajudei o machismo e repeti estereótipos injustos até para homens e mulheres”, diz.

LITERATURA COMO RELIGIÃO

Fernanda afirma, em uma das muitas entrevistas concedidas nos últimos anos, que “escrever um romance é estar habitada por essas personagens durante boa parte do tempo, o que pode chegar a ser perturbador e exaustivo, porque [no seu caso] são pessoas que carregam um ódio muito intenso, uma frustração muito grande”. Sem rejeitar o caráter de artifício, de esculpir e polir a linguagem, mesmo quando se trata da mais “crua”, Fernanda também vê nessa atividade uma experiência irracional. Sente-se um canal para que essas personagens falem, “como uma rádio, com a qual está sempre sintonizada”, cabendo a ela “aumentar ou diminuir seu volume […]. O mais religioso ou espiritual que tenho é o ato de escrever. Talvez eu o negue porque tenho vergonha, mas não creio em Deus, e por isso tento entender o que é o mal”.

Trata-se de um posicionamento interessante em um país tão propenso ao misticismo como é o México (que tem esse traço em comum com o Brasil). Não crer em Deus mas ainda assim aproximar-se da ideia de religião como ritual ao escrever pode falar das formas de viver (e de escrever) em queda livre contínua, com todas as misérias e violências embaixo do nariz, como aconteceu a Fernanda e acontece a escritores latino-americanos durante seus processos de escrita.

“Acredito que o mal foi feito pela natureza humana que engloba homens, mulheres e intersexuais, indefinidos, um tema polêmico. Me assumo feminista; antes me custava muito, mas agora eu faço isso porque quero dar muita visibilidade à violência contra as mulheres.”

 

NOTAS

*Todas as traduções das falas de Fernanda Melchor foram feitas por mim.

[nota 1]. No México, as fiestas patrias são celebradas em vários dias do mês de setembro, que marcam as etapas mais importantes da independência. Uma delas é o aniversário do chamado “Grito de Independência”, consumado por Miguel Hidalgo y Costilla na madrugada de 16 de setembro em 1810. Ao tocar o sino da igreja da cidade de Dolores Hidalgo naquela madrugada, Costilla convocou o povo à luta armada contra o domínio espanhol.