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“Para mim escrever é construir um brinquedo em permanente mutação. Sem o verniz academicista e o misticismo (mais negativo que positivo) que envolvem a Literatura, tudo que gira em torno dela é solar, musculoso e sanguíneo, e não importa que a citada dama adore passear pelo lado sombrio da vida.” A declaração é do escritor mineiro Alan Oliveira, que está lançando pela recém-criada Editora Gaivota o excelente Mil e quinhentos — O ano do desaparecimento, destinado ao público juvenil. O livro conta a história de dois irmãos órfãos que conseguem se alistar como grumetes numa das caravelas com que Pedro Álvares Cabral parte de Lisboa a caminho das Índias e acaba descobrindo o Brasil.

 

Acontece que o mais jovem dos irmãos se perde na mata, sofre um acidente e é deixado para trás, sendo criado pelos índios. O reencontro dos dois, 30 anos após, é dramático e ponto culminante de uma aventura muito bem elaborada e melhor ainda contada. A narrativa é enxuta, com descrições que pintam bem o ambiente em que a história se passa, sem arrastá-la. Além de obter uma perfeita dosagem entre fatos históricos e ficção, na narrativa o conflito de visões entre índios e europeus é bem explorado, sem derrapar para tonalidades moralistas.

 

O livro é belamente ilustrado por gravuras (manipuladas digitalmente) do francês Jean-Baptiste Debret e do alemão Hans Staden, que em diferentes épocas registraram fatos e costumes do Brasil primitivo. Completa-o um glossário de termos náuticos e científicos, mais uma cronologia histórica cobrindo o tempo em que a narrativa ficcional se passa.

 

Autor de diversos livros, Alan Oliveira recebeu menção honrosa no Concurso Nacional de Literatura Infantil Cruz e Souza, de Florianópolis/SC, ganhou o Concurso Nacional de Contos João Simões Lopes Neto, de Pelotas/RS, e o Concurso Nacional de Literatura Infantojuvenil João de Barro, de Belo Horizonte/MG.

 

Criada no final do ano passado, a Editora Gaivota é, na verdade, um desdobramento da Editora Biruta. Através de um bem cuidado tratamento gráfico, visa levar aos jovens, de forma lúdica, assuntos às vezes considerados complexos ou desinteressantes, abarcando o que há de melhor na literatura ficcional juvenil brasileira e internacional. A julgar por este Mil e quinhentos — O ano do desaparecimento, a editora está alcançando sua meta.