Capas 2017 1 

 

 

 

No ano passado, fizemos pela primeira vez a lista das melhores capas ou projetos gráficos do mercado editorial. A repercussão foi interessante e resolvemos repetir a dose: pedimos a nossos designers – Hallina Beltrão, Janio Santos e Maria Júlia Moreira – e nossas colaboradoras mais frequentes – Karina Freitas e Maria Luísa Falcão – que elegessem as melhores de 2017. São eles que pensam a imagem do Pernambuco nas versões impressa, online e redes sociais. O critério, mais uma vez, era livre.

 

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Hallina Beltrão

 

1. Coleção Argonautas (Ubu Editora)
Design: Elaine Ramos

A beleza e simplicidade das linhas geométricas e a monocromia dessa coleção fazem contraponto, e até causam uma certa surpresa visual, com os temas dos livros, que trazem entre os títulos A inconstância da alma selvagem, de Eduardo Viveiros de Castro e Políticas do sexo, de Gayle Rubin. 

 

2. Jaqueta Branca, de Herman Melville (Carambaia)
Capa: Estúdio Margem em parceria com Elizabeth Lee

As capas da edição de Jaqueta branca, de Herman Melville, foram desenvolvidas através de uma técnica conhecida como cianotipia, que é um processo de cópia fotográfica de desenhos, plantas, mapas etc. sobre papel tratado com sais de ferro. O Estúdio Margem mostra como foi aplicada essa técnica para as capas do livro aqui. O desenho das ondas foi composto pelo Estúdio Margem em parceria com a artista Elizabeth Lee, que revelou a série completa em seu ateliê.

 

3. Noites florentinas, de Heinrich Heine (Carambaia)
Projeto gráfico: Mateus Valadares

Essa edição do poeta alemão Heinrich Heine tem uma capa dupla sobreposta, a primeira é uma capa rígida que traz a tipografia com título do livro e nome do autor. As letras vazadas da primeira capa mostram a ilustração que está na segunda, provocando uma simbiose interessante entre o texto e a imagem. 

 

4. Penúltimo olhar sobre as coisas, de Miró da Muribeca (Mariposa Cartonera)
Ilustrações: Paulo do Amparo

Capa linda em serigrafia, com ilustrações de Paulinho do Amparo, sobre papelão, tem a tiragem limitada de 100 exemplares. Nenhuma capa se repete.

 

5. Macunaíma, de Mário de Andrade (Ubu Editora)
Ilustrações: Luiz Zerbini
Projeto gráfico: Elaine Ramos

Linda, essa edição de Macunaíma! As ilustrações de capa e internas de Luiz Zerbini foram feitas com as próprias plantas e objetos entintados que são colocados na prensa, imprimindo e dando relevo com sua textura ao papel. Para obter o resultado final, ele usou a monotipia, uma técnica de impressão muito simples, em que o resultado não é um duplicado fiel do desenho ou mancha original, na passagem para o papel (impressão), as tintas se misturam fazendo surgir efeitos imprevisíveis.

 

 

Janio Santos

 

1 paulo coelho 

Brida, Manual do guerreiro da luz, O diário de um mago, Onze minutos e Veronika decide morrer (Relançamentos de Paulo Coelho – Selo Paralela, Companhia das Letras)
Capas: Alceu Chiesorin Nunes

Com poucas cores e traços instáveis, as ilustrações acompanham e complementam os títulos, criando uma unidade para esses relançamentos. Destaque para a fluorescência de O diário de um mago. Dentre as cinco, é a de que mais gosto.

 

2 nos 

Nós, de Levguêni Zamiátin (Editora Aleph)
Capa: Pedro Inoue

O título da obra é muito pequeno, e isso deixaria espaço para explorar toda a capa, mas a solução de ilustrar apenas com o título ficou muito boa. Um NÓS imponente, composto apenas de retas e ocupando toda a capa reflete bem o conteúdo distópico da obra.

 

3 rev russa

A Revolução Russa, de Sheila Fitzpatrick (Todavia)
Capa: Bloco Gráfico

No ano do centenário da Revolução Russa, foram diversas publicações e lançamentos sobre o tema. Dentre as capas que vi, gostei da desconstrução do título que foi feita nessa – assim como as cores e a tipografia que também remetem ao Construtivismo russo.

 

Ó o globo!, de Ana Beatriz Manier (Editora Valentina)
Capa: Elmo Rosa

Um símbolo carioca que ganhou biografia. A capa simula a embalagem icônica do Biscoito Globo, tanto as fontes quanto as cores e a textura do papel. No centro, um corte circular, mostrando a imagem interna da sobrecapa: um biscoito emoldurando o Morro Dois Irmãos.

 

7 angolajanga

 

Angola Janga - uma história de Palmares (Editora Veneta) 
Capa: Marcelo D'Salete

Geralmente, as capas de HQ trazem algum personagem na capa, o que não aconteceu nessa, que segue outro caminho e consegue um ótimo resultado. A primeira coisa que me chamou a atenção foi o título. Gostei das letras pontiagudas, como se demarcassem seu lugar entre fortalezas, florestas e lanças. Uma capa instigante.

 

5 1987

1987 – De fato, de direito e de cabeça, de André Gallindo e Cássio Zirpoli (Editora Onze Cultural)
Capa: Fellipe Rocha

O livro trata sobre o campeonato brasileiro mais polêmico da história. Passou-se 30 anos e ainda é pauta de programas, debates e audiências na justiça. Gostei da composição da capa, sobretudo da disposição do “1987”: bem destacado, aplicado verticalmente, com cores e fonte que seguem um padrão da década de 1980.

 

*menção honrosa

 

6 fernando pessoa 

Fernando Pessoa – Antologia Poética, org. de Cleonice Berardinelli (2016)
Capa: Anderson Junqueira e Victor Burton

Se tivesse visto essa capa no ano passado, certamente estaria na minha lista de 2016. Para cada letra do autor, um azulejo português. Pode até parecer óbvio fazer essa ligação, mas a forma como foi aplicado deixou o resultado excelente.

 

 

Karina Freitas

 

1. Jaqueta branca, de Herman Melville (Editora Carambaia)
Capa: Estúdio Margem em parceria com Elizabeth Lee

As capas que o Estúdio Margem criou para Jaqueta branca ou O mundo em um navio de guerra, de Herman Melville, têm a viagem marítima do personagem principal do livro e a água como elemento fundador. Utilizando a cianotipia, cada um dos 1.000 exemplares do livro é composto por uma gravura única, revelada manualmente através da interação de compostos químicos, água e luz ultra-violeta. Desenvolver mil capas manualmente é um projeto superousado e o resultado ficou incrível. 

2. Macunaíma, de Mário de Andrade (Ubu Editora​)
Ilustrações: Luiz Zerbini
Projeto gráfico: Elaine Ramos

Com projeto gráfico de Elaine Ramos e ilustrações de Luiz Zerbini, essa nova edição de Macunaíma pela Editora Ubu é primorosa. A vegetação tropical que empresta texturas e formas às monotipias de Zerbini está presente na capa e no miolo do livro, estabelecendo um profundo diálogo com o texto de Mário de Andrade e seu procedimento antropofágico.

 

3. A pequena prisão, de Igor Mendes (n-1 Edições)
Projeto gráfico: Érico Perreta

O projeto gráfico de Érico Perreta para o livro A pequena prisão, de Igor Mendes, é radical e inteligente, perfeito caso de uma capa que traduz uma experiência. O livro é um mergulho no sistema penitenciário brasileiro a partir da experiência de Igor no presídio de Bangu, preso político pelo seu envolvimento nas manifestações de 2013.

 

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4. Da poesia, de Hilda Hilst (Companhia das Letras)
Capa e projeto gráfico: Elisa von Randow

Com vermelho intenso, tipografia elegante e belíssima fotografia, a capa da antologia Da poesia, lançada pela Companhia das Letras, capta toda intensidade e potência contidas na poesia de Hilda.

 



5. O martelo, Adelaide Ivánova (Edições Garupa)
Projeto gráfico e capa: Amanda Cinelli, Eduardo Moura e Juliana Travassos

O martelo, de Adelaide Ivánova, obriga o leitor a sujar as mãos de vermelho. Surpreendente, simples e sofisticado artifício para apresentar a poesia de Adelaide, que definitivamente nos faz sair transformados e traz à tona temas cortantes como o estupro, violência e sexualidade feminina.

 

Maria Júlia Moreira

 

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1. Estórias da rua que foi balsa: trilhas e intuições na Educação Popular em Saúde, de Ernande Valentin do Prado, Eymard Mourão, Julio Alberto Wong Un, Maria Amélia Medeiros Mano e Mayara Floss​
Editora: Guayabo Edições
Projeto gráfico: Patrícia Rezende e Valquíria Rabelo

Se já é uma exceção à regra encontrarmos por aí livros de cunho artístico lançados com atenção e cuidado aos aspectos estéticos e estruturais, que dirá um livro que trata de medicina? Ainda assim, não é lá tão inovador inserir esse livro na lista de melhores capas do ano — ele já recebeu o devido reconhecimento no 59º Prêmio Jabuti, em que foi eleito o grande vencedor na categoria de Projeto Gráfico. Mas a colocação redundante têm sua razão de ser: chamar a atenção para o trabalho do Estúdio Guayabo, de Belo Horizonte, que no decorrer de 2017 desenvolveu projetos ótimos em editorial — como o livro de poemas com ares de fanzine Uma mulher, de Flávia Peret, com sua solução simples e sofisticada, ou a edição ilustrada em capa dura de Sobras Completas, de Rovino Machado, todos lançados de forma independente. (Detalhes dos projetos podem ser vistos aqui)

2. A pequena prisão, de Igor Mendes (n-1 edições)
Projeto gráfico: Érico Perretta

Acho os lançamentos da n-1 muito inspiradores, todos com algum tipo de elemento-surpresa. Essa edição, em especial, saltava aos olhos no meio da livraria: dentro de uma marmitinha claustrofóbica, um livro que retrata o sistema carcerário brasileiro. O formato em si já obriga a violá-lo e gera uma relação de intimidade e descoberta ao leitor (que no corpo-estranho de alumínio não tem acesso a nenhum tipo de sinopse ou indicativo do contexto, a não ser pelo título em vermelho na tampa). Os textos são os relatos dos 6 meses em que o autor Igor Mendes ficou preso no Complexo Penitenciário de Gericinó, em Bangu, Zona Oeste do Rio de Janeiro, em decorrência de seu envolvimento nas manifestações de 2013.

 

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3. Jacaré, não!, de Antonio Prata (Ubu Editora)
Ilustrações: Talita Hoffman

Como meu trabalho gravita ao redor de ilustração, achei que valia a pena mencionar uma das minhas melhores descobertas e maiores inspirações do ano: o trabalho da designer e ilustradora Talita Hoffman. Jacaré, não!, de Antonio Prata, é o livro que marca o primeiro lançamento infantil da Ubu Editora, e vem com uma contracapa que vira pôster. No livro, as ilustrações de Talita são supercoloridas e superdetalhadas, com ambientes por vezes estruturalmente surreais (uma característica forte também dos seus trabalhos em pintura). Dentro do meio literário, ela foi responsável também por algumas das melhores capas da revista Quatro Cinco Um!

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4. Anos de formação: os diários de Emilio Renzi, de Ricardo Piglia (Editora Todavia)
Produção gráfica: Aline Valli
Capa: Pedro Inoue

Embora essa seja uma lista de melhores capas, um livro não é feito só pela capa, e embora essa capa não tenha essencialmente nada de especial, o esforço coletivo da Editora Todavia, com supervisão da produtora gráfica Aline Valli, em fazer um livro com uma brochura confortável, maleável, que permite intimidade com o livro, acaba sendo muito mais importante pra experiência da leitura do que edições com papéis diferentões e design inovador. Dá pra saber um pouco do processo nesse vídeo publicado no site da editora (O livro que abre), fica a esperança de que o primor pela qualidade material do livro desencadeie capas mais ousadas no futuro!

 

 

Maria Luísa Falcão

 

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A pedra, Yuri Pires (Editora Lote 42)
Projeto Gráfico: Gustavo Piqueira

O projeto gráfico desse livro traz como sobrecapa o resultado de uma impressão de pedra sobre papel carbono. Além de ser uma ótima solução, esteticamente, torna cada edição única.

 

Acqua alta, de Nik Neves (Bebel Books)
Capa e ilustrações: Nik Neves

Explora o estilo de ilustração contido nessa narrativa formada por imagens. 

 

Elefantes dentro de um sussurro, de Marcelo Reis de Mello (Cozinha Experimental / Azougue Editora)
Projeto Gráfico: Barateza Duran, Germano Weiss e Marcelo Reis de Mello

A sobreposição existente na capa, através de impressão em papel vegetal traz uma singularidade especial ao impresso.

 

CORPO A CORPO: a disputa das imagens, da fotografia à transmissão ao vivo (Editora IMS)
Imagens: Bárbara Wagner, Jonathas de Andrade, Letícia Ramos, Mídia Ninja, Sofia Borges

Essa publicação se refere à uma exposição realizada atualmente pelo Instituto Moreira Salles, e se relaciona diretamente ao conteúdo por dispor de 6 opções diferentes de capas e cada uma delas referenciando aspectos da exposição.


Macunaíma, de Mário de Andrade (Ubu Editora)
Ilustrações: Luiz Zerbini
Projeto gráfico: Elaine Ramos

O relançamento de um grande clássico brasileiro com um projeto gráfico impecável e original, em que não se tratam de representações humanas mas dos objetos e folhas entintados e impressos.