Já conta com quase seis mil assinaturas uma petição online dos escritores e profissionais do livro, que se posicionam “pela democracia”. Entre elas, estrangeiros como o filósofo esloveno Slavoj Žižek e o best-seller cubano Leonardo Padura. O texto do manifesto aponta: “O retrocesso e a perda dos valores democráticos não interessam à maioria do povo brasileiro, no qual nos incluímos como profissionais dedicados aos livros e à leitura. Ao percebermos as conquistas democráticas ameaçadas pelo abuso de poder e pela violação dos direitos à privacidade, à livre manifestação e à defesa”.
Nomes como Alberto Mussa e Sérgio Sant'Anna, em suas redes sociais, se posicionaram contra a petição. Sant'Anna escreveu que prefere se “manifestar individualmente” e completou: “A democracia é um bem fora de questão, enquanto a violência é também um mal fora de questão. Que tal um manifesto pela paz e legalidade.”
Atualização: o escritor Sérgio Sant'Anna, pouco após a publicação desta matéria, postou no seu perfil do Facebook: "Cansado de me manifestar isoladamente, quixotescamente, decidi assinar o manifesto dos escritores, editores e profissionais do livro pela democracia".
O Pernambuco conversou com alguns dos escritores e profissionais do livro que assinaram a petição. Eis os seus depoimentos:
Milton Hatoum, escritor:
“A razão de ter assinado está no texto do manifesto. É preciso combater a corrupção e eu sou totalmente a favor da Lava Jato, mas as operações da PF são seletivas e, em alguns casos, abusivas. Grampear e divulgar a conversa íntima de uma mãe com seu filho é uma aberração (em relação à conversa de telefone divulgada entre Dona Mariza e Lulinha, mulher e filho do ex-presidente Lula). Conduzir sob coerção uma pessoa que não se nega a depor é um ato arbitrário. Os crimes cometidos pelos políticos do PSDB paulista (cartel do metrô, roubo na merenda escolar) não tiveram essa publicidade. Aliás , as conversas telefônicas entre os tucanos suspeitos, se foram grampeadas, não foram divulgadas. O senador Aécio Neves foi citado várias vezes por diferentes delatores, e sequer foi chamado para depor. É inaceitável que o presidente da Câmara (Eduardo Cunha), um dos maiores criminosos do Congresso, presida o processo de Impedimento da presidente Dilma. É também inaceitável a participação no Conselho de Ética de deputados que estão sendo investigados pelo Judiciário. A importância da Lava Jato é inquestionável, mas a corrupção está enraizada em quase todos os partidos e instituições. Triste é o país que elege um juiz como herói. Heróis são as mulheres e homens que acordam de madrugada para ir ao trabalho e passam quatro horas por dia num ônibus ou no metrô. Quem anda de metrô em SP nas horas de pico conhece muito bem a desfaçatez dos 20 anos de desgoverno do PSDB. Os jovens estudantes que apanharam da polícia também sabem. E todos os que sofreram por mais de um ano com a falta d' água, idem. Não se trata de mouros e cristãos, e sim de Justiça plena. Como dizia Machado: 'eu aceito tudo, menos ser enganado'”
Paulo Werneck, editor:
"Porque há uma tentativa de caracterizar princípios democráticos básicos, como o habeas corpus, o direito à privacidade e a presunção de inocência, como se fossem privilégios. Porque existe no ar a tentativa, ainda que ridícula, de reabilitar o macartismo. Porque é bonito ver os editores mobilizados pelos valores democráticos. E porque, como profissionais do livro, sabemos que o atual déficit da leitura no Brasil, que retroalimenta a ascensão autoritária, assim como o lugar periférico que o livro ocupa na nossa sociedade, são efeitos diretos da ditadura de 1964-85."
Raimundo Carrero, escritor
“Assino pela democracia. Mesmo quando observamos que muita gente e a mídia, principalmente aproveita a democracia para tumultuar e difamar. Viva a Democracia”
Julián Fuks, escritor
"Qualquer latino-americano minimamente informado conhece as consequências terríveis que podem ter as rupturas democráticas – mesmo quando efetuadas dentro de uma aparente legalidade e contando com o apoio de uma ampla massa. Muito se assemelha ao passado a irresponsabilidade com que têm agido agora a imprensa, o congresso, a justiça. Por mais indefensável que seja este governo, defendê-lo agora é um imperativo ético: disso depende a legitimidade do nosso sistema político ainda tão novo, ainda tão frágil."
Denise Bottmann, tradutora
“Disputas políticas dentro de um quadro institucional legítimo fazem parte da vida democrática. Neste momento, o fundamental é defender o estado de direito que permita a preservação da vida democrática no país. O fundamental é que se garanta a legalidade democrática em todas as instâncias e níveis do estado. Por isso, meu repúdio a qualquer tentativa aberta ou veladamente golpista contra o governo e a presidenta Dilma Rousseff."
Elvira Vigna, escritora
"É tão evidente essa escrotidão que estão armando que nem precisa eu explicar ter assinado."